Exército e Marinha preparam, para o domingo de eleição, ocupação simultânea de 27 favelas por 5.800 militares com 250 veículos de guerra e aeronaves. Aparato ainda pode aumentar
Christina Nascimento
Rio - Cerca de 370 mil eleitores vão votar sob a proteção do Exército e da Marinha, no domingo, quando acontece o primeiro turno das eleições. O número reflete o mapa dos currais eleitorais que ficaram na mira do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) durante 20 dias, quando as tropas patrulharam 27 comunidades onde moradores estariam sofrendo coação do tráfico ou de grupos de milicianos.
Os eleitores vão sair para votar num Rio de Janeiro ocupado por 5 mil homens da 9ª Brigada de Infantaria Motorizada, Brigada Pára-Quedista e Artilharia Divisionária da 1ª Divisão. Eles vão ficar em 23 comunidades e devem se locomover, pelas estimativas do porta-voz do Comando Militar do Leste, coronel André Luiz Novaes Miranda, em 250 veículos e seis helicópteros. "O número ainda não foi fechado, mas não acredito que deva fugir muito dessa proporção", afirmou o oficial.
FUZILEIROS NAVAIS
Somam-se ao contingente do Exército 800 fuzileiros navais, que vão se dividir para garantir a segurança nas favelas do Salgueiro, na cidade de São Gonçalo; Vila do João e Conjunto Esperança, no Complexo da Maré; e Vila do Cruzeiro, no Complexo da Penha. São as mesmas comunidades em que eles estiveram na primeira fase da Operação Guanabara. A área total de patrulhamento da Marinha compreende 64.974 eleitores.
A maior parte deste colégio eleitoral encontra-se na Favela Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha. Levamento feito por O DIA nos cartórios da região revela que aproximadamente 44 mil pessoas da comunidade votam na vizinhança.
LOGÍSTICA DIFERENTE
Ao contrário da Marinha, a distribuição da tropa do Exército vai seguir logística diferente da que foi empregada até o momento. As comunidades Cidade de Deus, Gardênia Azul e Rio das Pedras, na Zona Oeste do Rio, por exemplo, que tiveram 500 homens em patrulhamento no início da Operação Guanabara, no dia do pleito receberão apenas 150 militares cada uma.
De acordo com o porta-voz do Comando Militar do Leste, as tropas vão iniciar os trabalhos uma hora antes do início da votação e vão ficar a 100 metros das zonas eleitorais. Ele informou ainda que não há pedido do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para que os militares acompanhem a fase de apuração dos votos. "Isso ainda não foi pedido, mas há tempo suficiente", informou o coronel André Luiz Novaes Miranda.
PRESIDENTE DO TRE SE REÚNE COM CML
O presidente em exercício do Tribunal Regional Eleiroal (TRE), desembargador Alberto Motta Moraes, se reuniu ontem com representantes do Comando Militar do Leste e com a cúpula da Secretaria de Segurança. Segundo Motta Moraes, no dia da eleição, os militares vão estar em "ronda de presença", para evitar "boca-de-urna", compra de votos e intimidação de eleitores. A partir de sexta-feira serão distribuídas as urnas para pólos e locais de votação — que também deve receber apoio de integrantes das tropas federais.
Os 750 fuzileiros navais que ocupavam a Favela do Salgueiro, em São Gonçalo, desde domingo, deixaram a comunidade ontem. Durante os três dias em que a Marinha ficou na comunidade nenhum incidente foi registrado. Na localidade conhecida como Conjunto da Marinha, foram montadas tendas para atendimento médico e odontológico de moradores da favela. Cerca de 350 pessoas utilizaram os serviços oferecidos pelos militares na segunda e na terça-feira.
Ontem, policiais federais de Niterói aproveitaram a ocupação para fazer um reconhecimento da área. Ele fizeram registros fotográficos da favela que podem ser usados para auxiliar em futuras investigações.