Virgínia Silveira, de São José dos Campos
A empresa Geometra, de São José dos Campos (SP), acaba de fechar seu primeiro contrato de exportação de peças de reposição do trem de pouso da aeronave EMB-312 Tucano, para a Inglaterra. A qualificação da Geometra como fornecedora do trem de pouso do Tucano, tarefa antes desempenhada pela Embraer, fabricante original da aeronave, foi viabilizada a partir de uma parceria entre a Geometra e o Centro Logístico da Aeronáutica (CELOG), que investiu R$ 3 milhões no projeto de industrialização do equipamento.
Graças a esta parceria, a Geometra também está prestes a acertar a venda do sistema completo desse mesmo trem de pouso para a Força Aérea Colombiana, que possui 14 aviões Tucano em sua frota. As aeronaves colombianas, segundo o presidente da Geometra, Luiz Paulo Junqueira, iniciarão um programa de modernização coordenado pela Embraer. O projeto também inclui mudanças na estrutura da aeronave e um reforço da asa.
O EMB-312 Tucano, versão anterior ao atual Supertucano, iniciou sua operação na Força Aérea Brasileira (FAB) em 1983 como treinador avançado de pilotos. Na época foram adquiridas 133 unidades do modelo pela FAB e atualmente elas somam 104. No mundo foram vendidas cerca de 650 aeronaves, que estão em serviço em 15 forças aéreas internacionais, mercado que a Geometra vê como potencial comprador dos seus trens de pouso. A Inglaterra, por exemplo, possui em torno de 60 Tucano em sua frota.
O desenvolvimento do trem de pouso pela Geometra foi uma alternativa que a FAB encontrou para garantir o fornecimento do sistema para a sua frota e também para os operadores da aeronave no mundo, que já vinham enfrentando problemas com a falta de peças de reposição.
"Há mais ou menos dois anos, os Tucano da FAB começaram a apresentar certo grau de fadiga (desgaste) nos trens de pouso e como ninguém mais fabricava o equipamento, decidimos investir no desenvolvimento de um novo projeto industrial", explica o diretor do CELOG, brigadeiro Edgard de Oliveira Júnior. O projeto do novo trem de pouso do Tucano, segundo Oliveira Júnior, foi aperfeiçoado e em seguida incubado na Geometra, que se responsabilizou pelo desenvolvimento do processo industrial. Depois de concluído todo esse trabalho, o trem de pouso passou por testes de resistência nos laboratórios do Centro Tecnológico da Aeronáutica (CTA), em São José dos Campos, até chegar à fase de certificação.
Para atender a frota de Tucano da FAB, de acordo com o brigadeiro, o CELOG encomendou cerca de 20 sistemas de trem de pouso da Geometra. "Temos planos de comprar mais, mas isso será feito à medida que os nossos aviões forem apresentando necessidade de troca do equipamento", disse. De acordo com o brigadeiro, o fato do trem de pouso da Geometra ter a sua certificação reconhecida por autoridades internacionais de aviação aumenta as chances de exportação do equipamento. "O CELOG também possui um sistema de catalogação, onde procura incluir as informações sobre os produtos das empresas parceiras, disponibilizando-as para o comércio internacional", explicou. O Brasil, segundo o brigadeiro, participa do sistema de catalogação adotado pelos países signatários do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e o trem de pouso fabricado pela Geometra também foi catalogado nesse sistema.
"O objetivo da FAB é capacitar a indústria nacional na produção e qualificação local de componentes aeronáuticos, estimulando o desenvolvimento de tecnologias estratégicas para o país e garantindo autonomia para a operação dos nossos aviões", ressaltou o diretor do CELOG. O centro contabiliza o desenvolvimento de mais de 15 mil projetos produzidos no Brasil.
"Absorvemos a tecnologia dos equipamentos que nós temos dificuldade de comprar no exterior e repassamos esse conhecimento para a indústria nacional".
No caso do trem de pouso do Tucano, se não houvesse um fornecedor para esse tipo de equipamento, segundo o diretor do CELOG, a FAB corria o risco de ter que paralisar a sua frota. A FAB, desde a criação da Comissão de Nacionalização de Material Aeronáutico, em 1977, acumula um acervo superior a 20 mil itens nacionalizados. O número de peças produzidas e fornecidas para uso também ultrapassa a cifra de cinco milhões de unidades.
Quase todos os aviões da FAB hoje, segundo Oliveira Júnior, possuem itens nacionalizados pelo CELOG e pelas indústrias parceiras, que formam um contingente de 300 empresas. "Atualmente, 67 empresas estão envolvidas com nossos processos de nacionalização", comentou o brigadeiro. "A nacionalização de peças pelo CELOG permite as indústrias brasileiras o acesso a tecnologias que elas não teriam condições de pagar, o que também reduz os custos de desenvolvimento", disse o presidente da Geometra.
A lista de itens estratégicos nacionalizados pelo CELOG incluem, além do trem de pouso do Tucano, as rodas do C-115 Buffalo, utilizado na Amazônia, o trem de pouso do T-25 Universal (aeronave de treinamento primário), a roda da frente do Bandeirante, motores, instrumentos de vôo, sistemas hidráulicos, asas, comandos de vôo, entre outros componentes de diversas aeronaves.