Qammar é morador da Faixa de Gaza e tem parentes no campo de refugiados de Jebaliya, onde forças israelenses e militantes do grupo palestino Hamas entraram em choque. Israel não está permitindo que jornalistas internacionais cruzem a fronteira para a Faixa de Gaza.
Confira abaixo o relato de Qammar.
Na noite passada (sábado), onde eu moro, na parte central da Faixa de Gaza, nós ouvíamos bombas, artilharia e também tiros disparados de helicópteros.
Eu estava observando tudo do topo da casa do meu irmão. Era assustador. Eu também fui para a rua na nossa área. Ela estava virtualmente vazia.
Nós estamos preocupados com os ataques aéreos, especialmente porque os israelenses advertiram uma família que mora aqui perto que eles pretendem destruir a sua casa.
As pessoas aqui ficaram chocadas e entraram em pânico após os primeiros ataques aéreos, há uma semana.
Agora, alguns estão deixando suas casas, não apenas no norte, mas em outros lugares também, onde há algum prédio do Hamas ou mesquita por perto.
Eu vi algumas pessoas se mudando, eles em geral buscam abrigo com parentes e vizinhos.
Eu acabei de falar com um dos meus primos. Ele vive a cerca de 300 metros do campo de refugiados de Jebaliya. Ele disse que há muitos militantes prontos para disparar contra tropas israelenses, que não estão longe da estrada de Salahuddin, a principal via que liga o norte ao sul.
Ele disse que os militantes estão fazendo muita fumaça para esconder os seus movimentos.
Ele disse que há atiradores, forças especiais e tanques israelenses próximos ao populoso campo da Faixa de Gaza.
Se eles entrarem no campo, as pessoas estão preocupadas que a situação vai piorar ainda mais.
Ele tem dois filhos e há mais 15 pessoas na sua casa. Eles têm um quarto pequeno e estão todos amontoados ali, tentando se manter a salvo. Eles estão com muito medo.
Outro primo meu mora no campo. Um dos seus vizinhos ouviu na rádio local que meu primo morreu, mas eu não consegui confirmar a informação porque não consegui falar com ninguém.
Muitos dos telefones, especialmente no norte, não estão funcionando. É uma situação muito difícil, mas o que nós podemos fazer? Eu não posso nem ir ao escritório da BBC, as tropas israelenses dividiram a Faixa de Gaza.
Essas coisas estão tornando a vida muito difícil das famílias em Gaza, especialmente se elas estão tentando se comunicar entre si.
Nós vivemos com preocupação. Durante toda a noite passada, não havia jeito de dormir, com os bombardeios, e não havia jeito de entrar em contato com nossos parentes. Eu tenho duas irmãs que moram no campo de refugiados de Jebaliya e elas também estavam tentando deixar as suas casas.
Eu estou tentando fazer meus filhos pararem de chorar. Eu tento fazer com que eles brinquem, eu estou com eles agora. Eu só quero que eles ignorem o que está acontecendo ao redor deles. Eles dormiram um pouco durante a noite, mas o som dos bombardeios continua os acordando.
Eu disse ao meu filho que tudo está acontecendo longe daqui, mas ele mesmo disse ter visto dois helicópteros acima de nós. Ele tem seis anos de idade. Ele sabe a diferença entre helicópteros, aviões não-tripulados, F16s... tudo isso.