Presidente Dmitri Medvedev dá garantias à França de que soldados sairão hoje da Geórgia, encerrando 17 dias de ocupação. Presença de patrulhas russas da força de paz na Ossétia do Sul será mantida
Da Redação
A Rússia garantiu que vai começar a retirar suas tropas da Geórgia hoje, depois de uma guerra que humilhou o país vizinho, à margem do Mar Negro, suscitou receios sobre o fornecimento de energia para a Europa e colocou os Estados Unidos em um xadrez diplomático. Em conversa por telefone, o presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, disse ao colega francês, Nicolas Sarkozy, que as forças russas darão início à desocupação. Sarkozy, presidente temporário da União Européia, já havia dito no sábado que, se a retirada não ocorrer conforme o previsto no acordo de cessar-fogo, haverá conseqüências graves” em termos das relações de Moscou com o bloco europeu.
Medvedev assinou no sábado o documento de trégua que possui seis pontos, entre eles o fim definitivo das hostilidades, dos obstáculos à distribuição de ajuda humanitária, e o retorno das tropas da Rússia às posições onde estavam antes da guerra. Ontem, houve poucos combates, e os russos continuaram controlando uma entrada para a cidade de Gori, a maior perto da divisa com a província separatista da Ossétia do Sul. Uma violenta ofensiva georgiana contra o território que luta por independência provocou uma reação da Rússia no último dia 7. O governo de Medvedev estimou em 1,6 mil o número de mortos pelos bombardeios da Geórgia a Tskhinvali, capital ossétia, e outras vilas da província.
O general Vyacheslav Borisov, comandante na região de Gori, cidade a 30 km da Ossétia, disse que os militares russos já começaram a recuar. “É preciso entender que o número de soldados é grande”, explicou. Borisov contou que os bloqueios ao redor de Gori foram mantidos para proteger a retirada. Embora tenha concordado com a trégua, Medvedev já disse duvidar da possibilidade de a Ossétia do Sul e a Abcásia — outra província separatista, no noroeste do país — continuarem integradas à Geórgia, que busca ingressar na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Pressão alemã
A presidência francesa admitiu que o cessar-fogo permite aos russos manter patrulhas “vários quilômetros” fora da Ossétia do Sul e dentro do território georgiano. Isso porque, depois da guerra de 1991 e 1992, que terminou com a declaração unilateral de independência da província, foi estabelecida na região uma força de paz composta por russos, georgianos e ossétios do norte. Essa presença, no entanto, será provisória, enquanto não surge um “mecanismo internacional” de verificação da trégua, cujo mandato está sendo discutido pela Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE), a União Européia e a Organização das Nações Unidas (ONU).
Em Tbilisi, capital georgiana, a primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, também pressionou a Rússia a retirar suas tropas do país. “Essa é uma questão urgente”, afirmou Merkel, que apoiou o pleito georgiano para integrar a Otan. Mikhail Saakhashvili, presidente da ex-república soviética, agradeceu à alemã pelo respaldo e criticou outras nações européias que não “viram que a Rússia planejou há meses a ofensiva contra a Geórgia”.
O presidente separatista da Ossétia do Sul, Eduard Kokoity, dissolveu ontem o governo e declarou estado de emergência devido aos estragos causados pelos ataques georgianos. Ele criticou o gabinete pela distribuição lenta da ajuda humanitária aos habitantes da região. A província de 70 mil habitantes tem apenas 3,9 mil km² — menor que o Distrito Federal.
“A Rússia não pode fazer um uso desproporcional da força e, ao mesmo tempo, ser bem-vinda nos círculos das instituições internacionais. Isso não vai ficar assim” Condoleezza Rice, secretária de Estado norte-americana
O NÚMERO
158 mil Pessoas foram desalojadas pelo conflito entre Geórgia e Rússia, segundo o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados
Rússia retira tropas
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