Analistas disseram que a escalada do conflito poderia gerar, no entanto, consequências muito mais amplas na região, que se tornou um teste para o equilíbrio de forças no pós-Guerra Fria.
O país é um importante ponto da rota de escoamento de combustíveis para a Europa, que precisa do petróleo e do gás vindos da Ásia.
O presidente georgiano, Mikheil Saakashvili, foi bem recebido pelo Ocidente como sendo um líder novo e reformista. O dirigente comandou uma revolução em 2003 e elegeu-se no ano seguinte, tendo como prioridade o ingresso de seu país na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), em meio a esforços para escapar da órbita russa.
No entanto, James Nixey, analista do Royal Institute of International Affairs, em Londres, disse que Saakashvili havia deixado as capitais do Ocidente preocupadas com sua tendência de reagir de forma exagerada a provocações.
Isso ocorreu, por exemplo, quando o presidente recorreu à força para reprimir manifestantes contrários ao governo no ano passado e, agora, no conflito deflagrado na Ossétia do Sul, afirmou Nixey.
"Ele corre o perigo iminente de perder o prestígio que acumulou por ser pró-Ocidente e moderado", disse o analista. "Ao dar início a uma guerra, ele vai perder o apoio de muitos de seus aliados do Ocidente".
As históricas tensões surgidas em torno da Ossétia do Sul explodiram na sexta-feira quando a Geórgia tentou asseverar seu controle sobre a região com tanques e foguetes. A Rússia enviou soldados para repelir a investida.
Cavalaria do Ocidente
Segundo analistas, a aposta de Saakashvili ao lançar uma ação militar contra os rebeldes pode detonar uma guerra do tipo Davi contra Golias, na qual seu país enfrentaria a poderosa Rússia. Além disso, acrescentam os analistas, não há nenhuma garantia de que o Ocidente virá em socorro dele.
"Ele recebeu vários avisos de que o Ocidente não faria sacrifícios por ele, de forma que não deve contar com a chegada da cavalaria", afirmou Fraser Cameron, do centro UE-Rússia, com sede em Bruxelas.
A Otan e a União Européia (UE) manifestaram, na sexta-feira, grandes preocupações com o conflito e pediram aos envolvidos que interrompessem os atos violentos.
No entanto, Tomas Valsek, diretor de política internacional do Centro para a Reforma Européia, disse que Saakashvili não tinha outra opção que realizar uma manobra decisiva.
Valsek afirmou que a crescente influência da Rússia sobre a Ossétia do Sul e sobre a Abkházia, outra região separatista da Geórgia, vinha minando as esperanças georgianas de ingressar na Otan e de se colocar de forma definitiva no campo ocidental.
"No final das contas, os georgianos percebem que o tempo não está a seu favor e que não podem deixar que a situação da Ossétia do Sul e da Abkházia torne-se ainda mais complicada e que a influência da Rússia aumente ainda mais", disse.
Segundo Nixey, porém, Saakashvili pode ter prejudicado as chances de seu país de ingressar na Otan: "Como consequência disso (do conflito), as ambições dele de entrar na Otan podem virar pó".
A Strategic Forecasting Inc., uma empresa com sede nos EUA, disse que a Geórgia representava o "ponto de conflito mais tenso das relações entre a Rússia e o Ocidente" por ser, no mapa-múndi, a área de influência das potências ocidentais localizada mais a leste.
"O que está em jogo aqui é saber se fazer fronteira com a Rússia e, ao mesmo tempo, ser um aliado dos EUA seria uma combinação suicida. Independente de como isso se resolverá, a dinâmica de toda a região está prestes a ser virada de ponta cabeça", disse a empresa em uma nota.
Análise: ao iniciar conflito, Geórgia aposta em apoio do Ocidente
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LONDRES - A tentativa da Geórgia de retomar à força o controle sobre a região rebelde da Ossétia do Sul significa uma aposta do líder do país de que ainda pode contar com o apoio do Ocidente ao tentar brecar os esforços da Rússia para restabelecer sua influência sobre essa ex-República Soviética.