por Paulo Mendonça
Com a divulgação das primeiras fotos do primeiro de dois submarinos encomendados pela marinha portuguesa aos estaleiros alemães HDW, ficaram esclarecidas as dúvidas que alguns ainda se colocavam sobre o submarino U209PNA referência de modelo utilizada em Portugal para designar o submarino escolhido pela marinha portuguesa para substituir os quatro vetustos submarinos franceses da classe Daphné comprados no final dos anos 60 e dos quais ainda se mantém um em serviço.
Antecedentes da aquisição
O processo de aquisição de submarinos por parte da marinha portuguesa arrastou-se ao longo de muitos anos. Os submarinos Daphné, já eram claramente obsoletos desde os anos 80, e a sua substituição começou a ser estudada no final dos anos 90, ainda durante o governo de António Guterres. Em 1998, o Ministério da Defesa, começou a solicitar informações ao mercado, tendo em vista a substituição da esquadra de quatro submarinos Scorpene, reduzida a três unidades após 1974.
Desde 1998, que duas empresas se destacaram. A francesa DCN e a alemã HDW [1], tendo sido recusadas outras propostas, como a holandesa e britânica.O processo de decisão arrastou-se durante cinco longos anos, sem que qualquer decisão tivesse sido tomada, e com a obsolescência dos navios e o seu envelhecimento, a por em causa a continuação da arma submarina na marinha portuguesa [2].
Em 2003, é finalmente tomada uma decisão sendo, no entanto, reduzido o numero de navios a adquirir de três [3] para apenas dois e de entre os dois modelos em apreciação, a marinha portuguesa optou pelo modelo alemão, preterindo o modelo francês.
A decisão, como é normal nestes casos, esteve envolvida em polêmica. Não por razões técnicas, mas por razões processuais, sendo o governo português acusado pela empresa francesa DCN de ter mudado as regras do concurso de forma ilegal, aceitando a apresentação à última hora, de um novo modelo de submarino por parte dos alemães da HDW, o submarino modelo U-214.
A questão chegou ao Supremo Tribunal Administrativo, que deu razão ao governo português.
O submarino português seria chamado de U-209 (porque tinha sido o U-209 o modelo apresentado desde o inicio do concurso pelos alemães), mas seria chamado de U-209PN (Marinha Portuguesa).
U-209PN: Um U214 disfarçado
Este estranho nome, que foi ridicularizado internacionalmente e apelidado de (U-214 in disguise, ou U-214 disfarçado) foi a consequência que ficou do concurso internacional e das circunstâncias em que este decorreu, com a apresentação por parte da HDW do modelo U-214, quando segundo a imprensa portuguesa se tinha tornado evidente que o anterior modelo alemão U-209 estava condenado a perder o concurso.
E é com esta designação «curiosa» que foram recentemente divulgadas na Internet, as primeiras fotos dos futuros submarinos da marinha portuguesa.As fotos divulgadas num site da internet dedicado a questões navais, deixam poucas dúvidas, e apenas confirmam aquilo que neste site foi já publicado e referido por diversas vezes.
Não há, nem nunca houve um submarino U-209PN!
O futuro submarino da marinha de guerra portuguesa é o submarino alemão modelo U-214!Quando tentamos efectuar comparações entre o modelo U-214 (e quando falamos de U-214, referimo-nos ao futuro submarino da marinha), notamos que as suas características e o seu sistema de propulsão independente do ar – um sistema que se está a tornar comum entre muitas marinhas do mundo – pode-se concluir que o U-214 parece ser mais sofisticado e mais adequado às necessidades do país que o concorrente francês que foi derrotado.
No entanto, existem referências na imprensa, afirmando que os primeiros submarinos do tipo U-214 da Grécia, apresentaram vários problemas, cuja solução – segundo fontes gregas – se apresenta até ao momento difícil.
Será necessário ter em atenção o que se passa com os submarinos U-214 da Grécia. As informações são contraditórias, e a existência de problemas com um modelo de navio que acaba de ser lançado [4] não é de forma alguma incomum, mas não pode deixar de ser razão de preocupação e vistoria por parte da opinião pública.
No entanto, não se pode deixar de esperar que na marinha, haja algum prurido em falar desta questão ou referi-la como sendo um eventual problema que poderá afetar os navios portugueses.
Em primeiro lugar, a Marinha não pode afirmar claramente que o submarino que acabou de comprar é de facto um U-214 (como as fotos colocadas online provam, e como as próprias maquetas da marinha já indicavam), pois isso pode ter implicações. Aliás, chegou-se mesmo ao ridículo de enviar a Kiel uma equipa da emissora de televisão pública RTP, para passear num navio U-209 vendido para a África do Sul.
Além disso, a marinha terá interesse em tentar afastar-se dos problemas do U-214 da Grécia (no caso de tais problemas se confirmarem), porque a questão dos submarinos é normalmente utilizada em Portugal como arma de arremesso político, normalmente por jornalistas cuja informação sobre temas militares é bastante pior que a de um «miúdo de dez anos».
Receando a desonestidade que é comum na vida política portuguesa e temendo ser vítima de jogos políticos, a Marinha de Guerra Portuguesa vai enfrentar problemas.
Por razões políticas e invejas pessoais, a Marinha corre o risco de se transformar no bombo da festa, onde os intervenientes não terão o mínimo escrúpulo em tentar ridicularizar aquela que é uma aquisição estratégica de importância primordial, para que Portugal possa garantir a réstia de soberania que ainda lhe resta sobre as águas do triangulo estratégico Continente-Madeira-Açores.
Contra a Má-Fé que normalmente move grande parte da classe política portuguesa, muito mais preocupada com os seus pequenos escândalos, as suas pequenas corrupções e os seus interesses mesquinhos, a marinha está relativamente desprotegida.
Numa altura em que se aproximam eleições, eventuais problemas com o desenvolvimento dos submarinos U-214 serão sem dúvida utilizados para ganhar votos, destruir personalidades, acusar opositores políticos, enfim, para a tradicional lavagem de roupa suja, típica de uma classe política conhecida e reconhecida pela sua falta de qualidade e de moral.
Aproximam-se tempos difíceis e a facilidade com que a classe política e parte dos jornalistas deste país distorcem a realidade para criar fatos políticos que vendam jornais, ameaça afetar, senão por em causa, uma das mais estratégicas aquisições das forças armadas portuguesas.
E se não se conseguir por em causa a aquisição dos submarinos, vai-se colocar em causa a aquisição de qualquer sistema de armas.
Afinal, num país que parece querer habituar-se a viver do trabalho e do dinheiro dos outros, esquecendo que ser independente tem os seus custos, para que havemos de ter Forças Armadas, se temos a Espanha para nos defender ?
[1] - Qualquer destas empresas é apenas a «cabeça» de um consórcio que pretende responder completamente os requisitos de cada marinha, pelo que todos os submarinos, mesmo que do mesmo tipo acabam por ser diferentes
[2] – Os submarinos portugueses, são a única arma naval realmente dissuasora a que o país pode aspirar. O fato de estar protegido pelas águas, não sendo conhecida a sua posição, aliado à possibilidade de poder atacar alvos navais valiosos, desencoraja a violação das águas territoriais e da ZEE do país.
[3] – Inicialmente a esquadrilha de submarinos do tipo Daphné era constituída por 4 unidades
[4] – Também o modelo Scorpene francês apresentou vários problemas no seu primeiro modelo, vendido para o Chile.