Claudio Dantas Sequeira
Moscou ofereceu ao ministro extraordinário de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, uma parceria entre sua pasta e o Conselho de Segurança russo — máxima instância do Kremlin. Mangabeira revelou ao Correio que o documento com o acordo bilateral de alto nível lhe foi entregue durante recente viagem à Rússia. Ou seja: o resultado mais concreto da visita do início de fevereiro permaneceu em sigilo por quase um mês. Nem o presidente Lula sabia, já que ele e Mangabeira não tiveram chance de se encontrar nas últimas semanas, por problemas de agenda. Ontem, ele finalmente apresentou a proposta a Lula, que a aprovou de imediato.
O texto do acordo prevê a comunicação direta e permanente entre Mangabeira e o secretário do Conselho de Segurança do Kremlin, cargo ocupado por Vladimir Putin até 2000. Igor Ivanov o substituiu interinamente, e funcionários do governo acreditam que Putin reassumirá o posto ao deixar a presidência. A parceria entre autoridades de primeiro escalão é inédita, e concede à pasta de Mangabeira status superior ao dos demais ministérios, ao menos do ponto de vista externo. A virtual projeção de poder não ilude Mangabeira. “Esse acordo não substitui a comissão técnica Brasil-Rússia, é complementar”, afirmou. Para ele, a oferta russa demonstra o potencial da relação.
“É um claro sinal de vontade política. Caberá a nós preencher esse espaço de idéias”, avisou. O ministro comentou com a reportagem que uma delegação russa deve vir a Brasília ainda no primeiro semestre do ano. Na mesa de negociações, ganha força a colaboração nos planos civil e militar.
Na área de defesa, está “o desenvolvimento de um protótipo de um caça de 5ª geração”, o chamado PAK-FA T-50. “Teremos muito a ganhar em termos de capacitação e aprendizagem”, disse. Mangabeira também cita a cooperação espacial para veículos lançadores e na operação de satélites geoestacionários. “São as áreas mais promissoras”, acredita. Ele destaca ainda a parceria num novo modelo de ensino médio, transferência de tecnologia não-controlada para pequenas empresas e projetos de geração hidrelétrica.
Na Rússia, Mangabeira se reuniu com assessores do presidente eleito Dmitri Medvedev, até então diretor do Projeto Nacional de Desenvolvimento, uma espécie de PAC russo.
Venezuela
Em meio à crise entre Colômbia, Equador e Venezuela por conta das Farc, Mangabeira desembarca hoje em Caracas para uma visita de dois dias. Ele vai discutir o “projeto alternativo de desenvolvimento”. Terá encontros com os ministros venezuelanos de Educação Básica e Superior; com o responsável pela pasta do Planejamento, e será recebido por Hugo Chávez. “Esse modelo deve ser o coração da União Sul-americana”, arrisca.O ministro acredita num debate de alto nível, e aproveitará a reunião com Chávez para reduzir a tensão regional — a pedido de Lula. Ele leva consigo o exemplo da União Européia. “A UE foi erguida sobre dois marcos: a paz perpétua, para encerrar um século de guerras, e um modelo alternativo de desenvolvimento, a social-democracia, que apesar dos defeitos segue válida”.