EDITORIAL
Logo após a realização dos testes com nove mísseis de médio e longo alcance (e antes de saber que as fotografias do foguetório foram "maquiadas") pela Guarda Revolucionária do Irã, na terça-feira, o secretário da Defesa Robert Gates viu-se na obrigação de declarar - para tranqüilizar os países da região e o mercado do petróleo - que os Estados Unidos não pensam em um confronto armado com Teerã.
Afirmou, no entanto, que os testes provam que o Irã é uma ameaça, o que justificaria a instalação de um sistema de defesa antimísseis na Europa Oriental. O comandante da Guarda Revolucionária iraniana, por sua vez, explicou que o objetivo dos testes foi "mostrar que estamos prontos para defender a integridade da nação iraniana. Advertimos os inimigos que tentam nos ameaçar com exercícios militares e operações psicológicas sem sentido de que nossos dedos sempre estarão no gatilho e nossos mísseis, prontos".
Referia-se o general Hossein Salami à grande manobra, envolvendo cem aviões, que Israel fez, há um mês, no Mediterrâneo, e que foi apresentada como um exercício para um eventual ataque às instalações nucleares do Irã; às manobras iniciadas na véspera do lançamento dos mísseis pelas marinhas dos EUA, do Reino Unido e de Bahrein, no Golfo Pérsico; e à assinatura, também no dia anterior, do acordo entre os EUA e a República Checa para a construção de um sistema na Europa Oriental para interceptar mísseis intercontinentais lançados pelo Irã e pela Coréia do Norte.
Dedos no gatilho e Forças Armadas mobilizadas em zona de conflito podem levar a guerras indesejadas. O Irã é, de fato, um país que precisa ser contido. É uma ameaça constante e declarada a Israel, financia e arma grupos terroristas no Oriente Médio, sustenta facções na guerra que se trava no Iraque entre seitas islâmicas e entre estas e as tropas ocidentais de ocupação e desenvolve um programa nuclear que pode resultar na construção da bomba atômica. Mas nenhuma dessas ameaças pode ser conjurada, neste momento, pelo emprego de força militar.
Há cerca de um ano, militares que trabalharam no planejamento de uma ação para, eventualmente, destruir as instalações nucleares iranianas, vazaram informações que davam conta de que aquele objetivo não poderia ser alcançado apenas com ataques aéreos, sendo necessária a invasão do Irã por tropas terrestres - e que os Estados Unidos e seus aliados não dispunham de recursos humanos e materiais para concluir a missão com um número considerado aceitável de baixas.
Assim, resta ao Ocidente continuar mantendo a pressão política sobre o Irã. Enquanto perdurar em Teerã o regime dos aiatolás, é altamente improvável que cesse o patrocínio iraniano aos grupos terroristas e às facções no Iraque. Mas o Irã pode eventualmente ser levado, por meio de negociações, a abandonar o seu programa nuclear.
É o que está ocorrendo, por exemplo, com a Coréia do Norte, cujo programa atômico é muito mais avançado do que o iraniano. Desde 2005, em negociações com um grupo de seis países, Pyongyang comprometeu-se em três ocasiões a interromper seu programa nuclear, em troca de ajuda energética, financeira e alimentar, privilégios comerciais e o fim do isolamento político do país. Não cumpriu aquelas promessas, mas, agora, o governo de Kim Jong-il, finalmente, está entregando aos negociadores um inventário de suas atividades nucleares, comprometeu-se a não exportar tecnologia e, num gesto simbólico, explodiu a chaminé do reator de Yongbyon.
Resultados parecidos podem ser obtidos no Irã - é claro que com muito trabalho para vencer as desconfianças de parte a parte. Estão em curso negociações entre Teerã e um grupo de seis países, liderados pela União Européia, e o esquema básico das conversações é idêntico ao que está dando resultado na Coréia do Norte. Em resumo, o Irã abandona um programa de desenvolvimento tecnológico que pode levar à posse da bomba atômica e se compromete a respeitar o regime de não-proliferação e, em troca, o Ocidente garante o fornecimento firme de combustível nuclear para fins pacíficos, suspende algumas das sanções econômicas que estrangulam o crescimento do país e afrouxa o seu isolamento político. É, para todos, uma alternativa melhor que a guerra.