O mundo deveria ficar chocado com a destruição sistemática da capital da Somália, Mogadíscio, e de seus moradores, afirmou nesta segunda-feira a organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch. A entidade disse à BBC que a capital se tornou uma zona para combates livres entre o governo e forças insurgentes.
Segundo a Human Rights Watch, a situação receberia mais atenção internacional se tivesse ocorrido em qualquer outra parte do mundo, como a Geórgia ou o Líbano.
Como é na Somália, é a tragédia mais ignorada do mundo hoje, na avaliação da organização.
Mogadício está morrendo: é uma cidade na costa do Oceano Índico que costumava ser um dos principais centros comerciais da África com o Oriente Médio.
Agora, vastas áreas estão em escombros e há esqueletos de prédios sem portas, janelas e telhado.
O aspecto mais chocante, mais estranho, é que em várias partes da capital toda a população fugiu.
Ajuda
Os combates entre o governo apoiado pelos Estados Unidos e insurgentes islâmicos e nacionalistas, que Washington acusa de ter ligações com a rede extremista Al-Qaeda.
O governo da Somália não tem capacidade para apurar o número de pessoas que fugiram e não há mais no país trabalhadores de organizações internacionais de ajuda para fazer isso porque eles seriam seqüestrados ou assassinados.
Mas os combates têm sido piores para os moradores de Mogadíscio do que os vividos durante o sombrio período em meados da década de 90 retratados no filme Falcão Negro em Perigo (Black Hawk Down, no título original). O filme retrata a morte de soldados americanos na Somália em uma época em que lei e ordem haviam se desintegrado no país.
Hoje, a situação está muito mais difícil. Eu estava na cidade naquele período extremamente violento.
Não havia noite em que explosões não iluminavam o céu, mas mesmo naquele tempo a capital da Somália não ficou tão vazia quanto nos confrontros fratricidas diários que ocorrem hoje entre governo e seus opositores armados.