Em maio de 2004, a queda de um avião Brasília, da Rico Linhas Aéreas, causou a morte de 33 pessoas em Manaus. Imediatamente após o acionamento, o helicóptero de alerta se deslocou para a área do acidente. Equipada com óculos de visão noturna, a tripulação iniciou o resgate dos corpos na que seria a primeira missão SAR utilizando NVG na América do Sul.
Kaiser Konrad | DefesaNet
Enviado Especial a Manaus
Três anos depois, movimentos sociais (irregulares) invadiram as instalações da Usina Hidrelétrica de Tucuruí, no Pará. Na sala de controle, terroristas ameaçaram desligar o sistema elétrico e deixar toda a região norte do país às escuras. As aeronaves do 4ºBAvEx foram acionadas e cumpriram as missões de reconhecimento, segurança e transporte de Forças Especiais, que longe dos holofotes da mídia e na penumbra característica de suas ações, desalojaram os invasores e garantiram a segurança das instalações vitais da usina.
O 4º Batalhão de Aviação do Exército (BAvEx)
O 4º Batalhão de Aviação de Exército está localizado ao lado da Base Aérea de Manaus, numa área de relevo irregular onde foi construído o primeiro hangar suspenso do Brasil. É a única unidade de asas rotativas do Exército Brasileiro na Amazônia, e tem uma área de responsabilidade de quase metade do território nacional. Comandado pelo Coronel Achilles Furlan Neto, possui um efetivo de 300 militares, sendo 35 deles pilotos. Está subordinado diretamente ao Comando Militar da Amazônia (CMA).O 4º BAvEx está equipado com 11 Helicópteros de Manobra de três modelos diferentes, sendo 4 HM-2 Blackhawk (Sikorski S70A), 3 HM-1 Pantera (Eurocopter AS 365), e 4 HM-3 Cougar (Eurocopter AS 532 UE). O número reduzido de aeronaves contrasta com a quantidade necessária e o número de missões. “As exigências e características operacionais, e as longas distâncias nos deslocamentos, exigem que no mínimo dobremos o número de aeronaves disponíveis”, afirma o chefe de operações do CMA, General-de-Brigada Carlos Alberto Da Cás. “Esperamos em breve instalar outro batalhão de aviação em Belém-PA, a capital da Amazônia Oriental, e no futuro espera-se a criação de uma Brigada de Aviação do Exército na região amazônica”.
A necessidade de helicópteros de ataque tanto equipando o 4º BAvEx como em futuras unidades é um consenso entre os militares. Atualmente este vácuo está sendo suprido pelos Fennec que estão em Taubaté, e que, no caso de um acionamento têm 48 horas para se deslocar e operar em qualquer lugar do Teatro de Operações da Amazônia.
A aeromobilidade na selva amazônica está dividida em duas doutrinas operacionais: A Gama, de combate e resistência; e a Alfa, de combate convencional. Dentro dessas duas doutrinas de emprego da força militar no Teatro de Operações da Amazônia (TOA), poderão ser realizadas uma série de missões específicas que estão dividas em:
Missões de apoio ao combate: Comando e controle, observação de tiro – necessária em ambiente de selva – SAR, reconhecimento, segurança, incursão, infiltração e exfiltração aeromóveis.
Missões de apoio logístico: Ressuprimento das bases, destacamentos e pelotões especiais de fronteira, lançamento de pára-quedistas e Forças Especiais, evacuação aeromédica e transporte.
No 4º Batalhão de Aviação do Exército (BaVEx), todas as missões são reais. Por isso o alto-nível de operacionalidade de suas tripulações. Os helicópteros estão equipados com a metralhadora lateral Mag 7.62 e podem estar em operação em qualquer ponto da fronteira brasileira na área de CMA apenas 15 horas após o recebimento da missão.
Como a vastidão da floresta foge a autonomia de qualquer helicóptero disponível hoje no mercado, para cada desdobramento do batalhão, tanques de combustíveis de campanha, chamados plots, são transportados e distribuídos em zona segura para que mesmo durante a ação, as aeronaves possam pousar, reabastecer e retornar ao combate.
A Aviação do Exército é fundamental para qualquer atividade militar na Amazônia, seja na paz e principalmente na guerra. A escassez de recursos, o avançado tempo de uso das aeronaves, somados à exigência a níveis extremos de operação, características da região, e a dificuldade no suprimento de peças, no caso dos Blackhawk, são questões sérias que necessitam de uma maior atenção do Comando do Exército, caso contrário em médio-prazo toda a frota de asas rotativas do Exército ficará parada nos hangares.
Acompanhe uma entrevista com o Comandante do 4º BAvEx, Cel Achilles Furlan Neto:
Defesanet - Quais as peculiaridades do vôo de helicóptero na Amazônia?
Cel Furlan: As condições meteorológicas são extremas e suas mudanças são repentinas. Como as distâncias aqui são muito grandes e os vôos têm longa duração, o piloto que decola com uma condição meteorológica favorável pode encontrar no meio do caminho uma mudança radical no tempo. Aqui não é como o sul ou o sudeste do país, onde podemos pousar sempre que as condições de tempo ficam ruins. Essa facilidade que o helicóptero tem não pode ser desfrutada na selva e, quando uma clareira é achada, a tripulação não tem como avisar a unidade que fez um pouso em segurança, o que deixa todos apreensivos e preocupados.
Defesanet – Como acontece o acionamento para uma missão?
Cel Furlan: Normalmente recebo a missão por telefone. Quando o assunto é sigiloso, sou convocado ao Comando Militar da Amazônia, onde recebo todas as informações sobre a missão a ser cumprida. Passo elas ao meu oficial de operações, que com sua equipe vai planejá-la. Como somos acionados constantemente, o nosso briefing é menor. Basta informar o piloto qual a missão e as ameaças envolvidas, e ele vai cumprir. No caso de uma missão em quaisquer das fronteiras da região norte, após acionado, e com condições meteorológicas normais, estaremos no local, prontos para entrar em ação em até 15 horas.
Defesanet – Existe a necessidade de equipar o Batalhão com um helicóptero de ataque?
Cel Furlan: Todo exército no mundo deve ter helicópteros de ataque. Eles têm um poder dissuasório muito grande. Mas eu preciso de uma aeronave que se proponha a fazer o que preciso dela aqui na Amazônia, que além de fortemente armada, possua grande autonomia.
Defesanet – Existe a necessidade de aumentar o número de aeronaves do Batalhão?
Cel Furlan: Sem dúvida! No mínimo o dobro. Falo em ter disponíveis pelo menos 25 aeronaves. Nesta semana estamos realizando 4 missões ao mesmo tempo. Se por problemas nas aeronaves, dificuldade logística ou no fornecimento de peças, eu tenha que tirar um único aparelho de operação, numa frota diminuta como a que tenho, isto terá um reflexo muito grande. Mesmo assim, temos um ponto de honra no Batalhão de jamais deixar de cumprir uma missão. Sabemos que o CMA conta somente conosco e se não pudermos apoiá-lo, ninguém poderá.