Acordo, firmado há três meses, permitia aplicação da lei islâmica e fora criticado por Pentágono, que temia fortalecimento de radicais
DA REDAÇÃO
O governo do Paquistão iniciou ontem uma escalada da ofensiva na região do Swat e encerrou oficialmente o fracassado acordo de paz firmado em fevereiro, que permitia a imposição da sharia (lei islâmica) na região. A operação, iniciada no último dia 26 em reação ao avanço do Taleban, já deixou pelo menos 200 mortos.
Um dos mortos é filho do clérigo radical Sufi Muhammed, artífice do acordo do Swat. Fundador do movimento pró-sharia TSNM, atualmente comandado por seu genro e alinhado ao Taleban, Muhammed abandonou a mediação após o início da ofensiva.
Com bombardeios e artilharia pesada, as mortes devem aumentar. Em comboios, moradores fogem da zona conflagrada. Os combates podem forçar 500 mil pessoas a deixarem a região, alerta a ONU. A retomada do conflito já deixou 50 mil flagelados desde o início da semana, quando o Exército relaxou o toque de recolher para permitir a saída de civis.
Dezenas de pacientes feridos à bala e por estilhaços de bombas, incluindo crianças, foram atendidos ontem no hospital de Mardan, no distrito de Malakad, que engloba o Swat.
Gilani anunciou pacote de 1 bilhão de rúpias (R$ 43 milhões) para os flagelados do conflito e pediu apoio de "todas as forças políticas e da sociedade civil" aos militares.
Soberania
"Aprovamos o pacto do Swat para conseguir a paz, apesar da pressão doméstica e internacional, mas não o respeitaram", justificou Gilani, enfatizando a soberania da decisão, que atende anseios americanos.
O secretário da Defesa dos EUA, Robert Gates, assegurou ontem a soldados americanos recém chegados ao Afeganistão que eles não serão enviados a combates no país vizinho, tranquilizando Islamabad.
Analistas militares americanos consideram as tropas paquistanesas mal treinadas e pouco equipadas para a missão no Swat. Mesmo a vantagem numérica - 15 mil militares contra estimados 7.000 insurgentes - tem efeito limitado nesse tipo de conflito, que usa táticas de guerrilha.
A escalada da ação militar coincide com a visita do presidente Asif Ali Zardari a Washington, onde se reuniu com o americano Barack Obama e o afegão Hamid Karzai para discutir o avanço dos extremistas.
O discurso nacionalista ganha força entre os paquistaneses, insatisfeitos com a insegurança. O apoio às ações americanas contra radicais islâmicos agravou as tensões internas no país, assolado por ataques terroristas. A violência, que pesou na queda do ditador Pervez Musharraf, persiste após a redemocratização, em 2008.
O recente avanço do Taleban, que assumiu o controle de áreas a apenas 100 km da capital, Islamabad, expôs a fragilidade do acordo no Swat, selado em fevereiro. O Pentágono tinha recebido com ressalvas o cessar-fogo, alertando sobre o risco de fortalecimento dos radicais na região.
O Exército manteve inicialmente a "pausa operacional" para permitir negociações locais, em uma estratégia criticada duramente pela chancelar americana, Hillary Clinton. Líderes tribais chegaram a anunciar um recuo do Taleban, que deixaria a área para preservar o acordo pró-sharia. Com agências internacionais