No momento em que o novo governo israelense tentava reforçar laços diplomáticos com uma visita do presidente Shimon Peres aos Estados Unidos e do ministro de Relações Exteriores Avigdor Lieberman à França, especialistas em direitos humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) interrogavam ontem autoridades israelenses sobre centenas de acusações contra as forças de segurança do país, que teriam torturado detidos palestinos.
O Comitê da ONU Contra a Tortura denunciou a existência em Israel de um centro de detenção secreto e sua utilização pelos serviços secretos israelenses para realizar interrogatórios. A chamada "instalação 1391", situada em "um local indeterminado de Israel e inacessível para o Comitê Internacional da Cruz Vermelha", foi uma das acusações apresentadas pelos especialistas do comitê, reunidos em Genebra.
– O comitê recebeu queixas sobre torturas, maus tratos e condições de detenção deficientes nessas instalações – assinalou um porta - voz da organização.
Em resposta por escrito, Israel afirmou que o país não usa esse centro "há anos" e que nenhum interrogatório ocorre no local.
Durante a sessão com autoridades do governo israelense, o presidente do comitê da ONU, Fernando Mariño Menéndez, perguntou também sobre casos de violência cometidos por colonos judeus nos territórios ocupados e a disparidade da maioridade legal segundo a legislação de Israel, que é de 18 anos para os israelenses e de 16 para os palestinos.
Faixa de Gaza
Dando continuação às críticas, um grupo nomeado em fevereiro pelo secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, divulgou ontem relatório no qual responsabiliza Israel por sete ataques contra escolas e instalações da entidade durante a ofensiva militar israelense na Faixa de Gaza, entre 27 de dezembro e 17 de janeiro.
"A comissão considerou que o governo de Israel é responsável pelos mortos e feridos dentro das instalações das Nações Unidas, assim como pelos danos físicos causados às instalações e propriedades da ONU neste incidente", indica o documento.
Em entrevista coletiva, Ban Ki-moon assegurou que tem a intenção de pedir indenizações ao governo israelense pelos mais de US$ 10 milhões em danos causados pelos projéteis de seu exército às instalações da entidade.
Israel criticou de forma dura as conclusões do relatório, que foi apresentado ao Conselho de Segurança, e o caracterizou como "tendencioso".
"O Estado de Israel rejeita a crítica [...] e ignora os fatos apresentados perante o comitê", explica um comunicado da chancelaria israelense, acrescentando também que "o relatório ignora completamente os oito anos de ataques contra Israel que precederam a decisão de iniciar a operação, e ignora as difíceis circunstâncias impostas pelo Hamas e seus métodos de operação armada".
Joe Biden
O vice-presidente americano Joe Biden também não poupou Israel ao discursar durante a conferência anual do principal grupo lobista judaico, o Comitê de Negócios Públicos Americano-Israelenses (Aipac), nos Estados Unidos. Biden disse que Israel deve aceitar a futura existência de dois Estados convivendo lado a lado, um israelense e palestino, e interromper a construção de assentamentos judaicos em terras palestinas.
– Vocês não vão gostar de me ouvir dizer isso, mas não construam mais assentamentos, desmontem os existentes e permitam liberdade de movimento aos palestinos – disse ele, que também criticou grupos militantes palestinos e pediu o fim da violência contra Israel.
As declarações de Biden foram feitas horas antes do encontro entre os presidentes dos Estados Unidos, Barack Obama, e de Israel, Shimon Perez, em Washington.