Teerã lança foguetes pelo segundo dia, mas há suspeitas de que exercícios exageram o verdadeiro poderio bélico do país
Irã apresenta manobras como "lição aos inimigos"; EUA e Israel aumentam tom das ameaças de ataque às centrais nucleares iranianas
DA REDAÇÃO
Israel reiterou ontem que pretende manter sua supremacia militar no Oriente Médio e se disse pronto para atacar o Irã se necessário, apesar dos indícios de que os testes de mísseis iranianos têm muito de propaganda destinada a supervalorizar o poderio bélico de Teerã.
O Irã diz ter lançado desde anteontem vários mísseis, entre eles o Shahab-3 ("meteoro", em persa), que teria um alcance de 2.000 km e poderia atingir o território israelense, distante 1.000 km, e alvos americanos no Iraque e na Arábia Saudita.
Também teriam sido testados foguetes de curto e médio alcance, como o Zelzal ("terremoto") e o Fahet ("conquistador"). Teerã afirma que os exercícios são uma "lição aos inimigos [Israel e EUA]" que cogitarem atacar as centrais nucleares do país, mas há dúvidas sobre as afirmações divulgadas pela mídia oficial iraniana.
Especialistas disseram ontem que uma fotografia divulgada como "comprovação" do sucesso dos testes de mísseis foi retocada para acrescentar um quarto foguete que não saiu do lançador na imagem original.
Além disso, um agente de inteligência americano afirmou à agência Associated Press que a segunda leva de exercícios iranianos, realizada na madrugada de ontem, foi "pequena", resumida talvez a um único disparo. Os relatos oficiais iranianos falaram em "grandes manobras noturnas".
A idéia de que os exercícios iranianos não são tão ameaçadores foi reforçada pelo analista militar israelense Uzi Rubin, que minimizou o potencial do arsenal balístico de Teerã.
Em análise no jornal "Haaretz", Rubin descartou que o Irã tenha testado uma nova versão do Shahab-3 e insistiu em que, ao contrário do que diz Teerã, o míssil tem alcance máximo de 1.300 km. "Os iranianos tendem a exagerar a capacidade verdadeira de seus mísseis", disse.
Apesar das ressalvas sobre o poder bélico do Irã, Israel e EUA elevaram o tom ontem. "Israel é o país mais forte da região e já provou no passado que não hesita em agir quando seus interesses vitais estão em jogo", disse o ministro da Defesa israelense, Ehud Barak, numa menção implícita ao ataque que destruiu a central nuclear de Osirak, no Iraque, em 1981.
No início do mês passado, militares israelenses realizaram no Mediterrâneo exercícios vistos como simulação de um eventual ataque ao Irã. Israel tem a vantagem estratégica de ser o único país com armas nucleares do Oriente Médio e, com apoio do Ocidente, acusa o Irã de estar fabricando secretamente uma bomba atômica.
O governo americano reforçou as ameaças. A secretária de Estado Condoleezza Rice prometeu "defender os interesses americanos e os de nossos aliados". Os EUA sustentam que o exercício de Teerã prova a necessidade do escudo antimísseis que Washington pretende instalar no Leste Europeu.
O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, já defendeu abertamente a destruição do Estado judaico, mas, assim como as outras lideranças iranianas, afirma que o programa de enriquecimento de urânio visa produzir combustível para abastecer as usinas nucleares de produção de energia.
No final deste mês, deve ocorrer uma nova rodada das negociações sobre o programa nuclear iraniano entre Teerã e os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha.
Com agências internacionais