KIWANJA (Congo Democrático) - Um frágil cessar-fogo aparentemente se encerrava na quarta-feira no leste do Congo Democrático (antigo Zaire), enquanto as Nações Unidas afirmavam que os confrontos entre rebeldes e o Exército chegaram a outra cidade da região.
Um porta-voz da Organização das Nações Unidas (ONU) afirmou que o mais recente palco da violência era Nyanzale, na província de Kivu do Norte. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu um cessar-fogo imediato no leste do Congo Democrático e apelou aos grupos armados envolvidos na luta que apóiem as negociações para chegar a uma solução pacífica para o conflito.
Segundo o funcionário da ONU no Congo Democrático, vários soldados e um "grande número de desalojados" fugiram da área. O líder dos rebeldes, o general renegado Laurent Nkunda, disse que suas tropas foram atacadas antes do amanhecer por milícias pró-governo. "Meus soldados têm o direito de se defender", afirmou, em entrevista por telefone.
Mas rebeldes e milícias não parecem estar respeitando civis. Moradores do povoado de Kiwanja, que começaram a voltar para casa, disseram que os rebeldes mataram os suspeitos de apoiar uma milícia local favorável ao governo, chamada Mai Mai. No povoado, alguns cadáveres estavam nas ruas.
Os rebeldes disseram que os mortos, a maioria homens com roupas civis, eram combatentes da milícia que foram abatidos em um confronto.
Segundo Nkunda, havia confrontos com soldados em outras duas cidades: Mweso e Kashuga. O general fez novamente uma ameaça de marchar não somente até Goma, a capital provincial, mas até a capital do país, Kinshasa.
Nkunda declarou um cessar-fogo unilateral no dia 29, quando seus comandados estavam próximos de Goma. Com isso, o Exército congolês iniciou uma humilhante debandada em massa da região. O general renegado quer negociações diretas com o governo do presidente Joseph Kabila. A atual administração se dispõe a manter encontros com todos os milicianos da região juntos, mas não somente com Nkunda. Há dezenas de milícias atuando na área.
O conflito no leste do Congo Democrático é também causado pela tensão étnica deixada pelo massacre de meio milhão de tutsis pelos hutus na vizinha Ruanda, em 1994. Há ainda cicatrizes abertas nas guerras civis ocorridas entre 1996 e 2002 no Congo Democrático, que levaram países da região a se mobilizar para se beneficiar das riquezas mineiras do território congolês.
Expulso do Exército do Congo Democrático em 2004, Nkunda argumenta que o governo local não protege os tutsis de uma milícia hutu que fugiu para o país. Para os críticos ele exagera a ameaça aos tutsis e é um fantoche do governo de Ruanda.