José Romildo
Manaus (14/08/2008) – No último dia da Operação Poraquê, um exercício combinado que envolveu cinco mil militares da Marinha, Exército e Aeronáutica (3.500 em atividades diretas e 1.500 em ações indiretas), o Comandante Militar da Amazônia, General-de-Exército Augusto Heleno Ribeiro Pereira, fez um balanço positivo das atividades realizadas nos Estados do Amazonas e Roraima, que se iniciaram em 4 de agosto e terminam nesta quinta-feira (14/08).
O acúmulo de treinamento e a elevação do nível de confiança das tropas constituíram o principal saldo da operação, segundo o General Heleno. “Conhecemos melhor o terreno, empregamos melhor o material e sabemos de suas qualidades e eventuais deficiências, e tudo isso é um ganho muito grande,” acrescentou o general.
A Operação Poraquê, coordenada pelo Estado Maior de Defesa, do Ministério da Defesa, teve como teatro simulado de guerra os Estados do Amazonas e Roraima. Nesse cenário fictício, o território brasileiro (País Verde) foi invadido por outro país (Amarelo), que tinha como alvo a conquista da Hidrelétrica de Balbina e de áreas ricas em minério. O papel que coube às forças combinadas da Marinha, do Exército e da Aeronáutica foi resistir à agressão e demover o país Amarelo de seus planos de agressão.
As forças combinadas empregaram equipamentos adequados às condições da Amazônia. A Marinha usou, entre outros equipamentos, dois navios de assistência hospitalar (NASH), quatro helicópteros e balsas. A Aeronáutica empregou 61 aeronaves, incluindo dois Hércules (C-130) e três helicópteros Black Hawk. E o Exército mobilizou brigadas de infantaria de selva, de pára-quedistas e a 5ª. Brigada de cavalaria Blindada do Rio Grande do Sul.
Além dos exercícios militares, as Forças Armadas realizaram ainda Ações Cívico-Sociais (Aciso), que visaram dar aos moradores das áreas próximas ao teatro de guerra assistência médica , e possibilitar a emissão de certidões e carteiras de identidade.
Para o General Heleno, a Operação Poraquê trouxe para as forças combinadas um aprendizado relevante no que se refere à logística. Segundo ele, toda a Amazonas – e não só as regiões abrangidas pelos exercícios da Operação Poraquê - que são os Municípios de Presidente Figueiredo, Velho Airão, Barcelos, Novo Airão (Amazonas) e Caracaraí (Roraima), requerem instrumentos avançados de comunicação e controle.
Segue a entrevista em que o General Heleno faz um balanço da Operação Poraquê:
MD- Como foi planejado o trabalho?
R)As operações combinadas, feitas sob os auspícios do Ministério da Defesa, envolveram trabalho que começou oito meses antes. Desde a definição da área e do tipo de operação, que forças iriam ser empenhadas, volume de recursos e a capacidade de mobilização, quem iria se envolver na operação. Tudo isso foi sendo acertado ao longo do tempo, em reuniões que aproximaram o pessoal da missão.
MD- Que acontece quando chega o momento da operação?
R) Quando chega a parte executiva, o pessoal já se conhece. É a hora de aproveitar tudo aquilo que foi plantado para colher. Isso gera um sucesso que, no caso da Operação Poraquê, foi flagrante.
MD- Que lições as Forças tiram dessa missão?
R) Temos condições de reformular nossa doutrina, em alguns aspectos; confirmar dados operacionais; reformular nossos conhecimentos sobre logística, que no caso da Amazônia é ponto fundamental. Mantivemos contato cerrado com a população de determinadas áreas. Atualizamos os dados de inteligência com a presença de tropa.
MD- E com relação ao treinamento das tropas?
