Os aviões militares paquistaneses bombardearam nesta segunda-feira diversos alvos do grupo islâmico radical Taleban em um reduto próximo à capital Islamabad. A ofensiva militar, segundo o governo paquistanês, deixou 700 militantes talebans mortos nos últimos quatro dias e afugentou o grupo da região.
A grande ofensiva militar foi lançada pelo Exército paquistanês contra os insurgentes talebans no último dia 26 de abril no distrito de Baixo Dir e no vizinho Buner, ambos na região do vale do Swat. Os ataques causaram também a fuga de cerca de 500 mil civis paquistaneses nos últimos dias, 360 mil somente na última semana, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur).
A agência da ONU (Organização das Nações Unidas) alertou nesta segunda-feira para um "deslocamento em massa" de civis, que lotam as estradas rumo a qualquer lugar que os receba. O Acnur afirma ainda que não tem condições de abrigar tantos deslocados.
Embora a situação dos centenas de milhares de deslocados possa representar a reprovação da opinião pública, a ofensiva paquistanesa em Swat já ganhou a aprovação das forças americanas. Segundo o comando militar dos Estados Unidos, os recentes ataques paquistaneses expulsa os insurgentes de seus redutos em cavernas e esconderijos de onde planejam ataques terroristas às forças americanas e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) que combatem o grupo no vizinho Afeganistão.
O governo paquistanês lançou a ofensiva após encerrar o acordo de paz alcançado entre as autoridades provinciais e os talebans do vale de Swat, em fevereiro passado. O pacto, que previa a aplicação da sharia (lei islâmica) em vários distritos do norte em troca da pacificação do Vale do Swat, tinha sido aprovado pelo Parlamento nacional e ratificado pelo presidente paquistanês, Asif Ali Zardari.
Antes de suspender formalmente a trégua, as forças de segurança já tinham iniciado ofensivas em Swat, onde centenas de talebans morrem diariamente, segundo a versão militar. As tropas também lançaram operações nos distritos vizinhos de Dir e Buner, a cem quilômetros da capital Islamabad.
O ministro de Interior paquistanês, Rehman Malik, afirmou nesta segunda-feira que 700 talebans morreram nos últimos quatro dias na região de Swat.
Em discurso ao Parlamento, o primeiro-ministro Yousuf Raza Gilani afirmou que o Exército limpou a principal cidade da região, Mingora, das minas plantadas pelos insurgentes.
"A operação continuará até o último taleban", disse Malik. "Nós não demos a eles uma chance. Eles estão fugindo. Eles não esperavam, uma ofensiva deste tamanho."
O número de vítimas apresentado pelo governo não pode ser verificado de maneira independente, já que o governo proíbe o acesso a jornalistas, O governo não concedeu nenhum dado sobre vítimas civis, mas o tamanho da fuga de paquistaneses sugere que pode ser alto.
Deslocados
Segundo Arianne Rummery, porta-voz do Acnur, um total de 360.600 indivíduos foram registrados nos campos da agência e fora deles, como parte de um novo fluxo procedente de Swat, Burner e Baixo Dir desde 2 de maio.
Segundo Rummery, o governo da Província da Fronteira Noroeste estabeleceu, com a ajuda do Acnur para os Refugiados, 29 pontos de inscrição para os deslocados, principalmente nas cidades de Mardan e Swabi. "Menos de 20% estão nos campos, enquanto 80% estão fora deles."
Em um acampamento próximo à cidade de Mardan, ao sul da zona de batalha, centenas de desabrigados aguardavam por horas para serem registrados pela agência --medida necessária antes de receberem abrigo e comida.
"Neste acampamento, eu não estou vendo nada que nos dará quando alívio", disse um civil paquistanês, Iftikiar Khan, que disse temer que as estruturas da agência sejam insuficientes. Como a maioria dos refugiados do conflito, Khan espera conseguir abrigo com familiares.
As vítimas do conflito relataram aos voluntários as dificuldades de conseguir um meio de locomoção para chegar a zonas mais seguras e que tiveram que pagar tarifas exorbitantes (de várias centenas de dólares) para alugar algum veículo.
O Acnur instalou ainda 12 centros para registrar os novos refugiados em três distritos (Mardan, Swabi e Charsada), mas considera que não é suficiente e planeja abrir 75 mais, assim como centros humanitários para as pessoas que permaneçam fora dos campos de refugiados. No total, a agência das Nações Unidas abriu e administra 11 acampamentos que abrigam 93 mil pessoas, enquanto outras centenas de milhares são amparadas por familiares, amigos ou alugam um quarto.