ELIANE CANTANHÊDE - ENVIADA ESPECIAL A TOULON
Um dia após o presidente Lula e cinco ministros terem decidido manter o corte de gastos de R$ 20 bilhões devido ao fim da CPMF, o ministro Nelson Jobim disse ontem que o programa do submarino de propulsão nuclear está mantido. "Já está tudo combinado. Ninguém vai mexer no programa e nos R$ 130 milhões deste ano", disse Jobim em visita à Esquadrilha de Submarinos Nucleares de Ataque, em Toulon. O ministro e o futuro comandante do Estado-Maior da Marinha da França, Pierre-François Forrissier, entraram num dos seis submarinos da classe Rubi da frota, o Saphire.
O orçamento do programa do submarino brasileiro é de cerca de R$ 1 bilhão, com desembolsos anuais de R$ 130 milhões e a previsão de uso da tecnologia francesa para a produção dos cascos e do "recheio cibernético". O Brasil já detém a tecnologia de propulsão nuclear. A Folha teve acesso à base de Toulon e entrou num submarino da classe Rubi, que é bem menor e considerado muito mais ágil que os americanos, projetados para lançar mísseis intercontinentais. Os franceses podem transportar 75 homens, a uma velocidade de 25 nós. Levam 14 torpedos ou mísseis.
Os submarinos da classe Rubi emergem após 60 dias só para descanso dos tripulantes e reabastecimento de comida, pois, ao contrário dos submarinos diesel-elétricos, que precisam voltar à superfície, podem permanecer meses sob a água.
A jornalista Eliane Cantanhêde viajou num avião da FAB de Paris a Toulon, acompanhando a comitiva do Ministério da Defesa.
De dentro do navio
Os submarinos de propulsão nuclear de ataque dos EUA são grandes e vocacionados para disparar mísseis balísticos contra alvos em terra - cidades, inclusive.Já os da França, construídos pela DCNS, que tem participação estatal, são considerados menores e mais ágeis, podendo disparar tanto torpedos (por baixo d'água) quanto mísseis (para fora) em alvos no mar.
Seriam, portanto, mais adequados ao sonho brasileiro de ter submarinos de propulsão nuclear para vigiar sua imensa costa.
É outra boa desculpa para o governo Lula e o ministro Nelson Jobim darem as costas aos EUA e acertarem "aliança estratégica" com a França, acompanhada oportunamente de pesadas vendas francesas, compras brasileiras e futuras empresas binacionais de defesa.
Ontem, Jobim desceu com seu corpanzil num exemplar da Esquadrilha de Submarinos Nucleares de Ataque, em Toulon. E lá fui eu atrás conhecer também um submarino francês. A escada é estreita e na vertical, os leitos parecem catre de prisão, os corredores são mínimos. Ou seja, conforto zero.
Mas, do ponto de vista de tecnologia, o submarino é um show, conforme explicou um oficial francês, apontando para os sonares, a tela que define o alvo, o funil que dispara mísseis ou torpedos.
Jobim e oficiais do Brasil gostaram do que viram, especialmente o comandante da Marinha, almirante Júlio Soares de Moura Neto, que tem uma idéia fixa: o submarino de propulsão nuclear brasileiro, que se arrasta desde 1979 e, aparentemente, agora vai zarpar.
Enquanto o Brasil vai, a França já foi e já voltou. O primeiro submarino brasileiro não sai antes de 2020. E em 2017 os franceses já começarão a substituir a classe Rubi pelos Barracuda, de novíssima geração.
Aliás, isso é algo que o Brasil também pretende aprender com a França: planejamento. Algo que, definitivamente, nunca houve. Nem na defesa, nem no resto.