O conflito na estreita faixa da região de Gaza continuou no seu terceiro dia com as forças de Israel a atacarem o norte do território. Ontem haviam cortado a faixa de Gaza em duas partes, atacando a cidade de Gaza em duas frentes (norte e sul).
Hoje, além de atacarem também a cidade de Gaza, as forças de Israel atacaram também a Sul, a cidade de Khan Younis.
As forças do movimento Hamas, não parecem ter apresentado grande resistência, embora tenham ameaçado resistir até ao último homem.
O Hamas, continuou no entanto a efectuar bombardeamentos utilizando vários tipos de sistemas de foguetes de artilharia, muitos deles de constução local, montados nas instalações subterrâneas da região de Gaza.
O sistema mais comum, é o Kassam-2, que é basicamente um foguete M-13, parecido ou inspirado nos foguetes do sistema Katyusha utilizados durante a II Guerra Mundial.
Aparentemente os foguetes de artilharia de posse do Hamas têm vindo a aumentar o seu nível de sofisticação. Embora construídos artesanalmente, os Kassam têm aumentado o seu alcance. As primeiras versões deste foguete tinham um alcance que rondava os 3km, presentemente os foguetes Kassam-2 conseguem atingir até 10km (existe uma versão chamada Kassam-3 com alcance idêntico mas de maiores dimensões).
Centenas destes engenhos foram já utilizados contra o Sul de Israel em diversas ocasiões e ataque das forças armadas de Israel contra a faixa de Gaza tem como principal justificação a destruição das instalações onde os foguetes de artilharia são fabricados, bem como a estrutura militar do Hamas que os lança.
Mais recentemente, além dos foguetes Kassam, o movimento Hamas, também parece dispor de foguetes de 122mm do tipo Katyusha/Grad [1]. Estes foguetes são mais sofisticados e aparentemente foram transportados para a Faixa de Gaza através das redes de Túneis construídos naqueles territórios.
Os foguetes do sistema BM-21 são muito comuns nos países vizinhos e são fabricados tanto pela China como pelo Irão, como ainda pela Síria.
São foguetes feitos com meios adequados e com uma maior qualidade e com combustível mais eficaz, o que lhes permite um maior alcance e precisão.
Nesta Terça-feira por exemplo, foram divulgadas notícias em que se apontava para um ataque do Hamas contra regiões que distam 40km do nordeste da Faixa de Gaza.
Esta informação, pode implicar que o Hamas recebeu não apenas mísseis do sistemas BM-21/Grad, mas que também dispõe de foguetes que são normalmente utilizados pelos sistemas BM-27/Uragan e conhecidos como 9M27.
Sabe-se que como no caso dos foguetes dos sistemas de lançamento BM-21, também os BM-27 são fabricados no Irão, na China e na Síria.
Enorme disparidade do ponto de vista tecnológico
É importante referir que os foguetes de artilharia do movimento Hamas são acima de tudo uma arma psicológica e de terror.
Os sistemas BM-21 são armas de artilharia de saturação. Eles não são guiados e dependem de sistemas de controlo de tiro, para efectuar correcções aos disparos.
Por razões práticas, os militantes do Hamas não podem efectuar correcções aos disparos, pelo que a capacidade para atingir qualquer alvo e mínima.
Além disso os foguetes Kassam-2, senso armas artesanais, não são produzidos com a qualidade e precisão suficientes para garantir uma trajectória de voo certa.
É esta a principal razão para a grande disparidade entre o numero de vítimas de parte a parte neste conflito.
O movimento Hamas sabe que não tem como atingir Israel e não consegue atingir instalações militares.
Por esta razão, a única forma de garantir alguma vantagem junto da opinião pública internacional, é efectuar o lançamento dos seus foguetes de artilharia a partir das proximidades de escolas, hospitais ou qualquer outra instalação que impeça ou que pelo menos condicione a resposta por parte das forças de Israel.
Ao contrário do Hamas, os sistemas israelitas de artilharia dispões de radares de tiro com grande precisão, que permitem efectuar fogo de contra-bateria com grande rapidez e precisão. Os radares conseguem calcular a origem dos disparos e estão conectados por data-link ou mesmo apenas por telefone com as baterias auto-propulsadas de 155mm (derivadas do M-109A5). Em situação de guerra aberta, podem responder de imediato contra os activistas do Hamas.
O problema deste tipo de actuação, quando se está em combate dentro de uma cidade, são os danos colaterais com a morte de civis.
[1] - Estes sistemas são muitas vezes referidos como Mísseis ou Foguetes Grad. Na realidade a expressão Grad, foi utilizada na antiga União Soviética para designar o sistema BM-21, que dispunha de um lançador com 40 tubos para o lançamento de foguetes.
Como normalmente se chama Katyusha a todos os foguetes de família originária na II Guerra Mundial, a expressão Grad, é normalmente aplicada aos modelos mais recentes como o foguete 9P-132 de fabrico russo / soviético e os seus derivados com maior alcance que podem atingir alvos a distâncias superiores a 20km.
Infelizmente a comunicação social confunde míssil com foguete de artilharia e a expressão míssil é muitas vezes utilizada por razões políticas, para dar maior relevância a uma acção de bombardeamento.