A resolução, esboçada pela Grã-Bretanha e aprovada por 14 dos 15 membros do órgão, pede, além do cessar-fogo, o livre acesso de agências de auxílio humanitário a Gaza e que os países-membros intensifiquem os esforços para fazer com que se alcance uma trégua duradoura.
Este foi o primeiro posicionamento oficial do Conselho de Segurança da ONU em relação ao conflito desde o início da ofensiva israelense, em 27 de dezembro.
Após a aprovação da resolução, a ministra do Exterior de Israel, Tzipi Livni, disse que seu país continuará a agir pensando na segurança de seus cidadãos.
Israel lançou pelo menos 50 ataques durante a madrugada desta sexta-feira. A Força Aérea israelense diz que atingiu depósitos de armas e locais usados para lançamentos de foguetes.
Médicos palestinos dizem que pelo menos cinco membros de uma famíla, entre eles uma criança, morreram em um ataque contra uma casa. Há informações de que outro bombardeio destruiu por completo um prédio de cinco andares.
As estimativas são de que, em quase duas semanas, o conflito tenha matado 770 palestinos e 14 israelenses.
'Um passo à frente'
O governo dos Estados Unidos, tradicional aliado de Israel, preferiu se abster da votação na sede da ONU em Nova York, embora a secretária de Estado, Condoleezza Rice, tenha classificado a resolução como “um passo à frente”.
Ela afirmou que, no entanto, os Estados Unidos preferem esperar os resultados da mediação egípcia no conflito.
Rice e os ministros das Relações Exteriores da Grã-Bretanha, David Miliband, e da França, Bernard Kouchner, passaram o dia em intensas negociações com os representantes dos países árabes.
Pouco antes da votação, os três países acabaram retirando sua oposição a uma resolução que pedia um cessar-fogo imediato na região.
Nas discussões anteriores, EUA, França e Grã-Bretanha, defendiam que o CS apresentasse um documento mais ameno.
“Nesta noite, finalmente, as Nações Unidas estão falando claramente a uma só voz. A ONU está pedindo claramente por um cessar-fogo, por uma ação contra o contrabando de armas (para o Hamas) e pela abertura das fronteiras (de Gaza)”, disse o ministro britânico David Miliband.
A resolução contempla uma das demandas de Israel, que exige o fim do contrabando de armamentos pelo Hamas na fronteira de Gaza com o Egito.
Já o Hamas exige que um acordo de trégua inclua o fim do bloqueio a Gaza.
Enquanto isso, os esforços por um acordo de cessar-fogo continuam sob a mediação egípcia, no Cairo.
Um alto-funcionário da Defesa israelense encontra-se no Cairo para ouvir os detalhes da proposta de trégua elaborada pelo Egito e a França, enquanto uma delegação do Hamas é esperada na cidade para “discussões paralelas”.
Novos ataques
Enquanto o Conselho de Segurança votava a resolução, Israel aparentemente empreendeu novos ataques contra a Faixa de Gaza.
Segundo autoridades médicas palestinas, pelo menos seis pessoas teriam morrido na ofensiva desta noite.
Em uma informação que não pôde ser confirmada de maneira independente, o Hamas afirmou que uma bomba teria destruído um bloco de apartamentos de cinco andares ao sul de Gaza.
Interrupção na ajuda humanitária
Na quinta-feira, a ONU anunciou ter suspendido suas operações de ajuda humanitária na Faixa de Gaza devido ao perigo que seus funcionários correm com os ataques israelenses.
"Nós suspendemos nossas operações em Gaza até que as autoridades israelenses possam garantir a nossa segurança", disse o porta-voz da agência da ONU para refugiados palestinos (UNWRA, na sigla em inglês), Chris Gunness.
"Nossas instalações foram atingidas, nossos funcionários foram mortos, apesar do fato de as autoridades israelenses terem as coordenadas sobre nossas instalações e de todos os nossos movimentos serem coordenados com o Exército israelense", acrescentou.
"É com grande pesar que a UNWRA foi forçada a tomar essa difícil decisão", completou Gunness.
A UNWRA comunicou a decisão depois que uma pessoa foi morta e duas ficaram feridas em um ataque israelense contra uma empilhadeira da agência, perto da passagem de Erez.
Cruz Vermelha
Também na quinta-feira, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha acusou Israel de não cumprir sua obrigação de ajudar os civis feridos pelos ataques na Faixa de Gaza.
Segundo a organização, seus funcionários presenciaram cenas "chocantes". Em um incidente, uma equipe médica disse ter encontrado pelo menos 12 corpos em uma casa destruída por bombardeios em Zeitun, ao sul da Cidade de Gaza.
Junto aos cadáveres, segundo a Cruz Vermelha, estavam quatro crianças apavoradas, muito fracas para conseguir levantar, sentadas ao lado dos corpos de suas mães.
A Cruz Vermelha afirma que os agentes humanitários foram impedidos de chegar ao local por dias após o bombardeio.
"Esse é um incidente chocante", disse o chefe de operações da Cruz Vermelha para Israel e territórios palestinos, Pierre Wettach, em um comunicado.
"O Exército de Israel deve ter tomado conhecimento da situação, mas não prestou assistência aos feridos", acrescentou. "E também não permitiu que nós e as equipes do Crescente Vermelho levássemos auxílio aos feridos."