Washington pode desistir de escudo balístico por acesso ao Oriente Médio
Jornal do Brasil
Algumas semanas antes da viagem do presidente americano, Barack Obama, a Moscou, em julho, a Rússia informou que as conversações com o governo americano sobre a redução de seu vasto arsenal de armas nucleares estão progredindo de maneira construtiva. Ratificar um documento que substitua o Tratado Estratégico de Redução de Armas de 1991 (Start I), antes do vencimento de seu prazo no dia 5 de dezembro, marcaria uma aproximação significativa nas relações entre as duas maiores potências nucleares do mundo.
Os dois lados estão buscando minimizar suas diferenças antes do encontro de Obama com o presidente russo, Dmitri Medvedev, em Moscou, entre os dias 6 e 8 de julho. Ambos os países já manifestaram o desejo de reatar relações, que deterioraram muito durante o último governo Bush. A próxima rodada de negociações deve ocorrer na terça-feira e quarta-feira em Genebra.
Moscou pretende usar a carta nuclear para convencer os EUA a desistirem de seu escudo antimíssil na Europa. As próximas reuniões também devem focar em melhorar a cooperação entre os países, como por exemplo, combater a proliferação nuclear pelo mundo.
Oriente Médio
De acordo com informações obtidas pelo think-tank americano Stratfor, Washington estaria disposta a desistir do escudo de mísseis balísticos no Leste Europeu se Moscou providenciar garantias em questões relacionadas ao Afeganistão e ao Irã, prioridades do governo Obama.
A administração americana sabe que a Rússia tem ligações fortes e duradouras como o Afeganistão e grupos extremistas. Não há provas de que a Rússia está envolvida naquele país, mas existe essa possibilidade, sugerem analistas da Stratfor. Com o Paquistão mergulhado no caos, os EUA ainda têm interesse em usar rotas logísticas suplementares para abastecer suas tropas no Afeganistão e Paquistão, e a única alternativa real é atravessando uma região considerada de influência russa na Ásia Central ou pela própria Rússia, embora ela já tenha recusado considerar o uso dessas rotas internas.
Há também a questão do Irã. Moscou tem oferecido seu apoio retórico ao país em anos recentes.
Também ajudou a construir uma planta nuclear iraniana em Bushehr e ameaça com frequência ajudar ainda mais Teerã em suas ambições nucleares. Agora que Obama se mostra obstinado em dialogar com o Irã, apesar do provável segundo turno de Mahmoud Ahmadinejad, Washington quer evitar que a Rússia interfira ou piore as tensões.
Sem qualquer sinal de que o influente Vladimir Putin largará as rédeas do poder no futuro próximo, o país deve continuar tentando restituir seu status de superpotência, contanto que seus cidadãos consigam resistir ao impacto da crise financeira e afastar temores de que liberdades recémadquiridas e a prosperidade relativa terão vida curta.
Segundo Matthew Chance, correspondente da CNN em Moscou, antes do declínio econômico, o preço do petróleo e gás – commodities abundantes na Rússia – levou o país a um nível de prosperidade incomum. O Kremlin passou a ser levado mais a sério no palco internacional, inserindo-se nas negociações de paz no Oriente Médio, a questão nuclear iraniana e diversos outros assuntos.
A confiança econômica adquirida também encorajou a Rússia a afirmar sua presença em países vizinhos, da antiga União Soviética. Muitos desses Estados querem se aproximar da Otan e da Europa, mas a Rússia pretende mantê-los dentro da sua esfera de influência.
O exemplo mais evidente, afirma Chance, foi a guerra com a Geórgia no ano passado. Após a ex-república soviética ter anunciado sua intenção de se juntar à Otan, a Rússia lançou uma ofensiva militar debilitante, para a decepção da comunidade internacional.