Aviação Naval, 92 anos
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Eduardo Italo Pesce
No dia 23 de agosto de 2008, a Aviação Naval brasileira, originalmente criada em 1916, está comemorando seu 92º aniversário. Ao longo da última década, o componente aeronaval da Marinha do Brasil passou por inúmeras mudanças, que incluíram o reinício das operações com aeronaves de asa fixa e a substituição do antigo navio-aeródromo Minas Gerais.
Em 1998, após a revogação da proibição de operar com aviões, que perdurava desde 1965, foram adquiridas aeronaves de interceptação e ataque McDonnell Douglas A-4 (AF-1) Skyhawk. Estas aeronaves começaram a operar em 2000 e realizaram o primeiro pouso a bordo do Minas Gerais (meses depois substituído pelo São Paulo) no início de 2001.
A Diretoria de Aeronáutica da Marinha, subordinada à Diretoria-Geral de Material da Marinha e sediada no Rio de Janeiro, gerencia os assuntos relativos à segurança de vôo e ao material da Aviação Naval. O Comando da Força Aeronaval, subordinado ao Comando-em-Chefe da Esquadra e sediado em São Pedro d"Aldeia (RJ), gerencia as atividades operativas e os meios aéreos.
A Força Aeronaval é atualmente constituída por cinco esquadrões de helicópteros e um de aviões, além da Base Aérea Naval de São Pedro d"Aldeia, do Centro de Instrução e Adestramento Aeronaval e de outras organizações de apoio. O complexo aeronaval de São Pedro d"Aldeia é mais conhecido pelo carinhoso apelido de "A Macega" (tipo de vegetação rasteira encontrada no local).
A Marinha dispõe também de três esquadrões regionais de helicópteros de emprego geral, sediados em Manaus (AM), Ladário (MS) e Rio Grande (RS), que atuam nas áreas dos respectivos Distritos Navais. Está prevista a criação de mais três desses esquadrões, em Belém (PA), Natal (RN) e Salvador (BA).
Recentemente, foi adquirido um lote inicial de quatro (com opção para mais dois) helicópteros Sikorsky S-70B (SH-60) Seahawk, para emprego em missões de guerra anti-submarino e contra navios de superfície. A MB poderá adquirir um total de 12 aeronaves deste tipo, destinadas a operar com o NAe São Paulo, em substituição aos Sikorsky SH-3A/B Sea King.
A modernização das aeronaves A-4 Skyhawk que operam com o NAe é outra necessidade da Marinha. O São Paulo reiniciou suas operações em 2008, após um período de reparos. A crônica falta de recursos tem forçado a Marinha a adiar a modernização ou substituição de seus meios, e isso vem afetando a Aviação Naval.
Apesar das restrições financeiras, parte das aeronaves em serviço está sendo submetida a modernizações. Os helicópteros de esclarecimento e ataque Westland AH-11A Lynx, que operam com navios de escolta, devem ser modernizados. Um lote adicional (de segunda mão) destas aeronaves poderá ser adquirido, para substituir as que foram perdidas em uso.
A perspectiva de verbas adicionais do "PAC da Defesa" poderá acelerar ou reativar projetos mantidos em compasso de espera, como o do NAe destinado a substituir o São Paulo por volta de 2025.
Possivelmente, tal navio teria um deslocamento carregado de 60 ou 70 mil toneladas e seria capaz de operar com cerca de 60 aeronaves de combate.
A questão dos meios aéreos é fundamental. Uma aviação embarcada polivalente, capaz de operar a partir de NAe e de outros tipos de navios de superfície, constitui componente essencial de uma verdadeira Marinha oceânica. Apesar de sua longa autonomia de vôo, a aviação de patrulha marítima baseada em terra não é capaz de substituir plenamente os meios aéreos embarcados.
Até hoje, a MB ainda não conseguiu dotar seu NAe de um grupo aéreo completo, constituído por aviões de interceptação e ataque, reconhecimento, guerra eletrônica, alarme aéreo antecipado e reabastecimento em vôo, além de helicópteros para missões anti-submarino e de busca e salvamento.
Há alguns anos, a Marinha estudou a possibilidade de adquirir um pequeno lote de aeronaves Grumman S-2 Tracker de segunda mão, modernizadas e dotadas de motores turboélice, para emprego a bordo do NAe em missões de alarme aéreo antecipado, reabastecimento em vôo (Revo) e apoio logístico.
A aquisição dessas aeronaves especializadas era indispensável, para apoiar a operação dos A-4 em missões de defesa aérea e de ataque a alvos de superfície. Contudo, acabou inviabilizada pelas severas limitações orçamentárias ainda vigentes - o que forçou a Marinha a buscar uma solução de menor custo.
Recentemente, foram adquiridos três conjuntos de tanques Revo do tipo buddy-pack para os A-4. Estes kits permitem que uma aeronave (desarmada) reabasteça duas do mesmo tipo durante uma missão, mas não substituem integralmente uma aeronave Revo especializada.
A substituição do atual NAe e a manutenção de uma aviação embarcada polivalente dependem das soluções que vierem a ser adotadas nos próximos anos, para substituir ou complementar os meios aéreos existentes - em especial as aeronaves de asa fixa.
A possível ampliação dos meios aéreos tornará necessário formar e adestrar um número maior de pilotos e técnicos de manutenção para as aeronaves. Atualmente, a instrução de vôo dos futuros aviadores navais é ministrada pela Marinha do Brasil, em conjunto com a Força Aérea Brasileira e a Marinha dos Estados Unidos.
No curto prazo, é preciso incrementar a operacionalidade da Aviação Naval brasileira, com ampliação do número de horas de vôo e maior disponibilidade de combustível, sobressalentes e armamento. Sem tais medidas, investimentos realizados com grande sacrifício correm o risco de serem desperdiçados.
Eduardo Italo Pesce
Especialista em Relações Internacionais, professor no Centro de Produção da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Cepuerj) e colaborador permanente do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Escola de Guerra Naval (Cepe/EGN).
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