Ministro Celso Amorim visita a colega Hillary Clinton, a menos de um mês do encontro entre Lula e Barack Obama. Aproximação se estende ao terreno militar com oferta de modernos caças F-18 para a FAB
Isabel Fleck
Washington — Se é difícil saber o que esperar do governo de Barack Obama para a América Latina, em relação ao Brasil o cenário começa a se tornar cada vez menos nebuloso. Sinais de que o país desperta interesse especial na nova diplomacia americana têm sido percebidos desde os primeiros dias de Obama no poder. Um deles é o convite que resultou no encontro de hoje entre a secretária de Estado, Hillary Clinton, e o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Celso Amorim, em Washington.
Amorim é o primeiro representante não-europeu a se reunir com a secretária desde que ela assumiu o cargo. A visita prepara o terreno para o encontro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com Obama, em 17 de março — outra demonstração importante para o governo brasileiro, menos de dois meses após a posse do democrata.
Na área de Defesa, o interesse não parece menor, como evidencia a oferta feita à Força Aérea Brasileira (FAB), no âmbito da concorrência FX-2, dos caças F-18 Super Hornet, da Boeing — um dos modelos mais usados pelas Forças americanas no Afeganistão. A relação entre os exércitos dos dois países também parece encaminhada a aprofundar, com visitas de ambos os lados a instalações militares, o estreitamento iniciado no governo de George W. Bush.
E a expectativa do governo brasileiro, com o governo Obama, é exatamente essa: continuar, ou ao menos manter, a aproximação ensaiada entre os dois países nos últimos anos da administração Bush. No encontro de hoje, alguns temas de interesse comum estarão na agenda, como a situação no Haiti e no Oriente Médio, a Cúpula das Américas — que se reúne entre 17 e 19 de abril em Trinidad e Tobago —, o combate à pobreza e a questão da igualdade racial, que foi mote de um acordo entre os dois países em 2008. A crise econômica e a Cúpula do G-20, a ser realizada em 2 de abril, em Londres, também deverão entrar na pauta.
Caças e mudança
Envolvido diretamente na proposta dos 36 caças oferecidos à FAB pela Boeing, o governo americano mostra um discurso que vai além da concorrência FX-2. Segundo Shannon, faz parte do “foco estratégico” dos EUA “participar do processo de modernização” das Forças Armadas brasileiras. “O Brasil está procurando mais do que essa compra. É claro que a decisão é do Brasil, mas podemos ajudar na mudança. Estamos procurando responder às necessidades do Brasil”, insistiu.
Uma das razões do interesse é apontada pelo general David Fadok, diretor de política e estratégia do Comando Sul das Forças Armadas americanas (Southcom): “O Brasil tem emergido como líder econômico”. Sobre a preocupação de Washington em manter um parceiro estratégico na vizinhança de Venezuela, Bolívia e Equador, os representantes tentam classificar a aproximação ao Brasil não como “reação”. Fadok admitiu, porém, que “há potencial para problemas (na América do Sul)”. “Temos de acompanhar isso de perto”, garantiu.
Enquanto a FAB considera a proposta americana para a venda dos caças — concorrem também a francesa Dassault, com seu caça Rafale, e a sueca Saab, com o Gripen NG —, as relações entre os militares brasileiros e americanos vão muito bem. Na primeira semana de fevereiro, o general Enzo Martins Peri, comandante do Exército, esteve nos EUA a convite do colega norte-americano, general George William Cansey Jr., para conhecer os seus centros de treinamento. “A visita teve o propósito de estreitar os laços de cooperação entre os dois exércitos, bem como retribuir sua vinda (de Cansey Jr.) ao Brasil, em 2007”, explica a assessoria de comunicação do Exército Brasileiro.
A jornalista viajou a convite da Boeing
Asas para a aliança
0
Tags: