O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, autorizará esta semana o envio de entre 20 mil e 30 mil soldados a mais ao Afeganistão, informa o diário The Wall Street Journal nesta quarta-feira, 4. Segundo as fontes do Pentágono citadas pelo jornal nova-iorquino, espera-se que estes reforços estejam todos mobilizados até meados do ano. Com isso, o contingente americano, que atualmente conta com cerca de 36 mil efetivos, chegará a ficar com entre 56 mil e 66 mil.
O posicionamento se concentrará na conflituosa fronteira com o Paquistão, no leste do país e nas áreas de cultivo de ópio, como a bacia do rio Helmand, no sul. O comandante das forças americanas no sul do Afeganistão, o general-de-brigada John Nicholson, disse ao jornal que colocarão “as tropas para proteger a população, vamos até onde está o povo”.
O comandante no leste do Afeganistão, o major-general Jeffrey Schloesser, disse que têm intenção de “reforçar as linhas em Kunar”, província fronteiriça com o Paquistão, onde “poderemos chegar até alguns povos aos quais ainda não chegamos”.
Estratégia no Afeganistão
Em reuniões com o presidente Barack Obama, a alta cúpula do Pentágono vem alertando para a necessidade de uma mudança de rota no Afeganistão. Os militares mais graduados devem apresentar em breve um relatório dizendo que a estratégia no país deve se concentrar em assegurar estabilidade regional e eliminar santuários da Al-Qaeda no Paquistão, em vez de construir uma democracia sólida e uma economia próspera no Afeganistão. Há o medo entre analistas de que a presença americana em território afegão se transforme no Vietnã de Obama, no qual será impossível “vencer”.
“O governo está se adaptando à realidade de que será muito difícil conseguir ajuda dos europeus para qualquer coisa, principalmente para operações militares, então eles estão adaptando a missão no Afeganistão e reduzindo as ambições”, disse ao Estado um funcionário do Departamento de Estado americano.
No entanto, a “escalada de tropas” - estratégia que funcionou no Iraque - não é uma panaceia, dizem analistas. Embora o Pentágono vá seguir a abordagem de se aliar a parte dos insurgentes como forma de dividir o inimigo, da mesma maneira que fez no Iraque, isso pode significar se aliar a facções mais moderadas do Taleban para isolar a Al-Qaeda. Negociar com o Taleban e ignorar as violações do grupo, porém, é uma estratégia difícil de engolir para uma parcela do governo.
O secretário da Defesa, Robert Gates, vem alertando para o perigo de os EUA se enterrarem em uma guerra sem fim no Afeganistão - e para a necessidade de definir de forma bastante estreita o objetivo da presença americana no país. “Precisamos ter muito cuidado ao definir nossos objetivos no Afeganistão”, disse Gates, na semana passada. “Se tivermos o objetivo de criar uma espécie de paraíso lá, vamos perder, porque ninguém no mundo tem tempo, paciência ou dinheiro para conseguir isso.” O governo Obama acha que os objetivos estabelecidos na administração de George W. Bush eram amplos e ambiciosos demais.
O Afeganistão está vivendo a situação mais grave desde 2001, segundo relatório semestral do Pentágono encaminhado ao Congresso na segunda-feira. A ONU aponta que houve mais de 2,1 mil civis mortos no país em 2008, diante de 1.523 em 2007 - uma alta de 40%. Na segunda-feira, comentando o relatório sobre o Afeganistão, o almirante Mike Mullen, chefe do Estado-Maior Conjunto, disse que o país precisa mais de “melhor governança” do que de “tropas extras”. No relatório, o governo do Afeganistão é descrito como um dos mais fracos do mundo e mergulhado em corrupção.
Taleban incendeia dez caminhões da Otan no Paquistão
Militantes taleban incendiaram na terça-feira dez caminhões usados para abastecer as forças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em missão no Afeganistão, segundo afirmaram autoridades nesta quarta-feira, 4. Os insurgentes ainda sequestraram 30 policiais paquistaneses no norte do país, libertados horas depois.
Os ataques contra os caminhões aconteceram nos arredores da cidade de Landi Kotal, cidade próxima da passagem de Khyber, onde uma ponte usada pelos comboios para levar suprimentos aos soldados no lado afegão foi destruída. Os veículos estavam voltando do Afeganistão. O trânsito na região de Khyber foi interrompido após o ataque, e engenheiros trabalham na tentativa de liberar a passagem a partir de quinta-feira. Cerca de 75% dos suprimentos das tropas dos EUA em missão no Afeganistão são transportados pelo Paquistão, e oficiais afirmam que garantir a segurança das rotas de abastecimento é uma das altas prioridades dos oficiais americanos.
Em outro incidente, 300 insurgentes atacaram posto das forças de segurança no vale de Swat, no norte do Paquistão, e sequestraram pelo menos 30 policiais. Segundo Muslim Khan, um porta-voz do movimento Tehrik-e-Taliban Paquistão, grupo que reúne os taleban paquistaneses, assumiu autoria do sequestro e assegurou que o ataque é uma represália pelas operações que o Exército desenvolve na região. A polícia informou que os oficiais foram libertados horas depois.
As forças de segurança paquistanesas aumentaram nos últimos dias a intensidade de sua ofensiva militar em Swat, que sofre uma severa deterioração da segurança desde 2007. O canal de televisão local Geo TV informou que o toque de recolher foi imposto em diversas áreas de Swat, onde as forças de segurança atacam refúgios dos taleban. Os insurgentes tomaram o controle de várias áreas de Swat e se movimentam com facilidade por toda a região, incluindo a capital, Mingora, segundo fontes da Inteligência ocidental e analistas.