Para procurador do Exército, relatos de infrações em Gaza não partiram de testemunho ocular, mas da repetição de boatos
Nota sobre fim do inquérito, criticado por ONGs, não fala de denúncia de vandalismo, de atuação religiosa nem de ordem de "esquecer moral"
DA REDAÇÃO
O general Avichai Mendelblit, chefe da Promotoria do Exército israelense, determinou ontem o arquivamento da investigação dos alegados abusos humanitários cometidos por soldados durante a recente invasão da faixa de Gaza.
Segundo ele, o inquérito apurou que as descrições das condutas – que poderiam ser enquadradas como crimes de guerra – "foram baseadas em ouvir falar e não na experiência obtida em primeira mão".
Mendelblit criticou "a imprecisão" dos relatos. "Será difícil avaliar o estrago feito à imagem e ao moral [dos militares] em Israel e no mundo."
As revelações vieram a público no último dia 19, quando jornais de Israel publicaram trechos de um debate realizado numa academia militar por cadetes que participaram da investida contra o grupo islâmico Hamas em Gaza, entre 27 de dezembro e 18 de janeiro. Na ocasião, o Exército determinou abertura de investigação e proibiu os soldados de concederem entrevistas.
No encontro, em 13 de fevereiro, formandos relataram episódios sistemáticos de vandalismo contra residências de palestinos e dois casos de assassinatos de civis desarmados – o de uma senhora idosa e o de uma mãe com seus dois filhos.
Segundo a investigação, o soldado que contou o episódio da ordem para assassinar a idosa não testemunhou o caso. "Só repetiu um rumor que ouvira."
Sobre o outro caso, em que a família teria sido morta por ter caminhado na direção oposta à determinada pelos soldados, a investigação também concluiu que o autor do relato não viu o episódio.
"Após checagem, foi apurado que, durante aquele incidente, uma patrulha abriu fogo numa direção contrária, contra dois homens suspeitos que não tinham relação com os civis em questão", disse a nota oficial, que não apresentou ligações entre os dois tiroteios nem esclareceu se a família efetivamente foi morta ou não.
Não foi a única ocorrência relatada em 13 de fevereiro que não mereceu uma resposta. O relatório não tratou de vandalismo, da denúncia de que o rabinato do Exército insuflou os israelenses a lutarem uma guerra santa nem do reservista que narrou ao "New York Times" ter sido orientado por um instrutor a "deixar sua moral à parte" antes de entrar em Gaza.
Repúdio
Em reação ao arquivamento, grupos israelenses de defesa dos direitos humanos emitiram nota conjunta afirmando que "o veloz encerramento da investigação imediatamente levanta a suspeita de que era uma mera tentativa do Exército de limpar suas mãos de toda a culpa por atividades ilegais".
A exemplo do que haviam feito quando foi lançada a investigação, as entidades cobraram a apuração das denúncias por uma entidade independente.
No dia 19, ONGs haviam recebido com reservas a notícia da investigação militar. Ponderavam que o Exército já tinha ciência dos relatos de abusos desde 13 de fevereiro, mas só tomara a iniciativa de apurar após sua publicação.
Com agências internacionais