Grupo de 1,2 mil militares brasileiros da Região Amazônica embarca a partir de maio para patrulhar o país, que atravessa grave crise
Fernanda Odilla
Enviada Especial
Marabá (PA) — A partir do próximo mês, militares brasileiros vão trocar os exercícios de combate e defesa na floresta tropical por uma selva de pedra, sem infra-estrutura e com muita miséria. Um novo grupo de 1,2 mil militares embarca para o Haiti para compor as tropas de paz da Organização das Nações Unidas (ONU). Pela primeira vez, o contingente será composto por soldados e oficiais que atuam na Região Amazônica. A tarefa não será fácil, já que o país caribenho atravessa seu momento mais crítico desde a queda do presidente Jean-Bretrand Aristide, em 2004. O aumento dos preços causado pela oferta limitada de alimentos deflagrou uma revolta que, na semana passada, matou pelo menos oito pessoas e derrubou o primeiro-ministro Jacques Edouard Alexis.
A Amazônia ainda não havia contribuído com nenhum dos oito contingentes que embarcaram para o Haiti. “Evitava-se mandar soldados para não desfalcar uma área com muitas demandas reais, em especial o trabalho feito nas fronteiras”, explica o comandante da Amazônia, general Augusto Heleno Ribeiro Pereira. “Mas chegamos à conclusão que, para motivar e treinar a tropa, vale a pena”, completa o general, que comandou o primeiro contingente da Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (Minustah), entre 2004 e 2005. O Brasil continua à frente das operações militares em território haitiano.
A tropa brasileira embarca nos dias 18 de maio e 5 de junho. Serão 150 homens da Companhia de Engenharia do Exército, 215 fuzileiros navais e 840 militares de batalhões de Marabá, Belém e Manaus. O Brasil, contudo, não conseguiu atender a ONU para aumentar o número de militares da área de engenharia de 150 para 250 homens. O próprio ministro da Defesa, Nelson Jobim, defendeu o acréscimo de militares para ajudar na reconstrução.
O Exército informa que o aumento do número de engenheiros precisa ser aprovado pelo Congresso, que tem de reconhecer e votar a mudança da finalidade da missão, hoje dedicada à manutenção da paz. Desde 2004, o Brasil gasta R$ 130 milhões para manter dois contingentes por ano no Haiti, responsáveis por ações de patrulha, combate e humanitárias.
Escuro “São seis meses de preparação específica, com simulações e reproduções do que se pode enfrentar durante os outros seis meses em que participarão da missão. Nossos homens vão passar dois dias fazendo a segurança do prefeito de Marabá, já que no Haiti serão responsáveis pela proteção do presidente”, explica o general José Wellington Castro Ferreira Gomes, comandante da 23ª Brigada de Infantaria da Selva, encarregado do treinamento dos militares em Marabá. O grupo aprende também noções de direito internacional, direitos humanos e do idioma local, o creole.
“A ação no Haiti evoluiu muito. O primeiro contingente foi praticamente no escuro”, recorda o general Heleno, que na semana passada fez questão de motivar os militares que marchavam no pátio da 23ª Brigada, em Marabá. “Diferentemente do primeiro contingente, que atirava mais, agora vamos ajudar a população. Mas não podemos nos descuidar porque a situação lá é absolutamente instável”, explica o tenente Washington Amador, de 27 anos, ansioso para o dia do embarque. Ele vai sair do Brasil pela primeira vez. Será responsável por comandar 30 homens e, segundo ele, colocar em prática tudo que aprendeu até hoje no Exército.
A repórter viajou a convite do Exército Brasileiro