As vendas à China de grandes quantidades de equipamentos militares fabricados na Rússia, que atingiram o auge durante o período de desintegração da antiga União Soviética, poderá ter chegado ao fim.
As afirmações de funcionários ligados ao sector militar industrial da Rússia, parecem mostrar da parte russa um aumento na desconfiança relativamente aos chineses e o sentimento poderá ser recíproco.
Algumas das principais fábricas da antiga União Soviética sobreviveram durante os anos 90, mercê das compras efetuadas pela China, especialmente no campo dos equipamentos aeronáuticos mas também no que respeita a equipamentos navais, submarinos, fragatas e contratorpedeiros.
Se a industria da Rússia tem capacidade para desenhar e conceber equipamentos militares, os russos reconhecem que a sua capacidade para concretizar e converter em sistemas vendáveis as suas idéias e projetos não é um ponto em favor dos equipamentos russos.
A Rússia continua a ter problemas no que se pode chamar de apoio e serviço pós venda aos seus clientes de equipamentos militares.
Grande parte dos sistemas russos é feito para permitir uma manutenção básica simples, mas nada mais que isso, já que os sistemas militares produzidos nos anos 70 e 80 foram projetados para um curto período de vida, o que tornava inútil quer uma maior sofisticação quer uma manutenção destinada a prolongar o período de vida útil.
Os chineses lançaram-se desde meados dos anos 90 na compra de sistemas de origem russa, e parecem ter chegado a uma fase em que estão em condições de se tornar relativamente independentes dos russos.
Esta independência decorre da capacidade chinesa para copiar e construir por engenharia reversa os equipamentos adquiridos noutros países.
Esta cópia pura e simples dos sistemas russos, fabricando motores de aeronaves que alegadamente são de concepção chinesa, mas que na realidade são cópias dos sistemas russos parece estar a colocar entraves a novas vendas de sistemas eletrônicos e de alta tecnologia russa para a China.
As questões parecem acumular-se e a China não gostou quando a Rússia proibiu o fornecimento de motores para o caça FC-1 de exportação para o Paquistão.
A Rússia foi sensível aos protestos da Índia, o seu outro grande mercado de exportação de equipamentos militares e pressionou a China para que não vendesse de imediato os motores.
Casos como o dos motores AL-
O motor WS-10A, segundo várias fontes ocidentais, não é nada mais que uma cópia melhorada em alguns aspectos do motor AL-
Ao declarar que os novos motores são desenvolvimentos da indústria chinesa, a China pode vender os motores e as aeronaves que os utilizam, sem ter que depender da autorização russa.
Presentemente, este e outros problemas do mesmo tipo levaram a que o volume de exportações russas para a China tenha chegado ao seu ponto mais baixo em muitos anos. A Rússia está a analisar que tipo de sistemas pode ou não pode vender para a China e quais correrão mais risco de serem pura e simplesmente copiados sem apelo nem agravo pelos chineses.
Se por um lado os russos parecem estar a considerar as implicações das vendas indiscriminadas de artigos de alta tecnologia para um país que não vai respeitar qualquer direito de patente, por outro lado os chineses, parecem pretender mostrar o seu desagrado pelas relações de preferência que se estabeleceram entre a Índia e a Rússia.
A possibilidade de redução nas vendas e as dificuldades que se vêm acumulando também no que respeita ao mercado da Índia - cada vez mais exigente - parecem estar a levar a indústria russa a tentar encontrar outros mercados. A África e a América do Sul poderão ser os mercados preferenciais das indústrias russas e se o mercado africano é extremamente limitado, o mercado sul americano poderá ser bastante mais interessante.