Jovens israelenses dizem não ao alistamento militar obrigatório
0
Se a operação do Exército de Israel em Gaza em janeiro obteve amplo apoio dos israelenses, uma parcela dos jovens mostra descontentamento com a política do país para os territórios palestinos. Uma evidência é o surgimento de movimentos como o dos “Shministim” (estudantes secundaristas), que se recusam a cumprir o serviço militar alegando objeção de consciência.
No front oposto, há movimentos que defendem que o fardo recaia igualmente sobre os ombros de todos os cidadãos israelenses.
O movimento dos desertores foi lançado 2008, com site na internet e vídeos no YouTube. Em um manifesto com cem assinaturas, os jovens alegam razões morais para não participar das ações militares. Sem obter dispensa do alistamento - o serviço militar é obrigatório no país - dez deles vinham sendo submetidos a uma rotina de prisões por entre 21 e 28 dias alternadas com dois dias de liberdade. Com a incursão em Gaza, o movimento já contabiliza mais de 40 mil cartas de apoio.
“Nossa recusa é acima de tudo um protesto contra a política de separação, controle, opressão e assassinatos do Estado de Israel nos territórios ocupados”, afirma o texto.
A iniciativa dos desertores divide opiniões. Em Israel, o serviço militar é compulsório para ambos os sexos após o ensino médio. Segundo a antropóloga Marta Topel, do programa de pós-graduação em Língua Hebraica, Literatura e Cultura Judaicas da USP, quem não serve ao Exército é malvisto por segmentos da sociedade civil, que consideram a atitude “comodista e egoísta”.
“Milhares de pessoas arriscam a vida para defender o Estado das ameaças que o assolam e protelam seus estudos ou a entrada no mercado de trabalho em três ou mais anos”, diz.
Apesar de obrigatório, o recrutamento militar dispensou em 2007 e 2008 cerca de 34% dos jovens em idade de servir. Além dos que vivem fora do país e judeus ortodoxos (isentos da obrigação), são liberadas pessoas com antecedentes criminais ou problemas médicos ou psicológicos.
Em sua declaração de princípios, o movimento pró-militar Fórum Israelense para Promoção da Divisão Igual do Dever reclama da “grande desigualdade da divisão do serviço militar”, à qual atribui como causas as grandes dispensas e a “falta de vergonha” dos que se recusam a servir.
Segundo Topel, da fundação do país, em 1948, até a primeira guerra do Líbano, em 1982, a farda militar representou um fator de unidade nacional em Israel. “Com o desencadeamento da primeira Intifada (levante palestino) em 1987, surgiram os primeiros desertores no Exército, sobretudo entre os reservistas, nos quais encontramos oficiais de alto nível.”
“Os desertores não contestavam as ações nas fronteiras de Israel com os países vizinhos, mas se recusaram a servir nos outrora territórios ocupados e se confrontarem com a população civil”, diz a antropóloga.