Para militares, possível transferência da Escola Superior de Guerra para Brasília prejudicaria alunos, e os funcionários que atuam em serviços essenciais no Rio
O governo brasileiro estuda mudar a sede da Escola Superior de Guerra (ESG). A instituição, sediado no Rio de Janeiro desde 1949, deixaria a cidade e seria instalada em Brasília. A iniciativa da proposta é do ministro da Defesa, Nelson Jobim, mas a mudança ainda depende de aval do Palácio do Planalto. Especialistas e militares, contudo, principalmente os cariocas, mostram-se relutantes à idéia.
A proposta está na mesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde setembro. Jobim e o ministro de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, já realizaram diversas reuniões com o presidente sobre o tema, mas a decisão final ainda não foi tomada. A motivação do Ministério da Defesa para tirar a ESG do Rio de Janeiro e levar para Brasília seria uma tentativa de integrar de maneira mais sólida a escola ao conjunto do comando das Forças Armadas e do governo. De acordo com informações do ministério, a proposta inicial é transferir para Brasília apenas a cúpula da instituição. A ESG e seu corpo de funcionários de médio e baixo escalão continuariam a funcionar normalmente no Rio.
Desconforto
Ainda assim, a possível transferência para Brasília causa desconforto entre militares. A preocupação mais evidente com a ESG, órgão integrante do Ministério da Defesa do Brasil responsável por estudos de alto nível nas áreas de Política, Defesa e Estratégia, está centrada numa eventual reestruração e substituição do corpo permanente, tanto administrativo quanto de ensino, de acordo com militares entrevistados pelo JB. O coronel reformado do Exército, Roberto Machado de Oliveira Mafra - que em 2004 deixou a ESG após 21 anos de serviços prestados tem opinião forte sobre o assunto.
Conferencista emérito da escola atualmente, o oficial, que também é analista geopolítico, disse que por "várias vezes essa idéia já foi aventada" e classificou a possível transferência da escola como um "ver- dadeiro desastre". - É prejuízo total para a escola, para o Rio e para o Brasil, porque ela já está instalada aqui há 59 anos. Seu nome é uma grife - disse o coronel Mafra. - A idéia da transferência deve estar partindo de pessoas que desconhecem a escola, seus cursos e sua utilidade para o país. O Rio ainda é a capital cultural do Brasil. Em Brasília, a ESG vai virar uma escola de funcionários públicos e ainda corre o risco de mudar de nome, como também já foi sugerido.
Prejuízos
Ainda de acordo com o coronel, uma mudança mais completa também traria prejuízos aos alunos - a maioria estagiários vindos de universidades e indústrias de São Paulo.
O governo brasileiro estuda mudar a sede da Escola Superior de Guerra (ESG). A instituição, sediado no Rio de Janeiro desde 1949, deixaria a cidade e seria instalada em Brasília. A iniciativa da proposta é do ministro da Defesa, Nelson Jobim, mas a mudança ainda depende de aval do Palácio do Planalto. Especialistas e militares, contudo, principalmente os cariocas, mostram-se relutantes à idéia.
A proposta está na mesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde setembro. Jobim e o ministro de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, já realizaram diversas reuniões com o presidente sobre o tema, mas a decisão final ainda não foi tomada. A motivação do Ministério da Defesa para tirar a ESG do Rio de Janeiro e levar para Brasília seria uma tentativa de integrar de maneira mais sólida a escola ao conjunto do comando das Forças Armadas e do governo. De acordo com informações do ministério, a proposta inicial é transferir para Brasília apenas a cúpula da instituição. A ESG e seu corpo de funcionários de médio e baixo escalão continuariam a funcionar normalmente no Rio.
Desconforto
Ainda assim, a possível transferência para Brasília causa desconforto entre militares. A preocupação mais evidente com a ESG, órgão integrante do Ministério da Defesa do Brasil responsável por estudos de alto nível nas áreas de Política, Defesa e Estratégia, está centrada numa eventual reestruração e substituição do corpo permanente, tanto administrativo quanto de ensino, de acordo com militares entrevistados pelo JB. O coronel reformado do Exército, Roberto Machado de Oliveira Mafra - que em 2004 deixou a ESG após 21 anos de serviços prestados tem opinião forte sobre o assunto.
Conferencista emérito da escola atualmente, o oficial, que também é analista geopolítico, disse que por "várias vezes essa idéia já foi aventada" e classificou a possível transferência da escola como um "ver- dadeiro desastre". - É prejuízo total para a escola, para o Rio e para o Brasil, porque ela já está instalada aqui há 59 anos. Seu nome é uma grife - disse o coronel Mafra. - A idéia da transferência deve estar partindo de pessoas que desconhecem a escola, seus cursos e sua utilidade para o país. O Rio ainda é a capital cultural do Brasil. Em Brasília, a ESG vai virar uma escola de funcionários públicos e ainda corre o risco de mudar de nome, como também já foi sugerido.
Prejuízos
Ainda de acordo com o coronel, uma mudança mais completa também traria prejuízos aos alunos - a maioria estagiários vindos de universidades e indústrias de São Paulo.
A facilidade de locomoção que os estudantes e conferencistas tem com a escola no Rio não será mais a mesma - argumenta. - São mais de 100 estagiários do país que entram na ESG todos os anos. A Escola é conhecida e respeitada internacionalmente. Em Brasília, prejudicará nossa imagem. Temos estagiários de vários países nos cursos.
