Ao testar armamentos capazes de atingir Israel e parte da Europa, Teerã promete resposta “severa e séria” a um ataque. Candidatos à presidência dos Estados Unidos criticam postura do governo Bush
Pedro Paulo Rezende
A Guarda Revolucionária Islâmica do Irã (GRII) realizou um lançamento simultâneo de nove mísseis e foguetes balísticos, inclusive um Shahab-3, de tecnologia norte-coreana, capaz de atingir Israel e parte da Europa. O comandante da Força Aérea, general de brigada Hossein Salami, disse que a demonstração foi “uma pequena prova de nosso potencial militar. Estamos prontos a defender os interesses nacionais e a soberania. A resposta a qualquer ataque será severa e séria.” Segundo Salami, “os alvos inimigos estão sob constante vigilância e nossos mísseis estão prontos para serem disparados sem qualquer aviso prévio. As Forças Armadas do Irã podem retaliar qualquer ataque de maneira rápida e precisa. Damos um aviso aos inimigos: manobras militares e táticas psicológicas vazias não nos amedrontam. Mantemos o dedo no gatilho”.
O objetivo do exercício “foi reforçar a autoconfiança nacional e enviar uma mensagem clara aos nossos adversários: “Não blefem”, destacou o general. “Atingimos nossas metas. Disparamos simultaneamente contra nove alvos, cobrindo distâncias diferentes”. De acordo com o comandante da Força Aérea, o Irã tem a capacidade de fechar o Estreito de Ormuz, rota estratégica por onde passa cerca de metade da produção mundial de petróleo. Além do Shahab-3, foram usados mísseis Zelzal-2 — criados a partir do velho foguete balístico soviético FROG-7, desenvolvido na década de 1960 — e Fat`h, capazes de atingir alvos a 400km e 170km, respectivamente, o que coloca todas as instalações norte-americanas no Iraque na mira do regime de Teerã.
Segundo fontes israelenses, os Fat`h foram empregados pela milícia fundamentalista Hezbollah para bombardear Haifa na última invasão do Líbano. A manobra realizada ontem foi uma resposta clara a um exercício militar promovido pela Força Aérea do Estado hebraico. Segundo o jornal norte-americano The New York Times, há duas semanas Israel simulou uma operação de ataque contra instalações atômicas iranianas. Os testes de Teerã servem como advertência contra qualquer aventura militar ocidental que vise o programa de enriquecimento de urânio do país. Supostamente o único país do Oriente Médio a ter armas nucleares, Israel prometeu impedir que o regime islâmico desenvolva uma bomba atômica.
Reações
Em visita à Bulgária, a secretária norte-americana de Estado, Condoleezza Rice, sugeriu que os testes justificavam os planos dos EUA de construir um escudo antimíssil, projeto que sofre oposição russa. O subsecretário William Burns, ressaltou, durante audiência no Congresso, que o governo do presidente George W. Bush interpreta o uso da força contra o Irã “como uma opção que está na mesa, mas como último recurso”.
Os candidatos para as eleições presidenciais de novembro nos EUA aproveitaram a oportunidade para colocar suas propostas sobre o Oriente Médio. O democrata Barack Obama criticou a postura do atual governo nas negociações com Teerã: “Deixamos a diplomacia nas mãos dos europeus e devemos nos comprometer ativamente. Durante os anos de Bush, as exportações americanas para o Irã aumentaram e isso é um erro porque envia mensagens contraditórias”. John McCain, candidato republicano, disse que os testes são uma demonstração da “necessidade da construção de um sistema de defesa antimísseis eficaz, agora e no futuro”.
Pesadelo militar
Um ataque israelense ou dos Estados Unidos ao Irã mergulharia o Oriente Médio no caos. Não se sabe quantos mísseis balísticos estão sob controle dos aiatolás, mas boa parte do Iraque e da Arábia Saudita se encontra no alcance de foguetes não guiados. Pouco sofisticados, esses armamentos infligiram sérios danos, físicos e psicológicos, a cidades de Israel na invasão de 2006 — apesar do sofisticado escudo antimíssil montado pelo Estado hebraico. Essas armas estratégicas formam apenas parte do aparato que seria usado contra qualquer invasor. A resposta mais provável seria dissimilar, com atentados de vulto em cidades européias e norte-americanas.
Além disso, a Guarda Revolucionária Islâmica do Irã criou táticas de guerrilha eficientes contra unidades navais de grande porte, segundo avaliação da Marinha do Estados Unidos. Usando lanchas rápidas, vindas de diversas direções, sobrecarregam os sistemas de bordo dos navios ocidentais, desenhados para combates convencionais e pouco adequados ao Golfo Pérsico. Em recente exercício promovido pelo Pentágono, os atacantes, usando métodos similares, atravessaram as defesas da esquadra. Os resultados foram tão evidentes que a construção de um barco adequado a operações costeiras foi acelerada.
Os poderosos porta-aviões, num ambiente tão hostil, possuem pouca capacidade de manobra e são extremamente vulneráveis a mísseis antinavios lançados de terra. O arsenal nuclear de Israel causaria sérias perdas aos iranianos, mas qualquer invasor enfrentaria um terreno montanhoso feito sob medida para guerrilha. Um pesadelo militar sob qualquer aspecto. (PPR)
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