A cizânia semeada no Cáucaso
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Marcelo Rech
Naturalmente, você pode dizer que os Estados Unidos não precisam de nenhum conselho porque a sabedoria norte-americana é bem conhecida no mundo inteiro, mas não dá para ignorar as digitais da administração Bush por trás do conflito que pôs em guerra a Rússia e a Geórgia.
Há tempos os Estados Unidos despejam gasolina numa região conflagrada pela tensão. Melhor seria cuidar do próprio quintal.
A estratégia de desestabilização do Cáucaso mira na Rússia. Reascende-se assim, a “Guerra Fria” que parecia sepultada com a dissolução da então União Soviética.
Em 1989, o então líder georgiano Zviad Gamsakhurdia cunhou o lema “Geórgia para os georgianos” que em seu intestino condenava a Ossétia do Sul ao genocídio.
Após o assassinato de milhares de civis inocentes e a devastação completa de centenas de povoados, a Rússia foi chamada para avalizar um processo de paz. O país então assumiu a condição de mediador na região.
No entanto, as negociações foram violadas grosseiramente e o regime estabelecido com o apoio da ONU e OSCE, foi sabotado.
O governo da Geórgia parecia mesmo determinado para a guerra, talvez avalizado pelo farto material bélico e apoio político recebidos do exterior.
Hoje, a coexistência pacífica entre georgianos, ossetas e abcasos está completamente comprometida. Daí a opção de Moscou em reconhecer a independência da Ossétia do Sul e da Abcásia
No dia 15 de agosto, testemunhamos um evento significativo no ambiente emocional e psicológico da diáspora georgiana com a divulgação de um documento elaborado pela União de Georgianos na Rússia.
No documento lê-se: "os georgianos na Rússia exprimem condolências profundas a todos os membros das famílias e parentes, a todos os ossetianos e pessoas georgianas pela morte de pessoas pacíficas na Ossétia do Sul, na Geórgia e pela morte de defensores do mundo”.
O documento exprime uma esperança que "o tempo seja um grande curandeiro, e as nações da Geórgia, Ossétia, Abcásia e a Rússia construirão a sua vida como bons vizinhos, que os soberanos como Saakashvili desaparecerão, e viveremos como foi previsto anteriormente, em fraternidade, confiança e amor".
No entendimento russo, a Geórgia simplesmente ignorou as autonomias dessas províncias. Para calar os resistentes, enviou tropas e ordenou massacres.
As forças de manutenção da paz na Ossétia do Sul e na Abcásia foram criadas em 1992 e 1994, respectivamente.
Além da solução dos problemas, pretendiam contribuir para a recuperação econômica e social da região. A situação degringolou com a ascensão ao poder na Geórgia, de Mikhail Saakashvili, que em 2006, transgrediu acordos internacionais ao enviar tropas para o Alto Kodor.
Russos, georgianos, azerbaijanos, armênios, ucranianos, habitantes do Cazaquistão, Turcomenistão, Tadjiquistão e outras nações que povoam hoje a vasta área pós-soviética são interligados com um fio forte invisível e incompreensível.
O que está claro é que Dmitry Medvedev demonstrou ao mundo inteiro que a Rússia agora cuidará do Cáucaso.
Ao lançar a ofensiva contra a Ossétia do Sul na noite de 8 de agosto, Saakashvili sepultou com suas próprias mãos a integridade territorial da Geórgia.
Marcelo Rech é jornalista, editor do InfoRel e especialista em Relações Internacionais e Estratégias e Políticas de Defesa.