A Força de Defesa israelense (IDF, na sigla em inglês) admitiu nesta quarta-feira ter matado 309 civis inocentes, entre eles 189 crianças e jovens com menos de 15 anos, durante a recente ofensiva militar contra o movimento islâmico radical Hamas, na faixa de Gaza. Segundo o Centro Palestino de Direitos Humanos, 1.434 palestinos foram mortos, incluindo 960 civis, 239 policiais e 235 militantes.
O relatório do Exército israelense aponta ainda que 600 militantes palestinos do Hamas morreram durante a operação militar de 22 dias, entre dezembro e janeiro -- incluindo os policiais que foram mortos em um bombardeio no primeiro dia da ofensiva, durante a parada de graduação da academia, em Gaza.
A lista inclui ainda 320 mortos descritos como "não filiados" -- o que significa que a IDF não sabe dizer se eles são ou não militantes -- e outros 14 membros do partido laico Fatah, rival do Hamas, que foram executados pelo grupo palestino durante a ofensiva.
A lista, preparada pela diretoria da IDF responsável pela faixa de Gaza, foi divulgada em reportagem do "Haaretz", dias depois do jornal israelense publicar uma série de reportagens com relatos de soldados que denunciam assassinato de civis inocentes, vandalismo, além de um bilhete que ordena ataques a equipes médicas e a campanha dos rabinos do Exército para transformar a operação em uma "guerra santa".
No total, as forças israelenses contabilizam 1.370 mortes, contra as 1.434 do Centro Palestino de Direitos Humanos. Segundo o "Haaretz", a IDF identificou 1.249 vítimas da lista apresentada pela entidade palestina.
O grupo de vítimas listada pela Força de Defesa de Israel inclui ainda 91 mulheres e 21 idosos que não estavam envolvidos no combate, além de seis trabalhadores da agência da ONU (Organização das Nações Unidas) para refugiados palestinos e dois médicos de equipes de resgate.
Conquista
O militar Yoav Galant, do Comando do Sul das IDF, afirmou à Radio Army que o saldo "baixo" de mortes de civis foi sem precedentes ao se considerar o tipo de confronto, no qual o Exército de Israel entrou em cidades e áreas populosas da faixa de Gaza -- um território de cerca de 360km¦ no qual vive 1,5 milhão de palestinos.
"Este saldo de [civis] não envolvidos [no confronto] é uma conquista para a qual não há exemplos na história das campanhas militares, não apenas em Israel, mas em todo o mundo", disse Galant, em citação reproduzida pelo "Haaretz".
O militar afirmou ainda que a ofensiva contra o Hamas -- considerada um fracasso pela população israelense já que não interrompeu os ataques de foguetes contra Israel, objetivo declarado da operação -- melhorou significativamente o desempenho de Israel.
"A guerra teve um efeito de longo alcance não apenas na arena da faixa de Gaza, mas também em nossos vizinhos que compreendem que a IDF é capaz de fazer o que fez aqui em outros lugares também", disse Galant.
Massacre
O relatório da IDF não aborda, contudo, os recentes relatos de soldados israelenses que participaram da ofensiva. Na semana passada, o jornal publicou relato de um comandante da Força de Defesa que denunciou que rabinos do Exército disseram às tropas que lutavam na ofensiva militar que o confronto era uma "guerra religiosa" contra os pagãos.
"A mensagem deles era bem clara: nós somos judeus, nós viemos para esta terra por um milagre, Deus nos trouxe de volta a esta terra, e agora nós precisamos lutar para expulsar os pagãos que estão interferindo na conquista da terra santa", disse o comandante, citado pelo jornal.
O relato de Ram, um pseudônimo para proteger a identidade do militar, vazou de um encontro no dia 13 de fevereiro entre membros das Forças Armadas, estudantes do curso preparatório de soldados de Yitzhak Rabin, que compartilharam suas experiências em Gaza.
Alguns veteranos, formados na academia militar, falaram sobre o assassinato de civis inocentes e de suas impressões de desprezo profundo aos palestinos dentro das forças israelenses. "A atmosfera em geral, não sei como descrever. As vidas de palestinos, digamos que são menos importantes que as de nossos soldados", diz um dos trechos da declaração de um chefe de pelotão que atuou em Gaza, ao justificar a morte de uma palestina e seus dois filhos, mortos por um atirador de elite israelense.
O diretor da instituição, Danny Zamir, confirmou ao jornal israelense que os relatos são autênticos.
O jornal publicou ainda informação de que um palestino encontrou uma instrução, escrita a mão e em hebraico, que indicava aos soldados israelenses a atacar equipes de resgate durante a ofensiva.
"Regra de engajamento: Abrir fogo também contra pessoal de socorro" era o texto que estava escrito em uma folha de papel encontrada em uma das milhares de casas palestinas tomadas pela Força de Defesa israelense em Gaza.
A denúncia inclui ainda uma reportagem do jornal britânico "The Guardian" que traz "provas documentadas" do uso de crianças palestinas como escudo humano e os ataques diretos contra médicos e hospitais. O jornal diz ter encontrado provas dos ataques feitos contra civis por aviões não tripulados que, segundo o jornal, são tão precisos que seu piloto pode distinguir até a cor da roupa de um possível alvo.