Pelas asas da FAB, grupo de médicos viabiliza trabalho voluntário em afastados rincões da Amazônia. Nos últimos quatro anos, eles já realizaram 5193 atendimentos e até 1179 cirurgias
Por Tenente Jornalista Luiz Claudio
A primeira imagem da Amazônia que vem à cabeça é a de florestas impenetráveis, rica fauna, pulmão do mundo... Para um grupo de profissionais da saúde, a região significa mais. Transformou-se no campo de um trabalho voluntário em prol das pessoas que moram em comunidades onde só se pode chegar de avião ou de barco. O rio, inclusive, demarca uma unidade de tempo para os residentes nessas áreas em que, mesmo viagens consideradas curtas, demoram um ou dois dias.
É um cenário em que moradores ribeirinhos assustam-se com as doenças, visto que o atendimento pode demorar a acontecer. O que ameniza e alivia é quando surge o som dos motores de aeronaves. Aquilo que demoraria um dia se transforma numa viagem de poucas horas. Justamente por isso é que os médicos civis têm contado com o apoio da Força Aérea Brasileira para viabilizar suas atividades.
"Se não fosse a FAB, seria impossível chegar a muitos lugares. Somente os aviões e os militares da Aeronáutica poderiam viabilizar nosso sonho". O "sonho" da médica Márcia Abdala é a realização do projeto "Expedicionários da Saúde", que há cinco anos reúne médicos voluntários e experientes da cidade de Campinas (SP) para realizar atendimento a populações indígenas em afastadas comunidades da Amazônia.
Nos últimos quatro anos, eles já realizaram 5193 atendimentos e 1179 cirurgias. Na mais recente, a décima expedição de atendimento cirúrgico, realizada no município de São Gabriel da Cachoeira, atendendo a população indígena da comunidade Vila Nova, Rio Xié (das etnias Werekena, Baré, Cubeo, Baniwa e Tukano), no alto do Rio Negro, foram atendidas 935 pessoas e feitas 194 cirurgias.
"Esses resultados só foram possíveis graças ao apoio de nossos parceiros como a Força Aérea Brasileira, Comando Militar da Amazônia, Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e Distritos Especiais de Saúde Indígena", afirmou o presidente do grupo, Ricardo Affonso Pereira.
A Força Aérea Brasileira, que atua também de forma semelhante com o Correio Aéreo Nacional, em toda a Região Norte do Brasil, tem apoiado o projeto que, apenas no ano passado, contabilizou 1851 atendimentos e 397 cirurgias. Cidades como São Gabriel da Cachoeira (AM), Pari Cachoeira (AM) e Santarém (PA) já foram beneficiadas com a iniciativa. Nesse apoio, foram utilizadas aeronaves C-130 Hércules, C-115 Búfalo e C-98 Caravan.
Os médicos atendem problemas de vários gêneros, de doenças simples a patologias complexas. Em mais de mil casos, a situação evoluiu para a necessidade de cirurgias. Em cada trabalho, a equipe transporta também um centro cirúrgico móvel que funciona em instalações parecidas com uma estrutura de campanha.
A equipe do Expedicionários da Saúde atendeu em Pari-Cachoeira índios das etnias Tukano, Desano, Tuyuka e Hupda, num total de 618 atendimentos e 106 cirurgias. No Pará, em pleno Rio Tapajós, houve 281 cirurgias e 1446 atendimentos. No grupo do projeto, há especialistas de diversas áreas como oftalmologia, cirurgia geral, anestesia, ginecologia, pediatria, ortopedia e clínica médica.
"Não há profissionais recém-formados. Todos têm uma larga experiência e são idealistas. Isso faz toda a diferença para aqueles brasileiros que vivem distantes de nós", diz Márcia Abdala.