Caças canadenses interceptaram um avião bombardeiro russo no Ártico quando se aproximava do espaço aéreo do Canadá, às vésperas da visita do presidente Barack Obama, na semana passada, a Ottawa, disse nesta sexta-feira passada o ministro da Defesa do Canadá.
Peter MacKay informou que o bombardeiro não chegou a entrar no espaço aéreo do Canadá, mas ele disse que os dois jatos canadenses CF-18 entraram em contato com o avião russo no espaço aéreo internacional e enviaram um "forte sinal de que deveriam se afastar".
"Eles encontraram um avião russo que se aproximava do espaço aéreo canadense e, como já tinham feito em ocasiões anteriores, mandaram sinais muito claros que foram entendidos, para que a aeronave desse meia-volta, e seguisse para o seu espaço aéreo, o que ela fez", disse MacKay.
"Eu não vou acusar aqui os russos de terem feito isso de propósito durante a visita presidencial, mas foi uma grande coincidência", disse ele sobre o incidente, que aconteceu no dia 18 deste mês. Obama chegou a Ottawa um dia depois do episódio.
MacKay também ligou o incidente à competição entre o Canadá, a Rússia, os Estados Unidos e outros países para garantir a exploração de recursos do Ártico. Com o derretimento do gelo polar, há novas oportunidades para explorar petróleo, gás e reservas minerais na região.
"Sabemos que as águas estão se abrindo", disse ele. "Sabemos que outros países já manifestaram interesse no Ártico".
No entanto, o Ministério da Defesa da Rússia negou nesta sexta-feira que aviões russos tenham se aproximado da fronteira do Canadá e disse que as autoridades canadenses haviam sido informadas sobre o voo.
"Durante o voo, os bombardeiros russos seguiram rigorosamente os regulamentos internacionais e excluíram qualquer possibilidade de violar o espaço aéreo canadense", disse o porta-voz do ministério, Alexander Drobyshevsky. "Países fronteiriços foram notificadas sobre os voos."
"A declaração do ministro da Defesa do Canadá sobre os voos da nossa aeronave é absolutamente incompreensível", disse Drobyshevsky. "Eles não são nada mais que uma farsa."
O porta-voz do ministro canadense, Dan Dugas, disse que não iria responder à declaração russa, mas disse que o Canadá não foi informado sobre o voo, e que ele aconteceu menos de 24 horas antes que Obama visitasse Ottawa.
Vladimir Drik, porta-voz da Força Aérea russa, disse em uma declaração publicada pela agência de notícias estatal RIA Novosti que o voo do bombardeiro Tupolev (TU-160) tinha sido planejada com antecedência e fez parte de patrulhas de rotina. Ele disse que a tripulação agiu de acordo com os acordos internacionais e não violou o espaço aéreo do Canadá.
Um conselheiro da embaixada russa em Ottawa, Dmitry Trofimov, disse que a Rússia tem informado ao Comando de Defesa do Espaço Aéreo da América do Norte (Norad, na sigla em inglês), sobre os seus voos.
Aviões soviéticos voavam regularmente perto do espaço aéreo norte-americano durante a Guerra Fria, mas a prática cessou após o colapso da União Soviética, em 1991. Há alguns anos, jatos russos retomaram esse tipo de voo.
MacKay disse que a Rússia não comunica os voos com antecedência. "Eles simplesmente aparecem na tela do radar ", disse MacKay. "Isto certamente não é um jogo."
O primeiro-ministro canadense, Stephen Harper, disse que seu país manifestou "profunda preocupação" em relação ao que ele chamou de "intromissões russas em nosso espaço aéreo".
"Este governo tem respondido a cada vez que os russos fizeram isso. Iremos continuar a responder. Vamos defender o nosso espaço aéreo", disse Harper.
Força militar
O incidente com o Canadá veio à tona na semana que antecede um encontro entre o ministro das Relações Exteriores da Rússia e a Secretária de Estado americana, Hillary Clinton, em Genebra, na Suíça. Sergey Lavrov disse que o encontro tratará do controle de armas nucleares, e que espera que os EUA formem com a Rússia uma equipe de negociação para controlar os armamentos.
Também nesta semana, os russos fizeram outra manifestação de força militar. As Forças Armadas do país anunciaram que colocaram em serviço um novo radar de alerta rápido destinado a acompanhar potenciais ameaças de mísseis da Rússia ao sul do território.
O chefe das Forças Espaciais russas, general Oleg Ostapenko, disse que o novo radar, localizado próximo ao sul da cidade de Armavir, tem desempenho muito superior ao dos seus predecessores soviéticos.
As Forças Espaciais informaram que a nova unidade, que entrou em funcionamento nesta quinta-feira (26), vai substituir dois radares militares soviéticos na Ucrânia. O aluguel de bases ucranianas para os radares russos foi suspenso devido a movimentos da Ucrânia rumo à aliança militar ocidental, a Otan (Organização do tratado do Atlântico Norte), fundada em 1949 como uma forma de fazer frente à União Soviética.
Nesta sexta-feira, um dirigente da Corporação Unida de Estaleiros, que reúne os maiores estaleiros russos, anunciou que vai construir nos próximos anos pelo menos três porta-aviões de propulsão nuclear.
Na semana passada, o secretário da Defesa dos EUA, Robert Gates, acenou com um apaziguamento das relações com a Rússia, ao mesmo tempo em que criticou o "jogo duplo" de Moscou com as tropas da Otan no Afeganistão.
Durante reunião da aliança militar ocidental em Cracóvia, Polônia, Gates afirmou ontem que o governo Obama "precisa de mais tempo" para decidir se leva adiante o projeto de instalar um escudo antimísseis no Leste Europeu, lançado pelo antecessor George W. Bush e criticado por Moscou.
A Rússia vê a medida como uma ameaça e um fator de desequilíbrio geopolítico, prometendo retaliar com a instalação de uma base de mísseis no encrave de Kaliningrado, entre a Polônia e a Lituânia.