Alexandre Rodrigues - Agência Estado
RIO – Mais do que dobrar a atual frota de 27 navios-patrulha, a prioridade da Marinha para alcançar condições efetivas de segurança nas áreas de prospecção de petróleo na costa brasileira, como as recém-descobertas reservas na camada pré-sal, é a construção de pelo menos quatro novos submarinos até 2018. A meta principal é o aguardado submarino nuclear, que colocaria o controle da costa em outro patamar. No entanto, os oficiais não contam com ele antes de 2020.
O diferencial da estratégia submarina protagonizou os primeiros movimentos da Operação Atlântico recentemente. Em ação no litoral do Rio, São Paulo e Espírito Santo, 10.215 homens da Marinha, Exército e Aeronáutica mediram, durante dez dias, encerrando na última sexta-feira, os desafios para garantir o controle da imensidão formada pelo mar territorial e a zona exclusiva de exploração econômica, a chamada Amazônia Azul. A área abriga a maior riqueza natural do País e se estende a mais de 390 quilômetros do continente.
O pré-sal está nos limites dessa área. Embora a Marinha trate oficialmente a reativação da Quarta Frota da Marinha dos Estados Unidos para o Atlântico Sul como mera reorganização militar, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu a decisão com incômodo. “Os homens já estão aí com a Quarta Frota quase em cima do pré-sal”, disse Lula, no batismo da plataforma P-53, no Rio Grande do Sul, no último dia 19.
A Operação Atlântico é uma resposta discreta à iniciativa americana, com a exibição de alguma capacidade de mobilização militar, ainda que limitada. Na filosofia militar da dissuasão em tempos de paz, o objetivo não é investir em uma máquina de guerra imbatível – o que seria muito difícil diante da capacidade de intervenção americana –, mas fazer potenciais inimigos ou grupos terroristas pensarem duas vezes antes de se aventurar em uma área estratégica para o Brasil.
SALDO
No atual momento de alianças regionais, o exercício combinado serviu mais para listar necessidades de treinamento e equipamento das Forças Armadas para a missão de manter a soberania da costa. Dois submarinos da atual frota de cinco da Marinha Brasileira estiveram empregados na operação, que terminou na última sexta-feira.
No exercício, eles fizeram o papel de inimigos e tentaram torpedear os navios do Brasil. “É a força do mais fraco imposta ao mais forte”, resumiu o contra-almirante Bento de Albuquerque Jr., comandante da Força de Submarinos da Marinha. Os oficiais definem assim a ampliação da capacidade da máquina de 61 metros e 1.500 toneladas a 40 metros abaixo da superfície.
Por causa da dificuldade em ser detectado, a presença de um submarino é motivo suficiente para imobilizar toda uma esquadra. Por esse caráter de dissuasão é que a construção de novos submarinos é prioridade. Um novo leva quatro anos para sair do estaleiro. Com as necessidades de manutenção, a atual frota baseada no Rio não tem condições de cobrir toda a costa. Segundo o almirante Bento, o Timbira levaria mais de dez dias para chegar à foz do Amazonas.
A Marinha tem o ano que vem como limite para retomar a construção de submarinos convencionais para chegar ao nuclear, sob pena de perder o domínio da tecnologia de produção nacional desenvolvida no Arsenal de Marinha do Rio a partir do projeto alemão que deu origem aos quatro navios da classe Tupi, entre eles o Timbira. O último que saiu de lá, o quinto da frota brasileira, foi o Tikuna, resultado do aprimoramento do Tupi, em 2006.
“Nossa expectativa é construir pelo menos quatro novos submarinos convencionais a partir de 2009, iniciando um a cada dois anos”, diz o almirante. O Brasil deveria ter várias bases submarinas espalhadas pelo litoral, mas a Marinha quer suprir essa carência com o submarino nuclear. Mais velozes e com autonomia ilimitada, poderiam cobrir toda a costa.
REATOR
Enquanto o Centro Tecnológico da Marinha no interior de São Paulo desenvolve o reator nuclear, os militares precisam de um projeto com dimensões adequadas para recebê-lo.
O Tikuna, por exemplo, pesa 1.500 toneladas. Para um reator nuclear, a Marinha tem que construir unidades convencionais maiores para chegar até gigantes de 3 a 4 mil toneladas. Assim, quando o reator estiver pronto, haverá um projeto para envolvê-lo.
Iniciado há quase 30 anos, o programa nuclear da Marinha perdeu quase dez anos com a falta de verba, apesar de já ter consumido cerca de R$ 2 bilhões. Revigorado com recursos do Ministério da Ciência e Tecnologia, custará ainda mais R$ 1 bilhão, mas agora precisa mesmo é de tempo.
Na sexta-feira passada, foi ativada no Rio de Janeiro, a Coordenadoria do Programa de Desenvolvimento de Submarino de Propulsão Nuclear. A coordenação do programa ficará a cargo do almirante-de-esquadra José Alberto Accioly Fragelli.
“Se as coisas correrem bem, teremos o submarino nuclear em 2020. Agora não é questão só de dinheiro, mas de tempo para alcançar um conhecimento que os países que têm não dividem. Não há dinheiro capaz de acelerar esse processo”, explica o almirante Bento.
Timbira é capaz de destruir navios em poucos segundos
RIO – A missão do submarino Timbira durante a Operação Atlântico encerrada na última sexta-feira foi impedir o movimento, no litoral do Rio, da esquadra formada por quatro navios de transporte apinhados de fuzileiros navais, escoltados por uma dezena de corvetas e fragatas com a tarefa de simular um ataque anfíbio à costa capixaba.
Equipado com sofisticados sonares, o submarino tem condições de mapear a disposição da esquadra a ponto de identificar até o número de pás de um navio e surpreender ao mirar no elemento de maior valor para o inimigo. Navios de guerra equipados com canhões e mísseis podem se partir ao meio em poucos segundos com um único torpedo de um submarino.
O efeito inibidor que um submarino como o Timbira provoca seria muito maior no caso de uma unidade nuclear. A propulsão atômica dá uma velocidade muito superior à diesel-elétrica dos submarinos convencionais, que precisam subir à superfície para recarregar baterias. É nesse momento que os navios de guerra podem abatê-los para ir em frente. A ilimitada autonomia do reator nuclear lhe dá condições de pousar “invisível” no fundo do mar, por quanto tempo for necessário e de se deslocar rapidamente por toda a costa. No entanto, ele é mais ruidoso, o que faz mais difícil o desafio da ocultação.
VERBA
A Operação Atlântico é mais um argumento para o pleito dos militares por mais recursos para a aquisição de meios para garantir a soberania da exploração das riquezas dos 8,5 mil quilômetros de costa da Amazônia Azul.
O Brasil prospecta mais de 80% do seu petróleo e gás no mar, via de quase todo o comércio exterior. A pesca é um setor estratégico de potencial ainda inexplorado, assim como o extrativismo mineral para além do petróleo.
O Ministério da Defesa quer que a Petrobras e outras exploradoras de petróleo contribuam com o reaparelhamento da Marinha, estimado em R$ 5,8 bilhões. A Força já fica com 15% dos royalties da produção, mas tem se queixado do contingenciamento.
Marinha reforçará frota para proteger pré-sal
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A proposta é dobrar o total de navios-patrulha até 2018 e construir quatro submarinos, mas as atenções se voltam principalmente para o submarino nuclear que deverá vigiar toda a costa brasileira a partir de 2020