República caucasiana torna-se palco de combates entre tropas georgianas e russas. Conflito que tem suas origens na derrocada da União Soviética escala e é de difícil solução, pelo envolvimento dos EUA e da Rússia.
Dirk Eckert
A Ossétia do Sul é apenas três vezes maior que Berlim em extensão e não tinha, até agora, grande importância para a política internacional. No entanto, a pequena república no sul do Cáucaso, com seus 3.885 quilômetros quadrados, ameaça tornar-se pivô de uma guerra de maiores proporções entre a Rússia e a Geórgia.
Desde sexta-feira (08/08), quando o presidente georgiano Mikheil Saakachvili tentou readquirir por meio de intervenção militar a soberania sobre a Ossétia do Sul, de fato autônoma há vários anos, a região é palco de combates com tropas russas.
Conflito antigo
O conflito tem suas origens na pretensão de independência por parte de antigas repúblicas soviéticas, tais como a Geórgia, após a derrocada da URSS. Essa pretensão não agradou nem um pouco às minorias étnicas desses países.
"O nacionalismo georgiano no início dos anos 1990 assustou as minorias étnicas", afirma Uwe Halbach, do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP). Em conseqüência, a Geórgia obteve sua independência, mas perdeu suas minorias.
Em 1989, a Ossétia do Sul declarou-se República Soviética Autônoma e, mais tarde, República da Ossétia do Sul. Eclodiu uma guerra, encerrada em 1992 por um armistício. No mesmo ano a Abkházia também se declarou independente, o que levou igualmente a uma guerra com o governo em Tbilisi, a qual acabou com um cessar-fogo em 1994.
Posições irreconciliáveis
Desde essa época, a Abkházia e a Ossétia do Sul são de fato autonônomas, mas seus governos não são reconhecidos pela comunidade internacional. Os dois países mantêm relações estreitas com a Rússia.
De uns meses para cá, ocorreram repetidos incidentes, o que levou a tentativas de mediação por arte de diferentes países. O ministro alemão das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, por exemplo, foi à Geórgia em meados de julho com um plano de paz. Sua tentativa fracassou, o conflito continuou escalando.
Uma solução para o impasse é tida por observadores políticos, em função do envolvimento das duas potências EUA e Rússia, como extremamente difícil. Na Geórgia existem temores de que a Rússia pretende restabelecer seu poderio no Cáucaso.
"A Rússia não aceita que a Geórgia, logo após a derrocada da União Soviética, tenha tomado um rumo pró-Ocidente, e atiça há mais de 15 anos conflitos territoriais em algumas partes da Geórgia", opina Alexander Kartozia, ex-ministro georgiano da Educação e diretor da Biblioteca Nacional, que hoje leciona na Unversidade Viadrina de Frankfurt do Oder, no leste da Alemanha.
A polêmica do ingresso na Otan
Para complicar a situação, os EUA defendem o ingresso da Geórgia na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). A Rússia, por sua vez, não quer aceitar que a aliança atlântica se estenda praticamente até a borda de seus limites meridionais.
"Os problemas se agravaram com a pretensão de Saakachvili de que seu país seja integrado à Otan, e com o reconhecimento do Kosovo", afirma Elfie Siegel, que foi durante anos correspondente do diário Frankfurter Allgemeine Zeitung na Rússia. As minorias étnicas tomam agora como exemplo o Kosovo, que se separou da Sérvia – com apoio do Ocidente, esclarece a jornalista.
As diferenças nas posições dos EUA e da Rússia impedem no momento também que o Conselho de Segurança das Nações Unidas chegue a uma posição consensual a respeito da situação na Ossétia do Sul.
Por que escalou o conflito na Ossétia do Sul
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