Tanques russos entram em região rebelde da Geórgia
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Cerca de 150 tanques e outros veículos militares russos entraram nesta sexta-feira na capital da Ossétia da Sul, região separatista da Geórgia, apenas horas depois de o governo da Geórgia anunciar que havia tomado controle da cidade, Tskhinvali.
Segundo o Ministério do Interior da Geórgia, o país agora controla uma parte da capital e os russos, que apóiam os separatistas, outra parte.
O envio dos tanques russos ocorre depois que forças da Geórgia bombardearam a cidade durante a noite. Segundo informações do líder rebelde Eduard Kokoit, centenas de pessoas foram mortas, embora não haja confirmação independente disso.
Em outro desdobramento, a Geórgia disse que duas das suas bases militares foram atacadas por aeronaves russas.
A Geórgia vem combatendo os separatistas, que têm ligações com a Rússia, a fim de reconquistar o controle da região, que na prática é independente desde os anos 90.
Os combates começaram apesar do acerto de um cessar-fogo em conversações mediadas pela Rússia. Cada lado culpa o outro pela quebra do cessar-fogo.
O agravamento da situação, com o envolvimento da Rússia, suscita temores de uma nova guerra na volátil região do Cáucaso.
"Intrusão"
Antes mesmo da entrada dos tanques em Tskhinvali, o presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvil, havia acusado a Rússia de atacar o seu território em apoio aos separatistas. Saakashvili disse se tratar de "intrusão no território de um país alheio".
"Há tanques russos no nosso território, caças em nosso território em plena luz do dia", disse o presidente, segundo a agência Reuters. "Devo informar que forças georgianas derrubaram dois caças russos sobre o território da Geórgia."
O presidente da Rússia, Dmitry Medvedev, por sua vez, prometeu defender os cidadãos russos na Ossétia do Sul, em meio a relatos de mortes de integrantes de uma força de paz russa na Ossétia do Sul.
"Nós não vamos permitir que essas mortes fiquem impunes. Os responsáveis vão receber um castigo merecido."
Segundo o ministro da Defesa russo, Sergei Lavrov, mais de 10 integrantes da força de paz foram mortos e 30 feridos na ofensiva da Geórgia.
Lavrov disse que reforços haviam sido enviados à Ossétia do Sul "para ajudar a acabar com o banho de sangue".
O ministro russo disse ainda ter informações de que está havendo "limpeza étnica" algumas vilas da Ossétia do Sul. "O número de refugiados está aumentando. Uma crise humanitária está se aproximando."
O governo da Geórgia afirma que pretende encerrar o que chama de "um regime criminoso" e restabelecer a ordem na região.
Segundo o premiê georgiano, Lado Gurgenzide, as operações militares na Ossétia do Sul irão continuar até que seja estabelecida a "paz estável".
"Assim que a paz estável for alcançada, iremos seguir adiante com o diálogo e com as negociações pacíficas", afirmou.
Geórgia X Rússia
Tblisi acusa a Rússia de armar os rebeldes da Ossétia do Sul, que tentam se separar da Geórgia desde a guerra civil da década de 90, quando a região declarou sua independência. Moscou nega essas acusações.
A Rússia está insatisfeita com a ambição da Geórgia de integrar a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan, a aliança de defesa ocidental), e acusou o país de concentrar suas forças em torno das regiões separatistas, onde tropas de paz russas estão estacionadas.
Depois do colapso da União Soviética, em 1991, a Geórgia votou pela restauração da independência que havia brevemente experimentado durante a Revolução Bolchevique.
No entanto, a postura nacionalista resultou em problemas com a região norte de sua fronteira, habitada pelos ossetianos – um grupo étnico distinto natural das planícies russas, ao sul do rio Don.
A Ossétia do Sul fica do lado georgiano da fronteira, enquanto a Ossétia do Norte fica em território russo. Apesar disso, os laços entre as duas regiões permaneceram fortes e o movimento pela independência osseta foi estimulado pelas dificuldades enfrentadas na época dos czares, no período comunista até atualmente.
Quando a Geórgia se separou da União Soviética, o governo nacionalista proibiu o partido político da Ossétia do Sul, o que levou os ossetianos boicotar a política georgiana e realizarem suas próprias eleições – pleito que foi considerado ilegal pela Geórgia.
Os conflitos entre os separatistas e as forças georgianas começaram nesta época, mas o Exército da Geórgia não exterminou os rebeldes ossetas por medo de uma intervenção russa.
A Ossétia do Sul proclamou sua independência em 1992, mas sua autonomia não foi reconhecida pela comunidade internacional. A região quer se juntar à Federação Russa.
Há quatro anos, os georgianos começaram a realizar operações policiais e de combate ao contrabando na região, aumentando a tensão na região.
A Otan, os Estados Unidos e a União Européia pediram o fim imediato das hostilidades.
A ONU convocou uma reunião de emergência do Conselho de Segurança para discutir a escalada da tensão na Ossétia do Sul, mas o encontro terminou sem um pedido de renúncia do uso da força dos dois lados.