Empresa renova jato militar e tem como meta vender 700 aeronaves
Roberto Godoy
O mais ambicioso projeto militar da Embraer, o jato de transporte médio C-390, mudou a cara e ganhou capacidades novas. Com isso, vai à luta por um mercado de 700 aviões dessa classe que serão trocados ou comprados ao longo dos próximos 11 anos em 77 países. Um negócio, total, de US$ 13 bilhões.
O birreator revisto mantém um desenho avançado - a integração da asa alta foi reprojetada – com grande porta traseira e eletrônica digital de última geração. Voa a 850 km/hora. Cobre 6,3 mil km levando 12,5 mil quilos ou 2,4 mil km com 19 toneladas. Pode ser convertido em avião tanque e sairá da fábrica preparado para ser reabastecido em vôo - por outro C-390.
No Brasil, as encomendas podem chegar a 30 unidades, mas, de acordo com um estudo preliminar do Comando da Aeronáutica, não serão menores que 22. Considerado o pacote mais restrito, e ao custo médio, os investimentos chegarão a US$ 1,3 bilhão. A FAB precisa reforçar a frota de transporte rápido para atender ao conceito do Plano Estratégico de Defesa que pretende ter Forças Armadas com elevado poder de deslocamento. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, revelou a expectativa de receber os aviões a partir de 2015.
Segundo Frederico Curado, presidente da Embraer, o projeto do C-390 exige recursos pesados, situados entre US$ 500 milhões e US$ 600 milhões. A empresa negocia parceria com corporações internacionais. A previsão é de que os acordos sejam anunciados ao longo de 2009.
As mudanças feitas no projeto são significativas. Foram determinadas pela agência tecnológica da Aeronáutica. Um certo número de "potenciais clientes selecionados" entrou na pesquisa, de acordo com o vice-presidente de mercado de defesa, Luiz Carlos Aguiar.
O C-390 foi concebido de forma a preservar pontos comuns com o modelo civil E-190/95 , para 122 passageiros, "em benefício da redução dos custos", afirma Aguiar. Na versão atualizada, a empenagem traseira, onde fica o leme, foi elevada e adotou o formato em T. Os motores devem ser mais potentes. A imagem mostra alterações para melhorar o fluxo aerodinâmico. Há sistemas para o reabastecimento em vôo, indicando que a Força Aérea pretende operar a versão tanker, de transferência de combustível para seus bombardeiros AMX e caças em geral.
A Embraer não divulga dados técnicos do jato de transporte. Todavia, os peritos militares acreditam que tenha mais de 30 metros de comprimento, aproximadamente 29 metros de envergadura e 10 de altura. A carga útil é de 19 toneladas. A caverna da fuselagem abriga 64 pára-quedistas equipados para combate ou 84 soldados de infantaria convencional. Há outros arranjos, combinando um blindado leve e 13 homens; suprimentos e dois veículos leves.
A Aeronáutica quer, ainda, uma configuração para a retirada de feridos ou doentes em zonas de alto risco ou conflito.
MERCADO E CRISE
A Embraer não pretende fazer alterações no seu plano de expansão no mercado de produtos militares. De acordo com o vice-presidente Aguiar, "nosso projeto é continuar atuando no segmento das aeronaves de ataque leve e treinamento, como é o Super Tucano, e de sistemas ISR (a sigla em inglês para inteligência, reconhecimento e vigilância) montados sobre plataformas comerciais". A meta é atingir 20% do faturamento anual da companhia. Apenas para a necessidade do Comando da Aeronáutica, a Embraer está cuidando da revitalização de 57 a 59 supersônicos F-5E, americanos, fabricados nos anos 70 e 80 e também da atualização tecnológica de 53 bombardeiros leves subsônicos AMX. Ambos os empreendimentos são executados na fábrica de Gavião Peixoto, a 300 km de São Paulo. A unidade de negócios de Defesa é um núcleo de mil pessoas.
A empresa vai participar da escolha F-X2 para compra dos novos caças avançados da FAB, "mas adotou posição de neutralidade, embora seja a indústria aeronáutica nacional beneficiária dos acordos de transferência de tecnologia do processo", explica Aguiar.
A Embraer foi atingida indiretamente pela crise dos mercados internacionais. O presidente Frederico Curado anunciou um corte na estimativa de entregas para 2009 - das 315 a 350 aeronaves que estavam previstas, talvez cheguem aos clientes apenas 270, em conseqüência de renegociações e adiamentos. A receita vai ficar em R$ 6,3 bilhões, R$ 800 milhões abaixo do esperado para o ano.
Curado nega que a corporação pretenda reduzir o pessoal e demitir 4 mil funcionários.