R) Lançamos os destacamentos de forças especiais, que são tropas altamente especializadas. Trouxemos para atuar na Amazônia duas tropas de emprego estratégico: a Brigada de Infantaria Pára-quedista e da Brigada Aeromóvel. Todo esse conjunto de atividades nos leva a crer que a Operação Poraquê foi altamente válida para o contexto em que vivemos nas forças armadas brasileiras.
MD- O que evoluiu na logística?
R) A capacidade de controlar. Não é só planejar, mas saber se aquilo que foi planejado teve a eficiência que esperávamos. Para chegar a essa conclusão, tivemos que usar modernos instrumentos de gestão para termos a certeza de que funcionou aquilo que foi colocado no terreno.
MD- Como se mede isso?
R) Sabendo se não houve nem um excesso ou desperdício daquilo que foi planejado, nem houve comprometimento de alguma fase da operação por falta de apoio logístico. Toda vez que vamos para o terreno, colhemos ensinamento nessa área. É área extremamente difícil, muito dinâmica, porque o avanço tecnológico e a melhoria dos instrumentos de comunicação e controle faz com que a logística tenha um aperfeiçoamento muito grande.
MD- Qual foi o critério da escolha da área da Operação Poraquê?
R) Essa é a oitava operação (na Amazônia). Fizemos, nas outras sete, um levantamento das áreas em que aconteceram. Chegamos à conclusão que o espaço do Estado de Roraima não tinha sido objeto de uma operação mais detalhada. Colocamos o esforço principal da BR 174, que é a única estrada que permite a saída de Manaus. Vai de Manaus a Boa Vista, e depois segue em direção ao marco BV-8. E utilizamos a calha do Rio Negro como a outra via onde colocamos a tropa para segurar a fronteira do país verde, contra o país amarelo, de acordo com a situação hipotética que foi criada.
MD- Como foram idealizadas as ações nessas áreas?
R) Basicamente, trabalhamos com nossa Marinha fluvial em cima da calha do Negro. Realizamos inclusive operações de ação cívico-social. E utilizamos nossa força terrestre em cima da BR-174, na direção de Caracaraí (RR).
MD- Qual foi o benefício da Operação Poraquê para o Brasil?
R) Isso é uma operação logicamente fictícia. Não temos recursos para materializar a força amarela da maneira como gostaríamos. A Força Aérea trabalha muito próximo de uma situação real de conflito. No caso da Força Aérea, os ensinamentos foram perfeitamente aplicáveis caso houvesse um conflito aqui ou em qualquer outro lugar. Porque os ensinamentos podem ser transferidos de um lugar para outro. Não são exclusivos de uma determinada área.
MD- E nos casos da Marinha e do Exército?
R) A Marinha procurou alguns procedimentos, que são válidos para qualquer atividade fluvial. Inclusive uma docagem real (manobra do navio em um navio-dique, para reparos ), que é uma operação difícil, do navio Pedro Teixeira. No caso da força terrestre, fizemos lançamentos da Brigada de Infantaria Pára-quedista e o lançamento aeromóvel, também com uma fração de tropa, dentro dos recursos que dispúnhamos, bastante próximos da realidade.
MD- Como o senhor vê o resultado dessas ações próximas à realidade?
R) Com isso vamos acumulando treinamento para a nossa tropa. Damos confiança aos nossos subordinados naquilo que vão fazer. Conhecemos melhor o terreno, empregamos melhor o material e sabemos de suas qualidades e eventuais deficiências. Tudo isso é um ganho muito grande.
MD- Existe algum tipo de ameaça do exterior ao Brasil?
R) Temos relações extremamente cordiais com nossos vizinhos de toda a América do Sul. Não trabalhamos com essa hipótese, diante da remota possibilidade de que ocorra. Nós nos adestramos porque, como já se disse muitas vezes, se queres a paz, prepara-te para a guerra. Isso é uma filosofia seguida por todas as nações que têm responsabilidades no campo da defesa. Também temos essa responsabilidade. Não podemos deixar de lado essa imposição do mundo moderno.