Do início de anteontem até a tarde de ontem, 42 t de suprimentos haviam sido entregues
Carlos Wagner
Na tarde de ontem, o tenente Marcelo Browne, da Força Aérea Brasileira (FAB), posicionou o C-105 Amazonas, avião de transporte de tropa e cargas, na cabeceira da pista da Base Aérea de Canoas.
A bordo, com 5 toneladas de material de limpeza, 11 tripulantes iniciavam um vôo de 1h15 até o centro da devastação, no quinto vôo da chamada “ponte aérea da solidariedade”.
Do início de anteontem até a tarde de ontem, ele havia transportado 42 toneladas - 90% de alimentos - para os flagelados. A carga é entregue na base aérea pelos caminhões da Defesa Civil e carregada nos cargueiros da FAB. Ontem, em Navegantes, de onde está coordenando a comunicação social da Aeronáutica, o major-aviador Roberto Martire estabelecia objetivos. “Nossa intenção é, ainda hoje (ontem), fazer mais dois vôos trazendo víveres do Rio Grande do Sul.”
Durante o vôo, a tripulação usa tampões nos ouvidos para suportar o ruído dos dois motores turboélice. O avião voa a uma altura média de 4 mil metros, a 440 km/h. A carga ocupa mais de 95% do espaço.
O sargento Welber Porto, um dos mais calejados em missões de ajuda humanitária, comentou que já voou para ajudar vítimas de vários tipos de catástrofe, mas jamais havia visto um quadro tão aterrador como o que viu pela janela do Amazonas quando aterrissou pela primeira vez em Navegantes.
“Parecia que o aeroporto era o único pedaço de terra seca que existia lá embaixo.”
De maneira geral, o quinto vôo foi sereno até os últimos 15 minutos, quando o Amazonas começou a sobrevoar a região de Navegantes. O tempo mudou. As espessas nuvens e o vento forte tornaram os últimos instantes do vôo tenso. Havia a ameaça de fechar o aeroporto.
Depois de uma manobra para diminuir a velocidade, a aeronave pousou. O movimento em terra era intenso. Normalmente, ocorrem 12 pousos e decolagens diários. Ontem, foram 600. A maior parte deles feita pelos 15 helicópteros que levam mantimentos para os flagelados. Há um contingente de 250 trabalhadores voluntários no local. Davi Costa, funcionário público, é um deles. Sua tarefa é retirar a carga dos aviões da FAB e colocar em um caminhão, que as leva até um depósito. Lá, os alimentos são classificados e levados para os helicópteros, que os transportam até os flagelados. “É tudo muito rápido.
Os pacotes entram por uma porta e saem pela outra em menos de uma hora.” O avião foi descarregado em uma hora.
No fim da tarde, o Amazonas levantou vôo rumo a Canoas. Na viagem, a tripulação distribui o que chamam de “biscoitos mais viajados do mundo”. Ao aterrissar, já estavam estacionadas nas pistas da base aérea duas carretas de doações para serem transportadas até os flagelados no sexto vôo da “ponte aérea” previsto para a noite.