Começa a retirada das tropas norte-americanas do Iraque
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Em São Paulo
Militares norte-americanos começaram a carregar equipamentos para dar início a retirada das tropas dos EUA das cidades e centros urbanos do país. Ao concluir essa etapa, os EUA entregam formalmente as tarefas de segurança nestes locais às forças iraquianas.
A retirada acontece seis anos e três meses depois de George W. Bush declarar o início do ataque norte-americano ao Iraque. Este é o primeiro passo para a retirada total das forças estrangeiras que ocupam o Iraque desde a operação militar norte-americana de 2003, que atacou o país sem consentimento da ONU e baseada em frágeis argumentos sobre o controle de armas de destruição em massa pelo governo do então presidente Saddam Hussein.
Segundo o acordo assinado no final de 2008 entre Bagdá e Washington (com George W. Bush ainda no poder), a partir desta terça-feira os soldados norte-americanos deixarão suas funções de segurança nas cidades iraquianas, mas ainda continuarão em bases militares dos EUA no país.
Uma vez fora das cidades, as tropas americanas só voltarão a entrar em áreas urbanas se as forças de segurança iraquianas pedirem ajuda. O mesmo documento estipula que a data limite para uma retirada total das tropas americanas do Iraque é 31 de dezembro de 2011.
Responsabilidade iraquiana
Sem os militares dos EUA, forças nacionais iraquianas assumem a tarefa de impedir as atividades da Al Qaeda e controlar a violência sectária no país - um objetivo que o primeiro-ministro iraquiano, Nuri al Maliki, qualificou na última semana como "um desafio".
"Garantimos que as forças iraquianas estão prontas para a missão, apesar de algumas violações das medidas de segurança estabelecidas, e garantimos que o país está mais estável e seguro", disse Maliki.
A violência diminuiu significativamente desde os confrontos de 2006 e 2007. No último mês de maio, o país registrou o menor número de mortes violentas desde o início da invasão americana, que derrubou o regime de Saddam Hussein. Contudo, ataques a bomba realizados na última semana mataram mais de 150 pessoas no país - uma prova de que o país não está livre da violência dos últimos anos.
Não existem dados oficiais sobre o número de mortos, mas organizações independentes estimam que 4.316 soldados americanos morreram no Iraque desde o início da ofensiva militar em 2003 (segundo icasualties.org), enquanto mais de 100.000 civis iraquianos foram mortos em meio à violência no país no mesmo período (segundo Irak Body Count).
Incertezas
Para a diplomacia dos Estados Unidos, que foram alvo de críticas pelo modo como a invasão foi realizada desde seu começo, seria importante vitória que o Iraque conseguisse uma estabilidade sustentável, também porque se localiza em uma região marcada por outras instabilidades: a questão entre israelenses e palestinos e a problemática nuclear no Irã, principalmente.
Mas esse é um caminho cheio de incertezas. Além das questões de segurança, o Iraque enfrenta problemas graves em outras frentes, desde a reconciliação nacional depois da ditadura sunita de Saddam Hussein ao reestabelecimento dos serviços básicos do país, passando pela corrupção em seu sistema político e pelos entraves na elaboração de uma base legal para a futura exploração do petróleo iraquiano, importante fonte de riqueza para um país que passou os últimos anos invadido.
O jornal "The New York Times" resume a preocupação de americanos e iraquianos: "Como quase todo mundo já percebeu a essa altura, invadir o Iraque é muito mais fácil do que sair de lá".