Flávia Ayer
Militares espalhados por toda a parte. Barracas de campanha montadas e equipadas, com segurança reforçada. Mas o que parece uma situação de guerra é, na verdade, um grande hospital. Para treinar 103 médicos, 18 dentistas e 6 farmacêu-ticos recém-ingressos na aeronáutica, preparando-os para um conflito, a Força Aérea Brasileira (FAB) montou seu Hospital de Campanha (Hcamp) no Parque Guilherme Lage, no Bairro São Paulo, Região Nordeste de Belo Horizonte.
Usada normalmente em calamidades públicas, a estrutura deve receber, até sábado, cerca de 4 mil pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). Ontem, no primeiro dia de consultas médicas e odontológicas, cerca de 900 pessoas foram atendidas. As marcações foram feitas pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e unidades básicas da Regional Nordeste.
Uma das pacientes atendidas foi dona Antônia Madureira Ottoni, de 88 anos, que sofre de trombose. “Gostei muito do atendimento”, afirma. Ainda na fila, Elizabeth da Costa Alves, de 31, que aguardava a filha, Nathália, ser atendida, também não escondeu a satisfação. “Estamos esperando há 4 meses pela consulta. E, se não fosse aqui, iríamos esperar mais. Tomara que eles resolvam o problema dela, fomos várias vezes ao posto e ninguém sabe o que é. Vou tentar também fazer uma ultrassonografia”, diz a mulher, que está grávida. Há um ano, Maria Auxiliadora Martins, de 63, esperava uma consulta para cuidar de um problema de varizes. “Achei excelente, fui atendida rapidamente. No posto, eles marcam mais de 10 pessoas para o mesmo horário”, compara.
A experiência não é nova apenas para os pacientes. O médico paulista Gustavo Tanaka, um dos oficiais em treinamento, não esconde o entusiasmo com o trabalho no hospital de campanha. “A minha vida mudou completamente, a educação e disciplina são outras. Os pacientes chegam esperando algo diferente e acabam recebendo um tratamento especial. As condições físicas são adversas, mas a disponibilidade dos médicos, os exames e a farmácia são bem melhores que nos postos”, afirma.
De acordo com o comandante do HCamp, capitão João Maurício Mendonça Figueira, o hospital funciona como um centro de saúde, onde é possível fazer até pequenas cirurgias. “Os oficiais têm que estar familiarizados com a estrutura e com as condições adversas de uma situação de combate. O objetivo de um hospital como esse é estabilizar o paciente até ele poder ser transportado”, explica.
Nessa empreitada, o hospital está funcionando com o dobro de sua capacidade. Oito barracas climatizadas atendem pacientes nas seguintes especialidades: clínica médica, cirurgia plástica, cardiologia, dermatologia, angiologia, radiologia, oftalmologia, ortopedia, ginecologia, otorrinnolaringologia, urologia e odontologia. Exames radiológicos, laboratoriais e ultrassonografias também são feitos. Cada paciente sai do Hcamp com remédios para dois dias de tratamento.
São 258 homens, 227 alojados no acampamento. A comida é pré-cozida e o estoque é capaz de atender 150 homens por 12 dias. O funcionamento de toda a estrutura é garantido por seis geradores movidos a diesel e, ao todo, a estrutura conta com 60 barracas. O treinamento é coordenado pelo Centro de Instrução e Adaptação da Aeronáutica (Ciaar), sediado em BH.
Missões
Criado na década de 1970, o HCamp tem em seu histórico passagens por terremotos em El Salvador e no México, combates em Guiné Bissau e até apoio ao SUS no Rio de Janeiro e em Recife. Na visita do papa à Aparecida, em São Paulo, em 2007, o hospital foi montado em praça pública, para atender milhares de romeiros. A última grande missão foi o socorro às vítimas da enchente de Itajaí, em Santa Catarina. Os militares passaram 21 dias acampados. “Foi a missão mais difícil. Os postos de saúde estavam todos alagados. Atendemos pessoas que perderam a família inteira”, afirma o capitão João Maurício.
Serviço
Pacientes interessados em se consultar no HCamp devem procurar um posto de saúde ou a SMS.