Áreas isoladas dependem da FAB
Emilio Sant`Anna, COCAL DA ESTAÇÃO (PI) – O Estado de SP
Um grande círculo se forma em meio ao que já foi um campo de futebol. São os moradores de Frecheiras da Lama, comunidade a cerca de 20 quilômetros de Cocal, no Piauí, protegendo as cestas básicas e os medicamentos enviados pela Defesa Civil Estadual do vento e do barro que o helicóptero da Força Aérea Brasileira (FAB) levanta ao decolar. Ontem, as equipes de busca e salvamento continuaram a sobrevoar as áreas atingidas pelo rompimento da Barragem de Algodões 1.
Sessenta famílias continuam isoladas. Até ontem, tinham apenas uma cesta básica para os próximos dias. Quando o Black Hawk da FAB apontou por cima das árvores que restam em pé, não demorou para a fila se formar.
Uma das primeiras da fila é Maria Angelina de Souza, de 43 anos. Recém-operada, ela aguarda as estradas serem reabertas, ou pelo menos a água secar, para voltar ao médico. Com fortes dores e sem remédios, está à procura das enfermeiras que vêm no helicóptero. Ela aponta para uma parede branca e mostra onde ficava sua casa. "Era ali. Ainda tem aquela parede, olha lá", diz.
Ao seu lado, Maria José do Nascimento, de 57 anos, observa calada. A casa dela também foi embora com a água do Pirangi. Não está na casa de ninguém. Ela e o marido, Raimundo Nonato Pereira do Nascimento, de 66 anos, improvisaram o abrigo na única construção que restou em pé em seu terreno. "Estamos morando no chiqueiro (curral) dos bodes", afirma.
O helicóptero da FAB segue para outra comunidade, Angico Branco, a menos de 10 quilômetros dali. A situação é pior e a população partiu para Boíba, comunidade vizinha que se salvou por estar em um local mais alto. Da pequena igreja da comunidade, restam algumas paredes.
Algumas casas caíram antes mesmo de a barragem estourar, por causa da forte chuva.
Francisco Assis dos Santos, de 25 anos, se encosta no alpendre de sua casa e aponta para o terreno vazio. O alpendre foi só o que sobrou. No terreno ficava a construção de quatro cômodos.
"Estava dormindo quando vi a casa vindo abaixo aos poucos", diz ele.
No caminho de volta para a pista improvisada, um sargento da FAB aponta para o leito do Pirangi. "Está vendo ali? Cem metros para cada lado não sobrou nada."