Roberto Godoy
A festa que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer fazer no dia 1º de maio, para marcar o início das operações de extração de petróleo no campo de Tupi, na reserva do pré-sal, não vai ter o cenário espetacular pretendido: o porta-aviões A-12 São Paulo, capitânia da frota da Marinha, está em reforma, depois de sofrer um incêndio em maio de 2005. A operação de recuperação, inicialmente limitada ao reparo do dano causado pelo fogo, deveria terminar em 90 dias, eventualmente seis meses.
Passou por modificações, virou programa de atualização parcial e teve os recursos de caixa congelados várias vezes. Com tudo isso, a operação já dura quatro anos. O Comando da Marinha não revela quanto terá gasto até o fim da longa revisão.
O Palácio do Planalto planejava reunir, talvez, 250 convidados, levados pelo porta-aviões, até bem perto da plataforma da Petrobrás, a 300 km do litoral. O grupo seria recebido no hangar de bordo, um salão com 180 metros de comprimento e 7 metros de altura. Não deu certo. Outras possibilidades foram consideradas, como o uso de navios de transporte militar. Todavia, garante uma fonte do cerimonial da Presidência, deve prevalecer a fórmula conservadora: Lula e pequeno grupo vão até o campo, cumprem o ritual e só depois comemoram, no Rio.
De volta ao mar em três meses, o retorno do porta-aviões às operações navais vai exigir longo período de testes e de treinamento. Um ano, no mínimo, só para qualificar a tripulação, de acordo com a estimativa de um ex-comandante da Marinha. E ainda pode haver surpresas, como a ocorrida no ensaio de máquinas. A vibração em um eixo provocou a troca da peça - e o alongamento no tempo de permanência no estaleiro. A retomada das atividades da aviação embarcada é incerta. O A-12 está sem seus aviões, os caças subsônicos AF/1/A1 Skyhawk. Foram compradas 23 unidades, usadas, no Kuwait, no ano 2000, por US$ 70 milhões. Com o orçamento contingenciado e sem poder investir na revitalização dos jatos, a Marinha desativou as aeronaves gradativamente. Em março de 2008 apenas duas tinham condições de voo. No mês passado, só uma.
O almirante Júlio Moura Neto, comandante da Força, espera assinar em abril o contrato de modernização com a Embraer. Até o fim de 2014, 12 AF-1/A1 terão passado pelo procedimento. O custo de referência é de US$ 60 milhões. Toda a eletrônica será atualizada. Os caças poderão atuar com bombas guiadas.
ACIDENTE
Morreram 3 tripulantes no acidente que imobilizou o navio. Outros 10 ficaram feridos. Veterano da guerra da Bósnia e dos conflitos do Oriente Médio - quando ainda era o Foch, da esquadra da França -, o A-12 tem 49 anos. Pode lançar 15 jatos, com canhão de 20mm e mais 4,5 toneladas de mísseis, bombas ou foguetes livres. Garante, também, o controle do mar com largos helicópteros caçadores de submarinos, recheados de sensores e bem armados.
Essa condição ideal nunca foi atingida no porta-aviões brasileiro, grande como dois campos e meio de futebol.
Sem navio há quatro anos, os pilotos brasileiros treinam em terra, simulando na pista de asfalto de São Pedro da Aldeia, no litoral do Rio.
O porta-aviões revitalizado será um navio melhor. No Arsenal da Ilha das Cobras, no Rio, pelo menos 20 diferentes obras foram desenvolvidas, da revisão dos motores até a instalação do sistema Mage, de medidas de apoio à guerra eletrônica. Ganhou piso novo, não derrapante, no convés. E, sem confirmação, teria recebido sistemas de defesa com performance expandida.
O Skyhawk voa a 1.100 km/hora e tem alcance de 3.220 km. Os pilotos não decolam exatamente do porta-aviões: com a turbina no limite máximo, são disparados por catapultas a vapor que aceleram da imobilidade até além de 260 km/hora em pouco mais de 200 metros.