Classificação de risco nos bairros é alvo de críticas
Dois oficiais do Exército brasileiro que estiveram no Haiti com responsabilidade de comando disseram ao Estado que a prorrogação da Minustah interessa a funcionários civis da ONU mais preocupados com o próprio salário e bem-estar do que com a reconstrução do país.
Segundo eles, a proximidade com Miami - a uma hora e meia de distância com três vôos diários - faz da missão um oásis para funcionários estrangeiros que preferem estar na América a trabalhar em missões ingratas na África ou no Oriente Médio.
Além disso, eles acusam a ONU de manter a classificação de "zonas vermelhas" em bairros que, do ponto de vista militar, já foram pacificados, como Cité Soleil, Cité Militaire e Bel Air. Até hoje, os funcionários da ONU são proibidos pelo regulamento de pessoal de circular por essas zonas sem escolta das Forças Armadas.
"Estou plenamente de acordo (com a declaração dos militares). É isso mesmo", disse o embaixador brasileiro em Porto Príncipe, Igor Kipman. "Vou a Cité Soleil com minha mulher, caminho a pé na rua, sem colete e sem capacete. No dia 7 de setembro levei lá o senador Heráclito Fortes e mais três senadores, todos sem colete nem capacete, foram e andaram em Cité Soleil, mas (o bairro) ainda é considerado pela ONU zona vermelha."
"Eu me senti seguro", confirmou o senador. "Mas há um clamor de que eles (os soldados) permaneçam."
O cientista político Ricardo Seintenfus disse que "chegou o momento dessa missão não ser mais considerada de alto risco pela ONU". Segundo ele, "isso tem implicado o pagamento de adicionais de 30% a 35% a mais para os funcionários da missão. Deveríamos terminar com essa situação de zona vermelha".
No início da Minustah, em 2004, o governo brasileiro esperava que a responsabilidade assumida no Haiti reforçasse suas credenciais por um assento permanente no Conselho de Segurança, embora siga negando publicamente.
Ao mesmo tempo, ao assumir o comando da missão, o Brasil projetava na América do Sul a imagem de um país capaz de assumir responsabilidades no âmbito da segurança regional.
A experiência acabou servindo também para pôr à prova as Forças Armadas brasileiras em situações de distúrbios e tensões internas, além de operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), criando condições para o uso do Exército no Brasil, como na Operação Guanabara, realizada nas favelas do Rio de Janeiro durante o primeiro turno das eleições municipais de domingo.
"A parte militar foi das mais exitosas de todas as missões já realizadas pela ONU", disse o comandante do Centro de Instrução de Operações de Paz do Exército, o coronel Luiz Novaes. "Nós resolvemos problemas que outras missões no Haiti não tinham conseguido resolver antes."
Seintenfus acha que desde a criação da Minustah, houve um excesso de militarização: "Os programas civis são feitos individualmente pelos países - o Brasil faz, a Argentina tem programa de hortas, o Canadá faz alguma coisa com vacinas - ,mas não há um sistema coerente e um projeto completo nem há centralização e planejamento nisso. A culpa é de muita gente. É dos países doadores que preferem concentrar recursos na manutenção da segurança, é da história da ONU, que vê esses conflitos essencialmente sob a ótica militar e é também da fraqueza dos países do sul que não conseguem convencer os doadores de que a questão social está na raiz dos problemas de segurança."
Dois oficiais do Exército brasileiro que estiveram no Haiti com responsabilidade de comando disseram ao Estado que a prorrogação da Minustah interessa a funcionários civis da ONU mais preocupados com o próprio salário e bem-estar do que com a reconstrução do país.
Segundo eles, a proximidade com Miami - a uma hora e meia de distância com três vôos diários - faz da missão um oásis para funcionários estrangeiros que preferem estar na América a trabalhar em missões ingratas na África ou no Oriente Médio.
Além disso, eles acusam a ONU de manter a classificação de "zonas vermelhas" em bairros que, do ponto de vista militar, já foram pacificados, como Cité Soleil, Cité Militaire e Bel Air. Até hoje, os funcionários da ONU são proibidos pelo regulamento de pessoal de circular por essas zonas sem escolta das Forças Armadas.
"Estou plenamente de acordo (com a declaração dos militares). É isso mesmo", disse o embaixador brasileiro em Porto Príncipe, Igor Kipman. "Vou a Cité Soleil com minha mulher, caminho a pé na rua, sem colete e sem capacete. No dia 7 de setembro levei lá o senador Heráclito Fortes e mais três senadores, todos sem colete nem capacete, foram e andaram em Cité Soleil, mas (o bairro) ainda é considerado pela ONU zona vermelha."
"Eu me senti seguro", confirmou o senador. "Mas há um clamor de que eles (os soldados) permaneçam."
O cientista político Ricardo Seintenfus disse que "chegou o momento dessa missão não ser mais considerada de alto risco pela ONU". Segundo ele, "isso tem implicado o pagamento de adicionais de 30% a 35% a mais para os funcionários da missão. Deveríamos terminar com essa situação de zona vermelha".
No início da Minustah, em 2004, o governo brasileiro esperava que a responsabilidade assumida no Haiti reforçasse suas credenciais por um assento permanente no Conselho de Segurança, embora siga negando publicamente.
Ao mesmo tempo, ao assumir o comando da missão, o Brasil projetava na América do Sul a imagem de um país capaz de assumir responsabilidades no âmbito da segurança regional.
A experiência acabou servindo também para pôr à prova as Forças Armadas brasileiras em situações de distúrbios e tensões internas, além de operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), criando condições para o uso do Exército no Brasil, como na Operação Guanabara, realizada nas favelas do Rio de Janeiro durante o primeiro turno das eleições municipais de domingo.
"A parte militar foi das mais exitosas de todas as missões já realizadas pela ONU", disse o comandante do Centro de Instrução de Operações de Paz do Exército, o coronel Luiz Novaes. "Nós resolvemos problemas que outras missões no Haiti não tinham conseguido resolver antes."
Seintenfus acha que desde a criação da Minustah, houve um excesso de militarização: "Os programas civis são feitos individualmente pelos países - o Brasil faz, a Argentina tem programa de hortas, o Canadá faz alguma coisa com vacinas - ,mas não há um sistema coerente e um projeto completo nem há centralização e planejamento nisso. A culpa é de muita gente. É dos países doadores que preferem concentrar recursos na manutenção da segurança, é da história da ONU, que vê esses conflitos essencialmente sob a ótica militar e é também da fraqueza dos países do sul que não conseguem convencer os doadores de que a questão social está na raiz dos problemas de segurança."