Uma invenção brasileira que substitui tecidos como a pele desperta o interesse do Exército dos EUA
‘‘Estimamos que nosso produto custará 20% do tratamento com ataduras’’
(GERARDO MENDOZA, presidente da Bionext)
O maior desafio para um inventor é tornar sua criação viável em escala industrial, fazendo com que ela chegue ao mercado por um preço acessível. Na área da biotecnologia, onde os processos de regulação são lentos e rigorosos, conseguir transformar uma idéia em produto final é ainda mais difícil.
Mas não é impossível. Um exemplo bem-sucedido é o da Bionext. A empresa brasileira criou e patenteou um processo de fabricação de substitutos artificiais para tecidos humanos a partir de biocelulose bacteriana. Em maio, a Bionext ganhou o prêmio de melhor apresentação entre as cem participantes de um fórum em São Francisco, nos Estados Unidos. No “2008 Life Science Venture Forum”, empresas promissoras do ramo da biotecnologia mostram o que podem fazer diante de quem pode financiá-las, os investidores de capital de risco.
No caso da Bionext, oito fundos de investimento e quatro multinacionais mostraram interesse em bancar futuras pesquisas. “Se não tivéssemos participado do evento, levaríamos pelo menos dois anos para fazer os contatos que fizemos em uma semana”, afirma o sócio-presidente, Gerardo Mendoza.
Para fabricar o substituto da pele humana, a empresa usa a cepa de uma bactéria selecionada. Ela dá início a uma reação que fabrica o tecido biológico. “A celulose bacteriana já é conhecida há décadas. O que nós fizemos foi criar um processo industrial que padronizou a qualidade e nos permitiu dar o formato e a textura que quiséssemos ao material”, afirma o engenheiro Fernando Levy. A vantagem dessa invenção sobre os curativos comuns é que o tecido artificial não precisa ser substituído.
“Estimamos que, no final do processo, nosso produto custe 20% do tratamento com ataduras comuns”, diz Gerardo. Uma folha medindo 10 centímetros por 7,5 centímetros, que pode ser usada em cortes e queimaduras, sai por R$ 15.
Na feira em São Francisco, a Bionext apresentou quatro novos produtos ainda em fase de desenvolvimento. Um deles chamou a atenção de uma representante do setor de pesquisa de lesões cerebrais graves do Exército dos EUA. O Duranext é um substituto para a última camada do tecido que recobre o cérebro humano, chamada dura-máter. Quando o crânio se abre, como no caso de um acidente, essa meninge elástica se rompe e é praticamente impossível fazê-la voltar a recobrir o cérebro por completo. O Duranext entra para completar a parte que falta.
Outra novidade que chamou a atenção no evento foi o Biostent, para procedimentos médicos como o cateterismo (um exame invasivo feito para diagnosticar ou corrigir problemas cardiovasculares) e a angioplastia (técnica que utiliza um balão microscópico para desobstruir uma artéria). Ainda na fase de estudos estão o Orthonext, para repor ossos e cartilagens, e o Veinext, um substituto artificial para veias.
Os novos produtos fazem com que os sócios se animem quanto ao futuro. Com uma fábrica em São José dos Pinhais, no Paraná, a Bionext espera aumentar seu faturamento gradualmente até chegar a R$ 180 milhões em 2018. Em breve, uma versão do curativo Bionext estará disponível nas farmácias.
Será que veremos o desenvolvimento brasileiro de novas tecnologias ir parar nas mãos de estrangeiros? Mais especificamente, nas mãos dos norte-americanos? O que falta pra o governo brasileiro apoiar as pesquisas de ponta feitas no país? Por quê não é o Exército brasileiro a se interessar por essa nova tecnologia 100% nacional? Isso é uma vergonha!
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