No final do ano passado, o estaleiro Direction des Constructions Navales et Services (DCNS), da França, assinou contrato com a Marinha do Brasil (MB) para a venda e transferência de tecnologia de quatro submarinos convencionais e desenvolvimento do casco do submarino nuclear brasileiro. Com o objetivo de obter mais informações sobre o negócio, considerado um dos maiores já conquistados pela companhia francesa, a reportagem de Tecnologia & Defesa enviou algumas questões à DCNS, respondidas abaixo.
T&D perguntou ao grupo francês sobre outros negócios em discussão no Brasil, mas a DCNS preferiu não comentá-los. Segundo a reportagem pôde apurar, a DCNS já apresentou à MB proposta para a construção de fragatas baseadas na Classe FREMM, desenvolvidas para as Marinhas da França e da Itália. Em paralelo aos negócios no Brasil, o estaleiro francês também está bastante ativo em outros países sul-americanos. No final de janeiro, a empresa, em parceria com uma de suas controladoras, a também francesa Thales, anunciou ter conquistado um negócio avaliado em mais de 100 milhões de euros para a modernização dos sistemas de combate de quatro fragatas da Classe Almirante Padilla operadas pela Marinha da Colômbia.
T&D - Qual é o significado para a DCNS do acordo celebrado entre o Consórcio Sepetiba (DCNS e Odebrecht) e a Marinha do Brasil (MB) para a transferência ao Brasil de tecnologia de submarinos?
DCNS - Este projeto representa uma grande carga de trabalho para nossas equipes de projetos, estaleiros e unidades produtivas. Algumas seções do primeiro submarino serão produzidas pelo estaleiro da DCNS de Cherbourg. Os submarinos serão produzidos por uma joint venture a ser constituída entre a DCNS e sua parceira brasileira, a Odebrecht, que juntas desenvolverão este projeto de transferência de tecnologia. Os submarinos restantes serão produzidos pela joint venture. A DCNS irá, contudo, produzir itens-chave de avançada tecnologia em suas próprias unidades. Durante os primeiros cinco anos, várias centenas de funcionários da DCNS trabalharão nesse projeto. O número preciso dependerá de como o contrato será implementado.
T&D - O estaleiro que será construído em Itaguaí (RJ) para a construção dos novos submarinos da MB poderá comercializar submersíveis e/ou prestar serviços para outras Marinhas latino-americanas?
DCNS - Os submarinos serão produzidos pela joint venture entre a DCNS e a Odebrecht. A joint venture não terá permissão para realizar quaisquer outras atividades além da construção e manutenção dos submarinos da Marinha do Brasil sem a permissão da própria Marinha.
T&D - Poderiam comentar brevemente o escopo da transferência de tecnologia e da participação industrial nacional que o negócio dos submarinos envolve?
DCNS - A transferência de tecnologia para a Marinha do Brasil envolve não apenas a construção de submarinos, mas também o projeto de submarinos com dimensões suficientes para acomodar um reator nuclear brasileiro. O escopo da transferência tecnológica também inclui o projeto de um moderno estaleiro otimizado para a construção e manutenção de submarinos. Atualmente, cerca de 30 companhias brasileiras têm potencial de se beneficiar com a produção de equipamentos para os submarinos dentro do acordo de transferência tecnológica. Esse número, contudo, poderá aumentar significativamente na medida em que o projeto avance.
T&D - Os senhores poderiam dar um breve panorama da presença e perspectivas do grupo DCNS para a América Latina?
DCNS - Os planos da DCNS são responder todas as chamadas de pedidos de propostas para a construção de novos submarinos ou projetos de modernização de sistemas de combate de submarinos em operação. Nesse sentido, o grupo pretende ampliar seu histórico de sucessos até hoje por toda a América Latina.
T&D - A DCNS conquistou dois importantes usuários de seus submarinos na América Latina - Chile e Brasil. Isso coloca a DCNS em posição privilegiada para a futura modernização das forças submarinas da região?
DCNS - Certamente, os sucessos recentes da DCNS em conquistas grandes contratos de duas das maiores Marinhas da América do Sul evidenciam a qualidade dos submarinos do grupo. Essa reputação duramente conquistada deve, contudo, ser sustentada dia após dia por meio da prestação de serviços de apoio de alta qualidade para antigos e novos clientes e atendendo precisamente as necessidades de modernização das forças de submarinos da região.