O presidente do Clube Militar do Rio de Janeiro, general reformado do Exército Gilberto Figueiredo, acredita que a transferência da escola pode até trazer algumas vantagens. No entanto, cauteloso, preferiu não expor muito sua opinião. No pouco que deixou escapar, não conseguiu esconder o descontentamento. - Desconheço os argumentos e os projetos da transferência, portanto não poderia fazer uma maior análise - explicou o general Figueiredo. - Em tudo na vida, há vantagens e desvantagens, mas em termos de Rio de Janeiro, será mais um esvaziamento. Aos poucos, o Rio vem perdendo sua referência nacional.
Um gasto a mais em tempos de crise mundial
O momento de crise econômica vivida pelo país, ainda com futuro incógnito, é outro problema apontado por militares como um dos fatores que devem ser considerados pelo governo antes de se levar adiante a proposta de mudança física da Escola Superior de Guerra.
– Nesse momento de crise, será prioritária essa transferência? Isso vai demandar gastos – indaga o presidente do clube militar, General Gilberto Figueiredo. – O mais importante é saber o que se pretende com a ESG em Brasília. São militares e civis dentro da escola. Os militares da ativa já estão acostumados com transferências. Já para os que estão na reserva, será mais complicado. Certamente o restante do corpo permanente também precisará ser transferido, o que vai dificultar.
Num tom enfático, o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), capitão da reserva do Exército que já ministrou palestras na ESG, defende a tese de que a transferência da escola para Brasília não atende aos interesses do Brasil no que diz respeito a formação de estrategistas militares.
Esvaziamento
– A maior parte dos alunos são civis acima de 40 anos e pais de família, oriundos do eixo Rio-São Paulo – explica o parlamentar. – A escola em Brasília será esvaziada, tendo em vista as dificuldades dos alunos em se locomoverem e passarem dias longe da família. O centro empresarial do país está no Rio e em São Paulo. Eu tenho uma visão do que é bom para o Brasil. Ao longo dos anos, o Rio já vem sendo esvaziado e com essa transferência, é mais um pouco que ele perde.
Bolsonaro também destacou que "os grandes debatedores e formadores de opinião" passam pela ESG, o que daria uma "vivência muito grande para o aluno". Apesar de nunca ter estudado na ESG, o deputado garante o bom desempenho da instituição.
- É um órgão que estuda o Brasil, se preocupa com o país – diz. – O aluno sai de lá com algo a mais no currículo e uma visão avançada.
O delegado da Associação de Diplomados na ESG de São Paulo, Adauto Roccheto, também se mostra preocupado com a possível mudança na sede da escola, mas não nega que a medida poderia trazer benefícios como um todo para a instituição.
– Por um lado, seria bom, porque a ESG estaria mais próxima dos ministérios, do Congresso – avalia Roccheto. – Seria mais fácil conseguir audiências, manter diálogos. Por outro, tenho certeza que muitos oficiais não gostariam de se mudar para Brasília. E isso pode enfraquecer os quadros da escola.
O presidente do Clube Militar do Rio de Janeiro, general reformado do Exército Gilberto Figueiredo, acredita que a transferência da escola pode até trazer algumas vantagens. No entanto, cauteloso, preferiu não expor muito sua opinião. No pouco que deixou escapar, não conseguiu esconder o descontentamento. - Desconheço os argumentos e os projetos da transferência, portanto não poderia fazer uma maior análise - explicou o general Figueiredo. - Em tudo na vida, há vantagens e desvantagens, mas em termos de Rio de Janeiro, será mais um esvaziamento. Aos poucos, o Rio vem perdendo sua referência nacional.
Um gasto a mais em tempos de crise mundial
O momento de crise econômica vivida pelo país, ainda com futuro incógnito, é outro problema apontado por militares como um dos fatores que devem ser considerados pelo governo antes de se levar adiante a proposta de mudança física da Escola Superior de Guerra.
– Nesse momento de crise, será prioritária essa transferência? Isso vai demandar gastos – indaga o presidente do clube militar, General Gilberto Figueiredo. – O mais importante é saber o que se pretende com a ESG em Brasília. São militares e civis dentro da escola. Os militares da ativa já estão acostumados com transferências. Já para os que estão na reserva, será mais complicado. Certamente o restante do corpo permanente também precisará ser transferido, o que vai dificultar.
Num tom enfático, o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), capitão da reserva do Exército que já ministrou palestras na ESG, defende a tese de que a transferência da escola para Brasília não atende aos interesses do Brasil no que diz respeito a formação de estrategistas militares.
Esvaziamento
– A maior parte dos alunos são civis acima de 40 anos e pais de família, oriundos do eixo Rio-São Paulo – explica o parlamentar. – A escola em Brasília será esvaziada, tendo em vista as dificuldades dos alunos em se locomoverem e passarem dias longe da família. O centro empresarial do país está no Rio e em São Paulo. Eu tenho uma visão do que é bom para o Brasil. Ao longo dos anos, o Rio já vem sendo esvaziado e com essa transferência, é mais um pouco que ele perde.
Bolsonaro também destacou que "os grandes debatedores e formadores de opinião" passam pela ESG, o que daria uma "vivência muito grande para o aluno". Apesar de nunca ter estudado na ESG, o deputado garante o bom desempenho da instituição.
- É um órgão que estuda o Brasil, se preocupa com o país – diz. – O aluno sai de lá com algo a mais no currículo e uma visão avançada.
O delegado da Associação de Diplomados na ESG de São Paulo, Adauto Roccheto, também se mostra preocupado com a possível mudança na sede da escola, mas não nega que a medida poderia trazer benefícios como um todo para a instituição.
– Por um lado, seria bom, porque a ESG estaria mais próxima dos ministérios, do Congresso – avalia Roccheto. – Seria mais fácil conseguir audiências, manter diálogos. Por outro, tenho certeza que muitos oficiais não gostariam de se mudar para Brasília. E isso pode enfraquecer os quadros da escola.