SUSAN CORNWELL
em Washington
Muitas vozes ao redor do mundo falam pelos palestinos, mas apenas poucas falam por eles no Congresso dos Estados Unidos.
Legisladores em Washington aprovam rotineiramente resoluções (sem valor legal) apoiando Israel durante crises no Oriente Médio. O Senado apoiou a batalha que ocorre agora contra os militantes do Hamas na faixa de Gaza e já é esperado que a Casa dos Representantes (Câmara dos Deputados americana) tome medida semelhante logo.
Mesmo os legisladores dos EUA que expressam simpatia pelos palestinos hesitam em chamar a si mesmos de pró-palestinos e manifestam forte apoio à segurança de Israel também, devido a décadas de estreitos laços entre Israel e os EUA.
"Quando esses eventos ocorrem, há quase que uma reação automática do Congresso apoiando 1.000% o que Israel está fazendo", disse Nick Rahall, um democrata da Virgínia Ocidental e cidadão americano e libanês que votou contra algumas das medidas.
"Israel é nosso aliado. Sempre foi e eu concordo plenamente com isso. Mas eu não acredito que devamos nos deixar cegar e perder de vista o que é melhor para nós mesmos, ou dar aprovações automáticas para qualquer coisa que Israel faça. Não fazemos isso com nenhum outro aliado", afirmou.
Washington tem sido o aliado mais próximo de Israel desde 1948, quando o presidente Harry Truman tornou os EUA o primeiro país a reconhecer o novo Estado hebreu.
Harry Reid, líder da maioria dos democratas no Senado, demonstrou a extensão desse relacionamento quando disse nesta quinta-feira (8): "Nossa resolução reflete a vontade do Estado de Israel e a vontade do povo Americano."
A medida do Senado ofereceu um "compromisso inabalável" com Israel. Reconheceu "seu direito de agir em autodefesa para proteger seus cidadãos contra atos de terrorismo" e chamou atenção para a necessidade urgente de o movimento islâmico radical Hamas parar de lançar foguetes sobre Israel.
Esse ato se alinha fortemente com os comentários do presidente republicano George W. Bush sobre a crise em Gaza, disse Ric Stoll, professor de ciências políticas da Universidade Rice. Mas ele questionou se isso ajudou ou não aos diplomatas dos EUA a negociar um cessar-fogo.
Avalanche de votos
"Ninguém precisa dizer que o Hamas é legal", disse Stoll. "[Mas] como você convence aqueles que apoiam os palestinos a pressionar o Hamas por um cessar-fogo se as suas declarações fazem parecer que você está pendendo fortemente a favor de Israel?"
A Casa aprovou medidas similares nos últimos anos por grande maioria de votos. Em 2006, a Casa contabilizou 410 votos contra 8 para condenar o Hamas e o Hizbollah por "ataques armados não provocados e condenáveis contra Israel", além de apoiar a incursão de Israel no Líbano.
Em 2004, a contagem foi de 407 contra 9 votos para aprovar a declaração feita por Bush de que não era "realista esperar que Israel voltasse completamente às fronteiras anteriores a 1967". Em 2003, foram 399 contra 5 votos, aceitando que respostas enérgicas de Israel a ataques palestinos fossem consideradas justificadas.
Os poucos oponentes das medidas são frequentemente legisladores de ascendência árabe ou vindos de comunidades árabes nos EUA, além de independentes como o democrata Dennis Kucinich, de Ohio, e o republicano Ron Paul, do Texas.
Kucinich, que tentou uma nomeação para a Presidência do Partido Democrático no ano passado, acusou os EUA de ignorar a crise humanitária atual em Gaza enquanto facilita as ações de Israel através de negociações bilionárias de armamentos bélicos.
Washington "ignora o massacre de inocentes em Gaza", ele disse. "Os dólares dos EUA arrecadados em impostos e os jatos e helicópteros dos EUA fornecidos a Israel permitem o massacre em Gaza."
James Zogby, presidente do Instituto Árabe-Americano, diz que o lobby israelense é frequentemente visto como uma força por trás dos votos pró-Israel, mas ele acha que não é assim tão simples. Alguns americanos "não têm ideia" da história dos palestinos, ele disse.
Legisladores também recebem sinais sobre política exterior através das declarações do presidente, disse Zogby, por isso alguma mudança pode acontecer com o presidente eleito Barack Obama, que falou pouco sobre a crise até agora.
"Se a história da Casa Branca mudar e o presidente expressar profundas preocupações sobre as pessoas em Gaza, os políticos mudarão também", disse Zogby.