Venezuela, Guiana, Suriname, Chile e Argentina completariam a organização supranacional
Juliana Anselmo da Rocha
O presidente da Bolívia, Evo Morales, confirmou sua adesão à proposta brasileira para a criação de uma organização supranacional de caráter militar na América do Sul. Os detalhes da proposta serão discutidos em reunião sexta-feira, em Brasília. Além de Brasil e Bolívia, já manifestaram interesse em participar do Conselho de Defesa da América do Sul Venezuela, Guiana, Suriname, Chile e Argentina.
– Conversei com todos os líderes regionais e encontrei posições favoráveis à instituição. Alguns estão mais entusiasmados, mas existe uma uniformidade de pensamento quanto à criação do conselho – declarou Jobim, depois de encontrar-se com Morales, na segunda-feira, em La Paz.
A pretensão é de que a organização inicie seus trabalhos em julho. Além de estruturar e executar uma política de defesa sul-americana e unificar o discurso dos países da região em fóruns internacionais sobre segurança, orquestraria a construção de um parque industrial comum para produção de equipamentos para as Forças Armadas e outros insumos para o setor de defesa.
– A criação do Conselho de Defesa da América do Sul está inserida no escopo da política externa brasileira, que visa ao fortalecimento da liderança do país na região – ressaltou Reginaldo Nasser, professor da PUC-SP e membro da diretoria executiva da Associação Brasileira de Relações Internacionais.
– Não está necessariamente relacionada com o controle das ambições de Hugo Chávez e Morales no continente. Só que o conceito de defesa hoje é mais amplo, incluindo o combate ao crime organizado e ao narcotráfico, que tem alcance transnacional.
Jobim garantiu que essa não será uma aliança militar, mas "uma ferramenta para lidar com uma variedade de questões de segurança" na América do Sul. Temas como a preservação conjunta dos recursos naturais e meio ambiente também seriam tratados pelo conselho.
José Luiz Niemeyer, coordenador do curso de Relações Internacionais do Ibmec-RJ, acredita ser essa uma reformulação na estratégia brasileira para conquista de uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU. O cientista político lembra que esse é um desejo antigo, presente na agenda do Itamaraty e da Presidência desde os governos de Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso.
– É difícil ampliar o número de participantes porque isso movimenta o xadrez da geopolítica mundial. Hoje, o mundo está em transformação: ainda não está claro se os EUA se manterão como uma superpotência capaz de determinar os rumos globais, ou se assistimos à emergência de uma bipolaridade com a União Européia ou mesmo de uma triangulação com a China e o Japão – explicou Niemeyer.
Para o estudioso, o conselho, por enquanto, permanece como "uma questão de retórica".
– Se não conseguimos avançar na união aduaneira do Mercosul, imagine as dificuldades de uma estratégia de defesa única, tema que no limite se refere à sobrevivência dos Estados soberanos – conclui.
A idéia para a criação do conselho partiu do presidente Chávez, da Venezuela. Foi reavivada por Luiz Inácio Lula da Silva depois da crise desencadeada pelo ataque militar colombiano em território equatoriano em 1º de março.
Bolívia apóia a proposta brasileira
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