Segundo analistas especializados, a Índia não é mais uma potência naval emergente. A Marinha indiana, criada oficialmente em 1947, tornou-se a mais poderosa força naval entre os países banhados pelo Oceano Índico e já goza de grande prestígio internacional, embora ainda tenha problemas a resolver e limitações a superar.
Esta Marinha tem um efetivo aproximado de 53 mil homens e mulheres (inclusive 7.500 oficiais), dos quais 5 mil na Aviação Naval e cerca de 2 mil nos Fuzileiros Navais. O chefe do Estado-Maior Naval exerce o comando e a direção geral, enquanto que seus subordinados diretos estão encarregados dos assuntos relativos a operações, pessoal, material e logística.
A Marinha indiana possui três Comandos Navais. Dois deles, com suas respectivas esquadras, estão sediados nos litorais Ocidental (Mar da Arábia) e Oriental (Golfo de Bengala). Para fins de treinamento, existe ainda o Comando Naval do Sul. O recém-criado Comando das Adaman e Nicobar é um comando combinado, que também inclui unidades navais.
A Marinha indiana dispõe atualmente de dois navios-aeródromo, o INS Viraat e o INS Vikramaditya, além de 16 submarinos, 32 contratorpedeiros e fragatas, 47 corvetas e navios-patrulha, 17 navios de desembarque, 10 navios-tanque e diversos outros tipos de unidades auxiliares. Sua Aviação Naval é composta por 15 esquadrões e cerca de 150 aeronaves.
Estão em construção no país o INS Vikrant (primeiro de uma série de três novos naviosaeródromo) e vários outros navios de superfície. Seis novos submarinos da classe "Scorpene", dotados de propulsão auxiliar independente da atmosfera, poderão ser construídos. Em 2002, começou a construção do casco do primeiro submarino indiano com propulsão nuclear.
As indústrias de defesa da Índia têm sido beneficiadas, por meio de acordos de cooperação com a Rússia e com diversos países ocidentais. A Marinha indiana vem sendo modernizada com material desenvolvido e produzido pela indústria local, e não apenas com navios de superfície, submarinos, aeronaves e armamento recebidos do exterior.
As principais preocupações estratégicas da Marinha indiana relacionavam-se ao Paquistão e à China, mas isso vem mudando. Desde 2001, a ênfase está passando das duas hipóteses tradicionais de conflito para uma nova estratégia, que visa à defesa do interesse nacional em toda a extensão do Oceano Índico, contra ameaças como o terrorismo e a pirataria.
A Estratégia Marítima indiana de outubro de 2006 é um documento sigiloso. Na concepção indiana, os fatores envolvidos numa estratégia são: os interesses que podem ser ameaçados; as ameaças reais ou potenciais a tais interesses; e a estrutura de forças capaz de se contrapor a tais ameaças. A expansão naval do país estaria associada à ampliação de tais fatores.
O subcontinente indiano projeta-se de norte a sul, como uma cunha, sobre o Oceano Índico, o que confere à Índia uma posição estratégica vantajosa naquele oceano. Boa parte dos interesses marítimos indianos, que se estendem da África Meridional à Austrália e ao Estreito de Málaca, está voltada para o Hemisfério Sul.
Em maio de 2008, um grupo-tarefa indiano, integrado pelo contratorpedeiro INS Mumbai e pela corveta INS Karmuk, participou da 1ª Operação IBSAMAR, com unidades navais do Brasil e da África do Sul. Esta operação foi realizada em águas sul-africanas, simultaneamente à 5ª Reunião Ministerial do Fórum IBSA (India, Brazil and South Africa), realizada em Cape Town.
Brasil, Rússia, Índia e China formam o grupo de países conhecido como BRIC.
Segundo a publicação CIA World Factbook 2008, o Produto Interno Bruto (PIB) da Índia em 2007, pelo critério de paridade de poder de compra, foi de US$ 2,966 trilhões (5º lugar mundial). Desse total, 71,8% correspondiam à agricultura, 29,4% à indústria e 52,8% aos serviços.
Em 2007, a economia indiana cresceu 9%, mas a renda média do país foi de apenas US$ 2.600 por habitante (167º lugar). Segundo dados relativos ao ano de 2006, o orçamento de defesa da Índia correspondia então a 2,5% do PIB (66º lugar).
Também pelo critério de paridade de compra, o PIB brasileiro em 2007 foi de apenas US$ 1,849 trilhão (10º lugar mundial). Contudo, embora o Brasil só tenha crescido 5,4% em 2007 (101º lugar), sua renda por habitante foi de US$ 9.500 no período (106º lugar).
Os perfis socioeconômicos da Índia e do Brasil são bem diferentes. A economia indiana vem crescendo aceleradamente, embora o PIB por habitante ainda seja bastante baixo. O Brasil, apesar de uma taxa de crescimento relativamente baixa, teve em 2007 uma renda por habitante pouco inferior à média mundial de US$ 10 mil.
As estimativas externas sobre gastos de defesa do Brasil primam pela inexatidão. Segundo estimativas de 2006, que constam da publicação citada, os gastos do Brasil com sua defesa foram então de 2,6% do PIB (62º lugar mundial), o que corresponderia a mais de US$ 45 bilhões. Contudo, tais estimativas contradizem dados oficiais disponíveis na Internet.
Em 2006, o orçamento executado do Ministério da Defesa brasileiro foi de R$ 34,487 bilhões (cerca de US$ 15 bilhões), correspondendo a 89,8% do total autorizado no início do ano, que foi de R$ 38,406 bilhões (US$ 16,7 bilhões). No Brasil, o Orçamento da União não é impositivo. O valor gasto correspondeu assim a 0,95% do PIB de 2006, estimado em US$ 1,754 trilhão.
Como a Índia no Oceano Índico, o Brasil ocupa posição estratégica de destaque, no Atlântico Sul. Só que em nosso país o mar, assim como a defesa, há muito deixou de fazer parte da agenda política nacional. Se a expansão marítima indiana prosseguir, os brasileiros ainda ouvirão falar bastante, a respeito da Índia e de sua Marinha.
Eduardo Italo Pesce
Especialista em Relações Internacionais, professor no Centro de Produção da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Cepuerj) e colaborador permanente do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Escola de Guerra Naval (Cepe/EGN)