Segundo a mídia local, Israel planeja ofensiva terrestre. UE exige que acessos a Gaza sejam reabertos para fins humanitários. Ministro alemão do Exterior teme que Palestina afunde em "espiral de violência".
Em Bruxelas, o encarregado da União Européia (UE) para Assuntos Estrangeiros, Javier Solana, não deixou dúvidas quanto à posição crítica do bloco neste domingo (28/12) e esclareceu: "Os ataques aéreos israelenses provocam um sofrimento insuportável para a população civil palestina. Só pioram a situação humanitária e dificultam a busca por uma solução pacífica para o problema".
Solana reforçou a posição já expressa no sábado pelo presidente francês, Nicolas Sarkozy, de que não há solução militar para o conflito e exigiu que os acessos à Faixa de Gaza sejam reabertos para fins humanitários e econômicos, ao mesmo tempo em que condenou o uso de mísseis por radicais palestinos contra Israel.
Steinmeier: espiral de violência
Semelhante foi a declaração do ministro alemão das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, que exprimiu neste domingo o receio de que o Oriente Médio possa "afundar em uma espiral de violência". Steinmeier salientou o "direito de Israel de se defender", mas também criticou a "desproporcionalidade" de suas operações militares.
Ao mesmo tempo em que a União Européia tem em Israel um de seus mais importantes parceiros internacionais, o bloco é também o maior investidor nos territórios palestinos.
Ataques terrestres previstos?
No domingo, Israel deu prosseguimento aos ataques aéreos com jatos e helicópteros de combate. Além disso, o gabinete de governo em Jerusalém aprovou a mobilização de 6.500 reservistas e, segundo veículos de comunicações locais, o país prepara agora uma ofensiva por terra com tropas e tanques de guerra.
Segundo o primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, Israel se prepara para uma "longa, dolorosa e difícil" guerra. Segundo fontes militares, até agora os ataques aéreos já atingiram 230 alvos, na maioria pertencentes à infra-estrutura do grupo radical-islâmico Hamas, além de edifícios do governo e uma emissora de TV.
De acordo com autoridades palestinas, o número de mortos já passou de 280 e o total de feridos estaria em torno de 900. Com isso, este seria o ataque mais sangrento contra os palestinos desde a Guerra dos Seis Dias em 1967. O início de uma grande ofensiva militar no sabá, o dia semanal de descanso dos judeus, acabou surpreendendo o Hamas.
Para um general comandante da fronteira meridional de Israel, a operação fará a Faixa de Gaza "retroceder décadas". Ron Ben-Yishai, analista militar israelense, descreveu a ofensiva como uma "terapia de choque" com o objetivo de obter um armistício a longo prazo com condições vantajosas para Israel.
Enfraquecer ou depor o Hamas?
A mensagem ao Hamas é de que Israel "sempre reagirá desproporcionadamente" quando seus cidadãos forem ameaçados com mísseis. Mas a ministra do Exterior, Tzipi Livni, vai ainda mais longe ao declarar que seu objetivo é a deposição definitva do Hamas, pois a organização nunca estará disposta a aceitar a paz com o Estado de Israel.
O estrategista político do Hamas, Jalid Mashaal, radicado na capital síria Damasco, convocou os palestinos a uma nova revolta, a "terceira intifada" militar. Mashaal apelou aos rivais políticos do Fatah, liderado pelo presidente palestino, Mahmoud Abbas, para que participem da resistência armada em todos os territórios palestinos.
Calcula-se que na Faixa de Gaza vivem cerca de 1,5 milhão de palestinos, dos quais mais da metade são refugiados. De acordo com organizações humanitárias, a maior parte da população da densamente habitada região costeira mediterrânea vive com menos de dois dólares ao dia. Até 80% depende do envio de alimentos.