Investimento em estaleiro especializado em submarinos, no Rio, será de US$ 3 bilhões
Ana Cecília Americano
A vinda do presidente francês, Nicolas Sarkozy, e seus entendimentos com o governo brasileiro deixaram pelo menos dois governadores particularmente satisfeitos: Aécio Neves, de Minas Gerais, e Sérgio Cabral, do Rio. Para ambos, os acordos firmados entre empresas francesas e o governo brasileiro resultarão em investimentos de 1,89 bilhão de euros em um pólo de indústria aeronáutica, no caso mineiro e – segundo informou Cabral – num estaleiro especializado em submarinos, orçado em mais de US$ 3 bilhões, no caso fluminense.
– Estamos falando da construção de um segundo pólo aeronáutico no Brasil – comemorou o governador mineiro, presente no segundo dia de trabalhos entre Sarkozy e Lula, no Copacabana Palace, no Rio de Janeiro. – Esse acordo, do ponto de vista de fronteira tecnológica, talvez seja o mais importante que o Brasil assinou nas últimas décadas, depois da criação da Embraer.
O governador se refere à encomenda das Forças Armadas brasileiras de 50 helicópteros EC 725, à Eurocopter, controladora da Helibras. A empresa, no Brasil, tem 25% do seu capital nas mãos do governo mineiro. Globalmente, faz parte do grupo francês Eads – que detém, ainda, a Airbus, a ATR e a Aviões de Transporte Militar. O acordo está sendo visto como o primeiro de vários com o governo brasileiro na área de equipamentos de defesa e transporte militar.
Helibras
Segundo a Helibras, trata-se de o maior contrato de encomendas de helicópteros já realizado na América do Sul. As primeiras entregas de unidades serão feitas ainda em 2010 e construídas a partir de Itajubá, onde está a fábrica da Helibras.
Aécio classificou o contrato como "crucial ao país" devido à transferência de tecnologia envolvida.
– Será o primeiro pólo de fabricação de helicópteros de grande porte da América Latina – disse.
De acordo com o governador, abre-se a perspectiva de novo mercado ao produto francobrasileiro:
– Certamente a Eurocopter está olhando para as demais demandas da região, como as da Petrobras, com o pré-sal, e para outros mercados emergentes, a exemplo do Chile, que já demonstrou o seu interesse.
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, também presente no encontro, fez coro ao governador sobre a importância do acordo.
– Será a base de um grande mercado nacional para helicópteros. Estamos criando uma fábrica de grande porte no Brasil. E Itajubá é só uma parte dele – explicou.
A fábrica exigirá a contratação de mais 500 funcionários pela Helibras e outros 5 mil trabalhadores indiretos, por meio de seus fornecedores. O projeto prevê um alto índice de nacionalização dos helicópteros. Segundo Jobim, as turbinas serão feitas pela carioca Turbomeca, do grupo Safran, especializada na produção de turbinas de pequena e média potências. Sem mencionar nomes, Jobim adiantou, ainda, que a aviônica, isto é, a parte dos instrumentos do painel de controle dos helicópteros, vai ser feita por uma empresa do Rio Grande do Sul com experiência na área.
A encomenda das Forças Armadas será financiada por um pool de bancos, já equacionado. De acordo com o Ministro da Defesa, o empréstimo deverá ser quitado até 2026. Aécio Neves adiantou que um sinal de R$ 200 milhões será dado pelo Tesouro Nacional.
O governador mineiro considera tão estratégico a criação do pólo aeronáutico do estado que está discutindo um conjunto de medidas de estímulo fiscal para levar alguns fornecedores a se instalarem próximos à fábrica de Itajubá.
– Já foi feita com a Fiat, em Minas Gerais – adiantou.
Para Sérgio Cabral, o estaleiro para a construção dos quatro submarinos convencionais e a parte não nuclear de um submarino nuclear, em Itaguaí, serão estratégicos para o futuro do estado fluminense.
– Só no estaleiro, durante a sua construção, deverão ser investidos mais de US$ 3 bilhões – estimou.
No caso fluminense, o projeto prevê uma parceria da Marinha com a Odebrecht e empresas francesas no setor nuclear.
Ontem, ainda, Sarkozy anunciou um plano de ajuda à indústria automotiva francesa em dificuldades. O pacote destinado ao setor deverá ser implementado antes do fim de janeiro de 2009.
– Não se trata de uma medida de proteção, é para ajudar a construir os carros do futuro – afirmou, fazendo referência aos automóveis elétricos.